sexta-feira, 24 de julho de 2009

Júlia e o seu destino


Minha Júlia,

Escrevo-te, para aliviar a pressão. Sei o quanto gostas de me ler. Fazes sempre parte das minhas letras, e não evito. Por isso queres tudo o que flui destas mãos. Tens razão em querer.

Vejo-te sentada no sofá. Tão tarde e ainda aí. Nunca foste de deitar cedo. Nem com ele. Vejo-te no sofá. A televisão em qualquer canal. Os lábios grudados na xícara de café vazia desde que a novela acabou. E lá se vai mais de uma hora.

Sei que estás sozinha e não queres ler nada triste. Nada é triste. Nem mesmo esse teu resto de café frio. Percebes? Tenho-te sentada no sofá, esperando o próximo programa antes de ir para a cama. Tenho teu medo de dormir. Não é triste. É só bonito.

Se pudesse, acariciaria teus cabelos. Gosto de ti assim. É preciso te observar de perto. Espremer os olhos para ver. As coisas te acontecem quase no tempo do não acontecer. Tua vida vai como um jazz. És tão melodiosa. Distorces, porém nunca, Júlia, destoas.

Não, isso não é ruim. Não balance a cabeça. Não me repreendas como farias ao teu velho pai. Não és de forma alguma monótona, minha Júlia. Já ouviste um jazz? Não franze tua testa. Escrevo-te para aliviar a pressão. Não para colocar-te em sobressalto. Para ti, quero somente paz.

Escrevo-te, Júlia, e é tão bom. Gosto do ritmo em que as coisas se dão. Teu ritmo é maior do que eu. Escrevo-te, mas teu ritmo veio pronto. Deleito-me, embora te enfureças, às vezes. Tu és, Júlia, mas entendo que não te enxergues.

Vê, ao menos, quantas histórias já temos. São todas as histórias de Júlia. Sorri. Não és triste. Nem serás. Eu prometo. No que depender de mim.

Amor,

A.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

O retorno do "far west"

Almiro Zago

Será que o ser humano não presta? Tão dura e pessimista ideia, assim como está escrita, ou em brandos termos posta, ene vezes escutei, ainda quando, inocente ou ignorante, sequer compreendesse o seu significado.

E, certamente, não eram as vozes de filósofos discutindo se o homem é bom ou mau por natureza.

Ao correr da vida, não poucas vezes, vi-me surpreendido a refletir sobre o tema, e meu lado otimista levando a melhor. Porém, a cada vinco no rosto e a cada fio de cabelo que se vai, o pessimismo vem ganhando posições, e nem sei até onde minha resistência chegará.

Essas reflexões vêm reaparecendo a propósito, e não só por isso, das notícias de que a Coreia do Norte, detentora da bomba atômica, está a desenvolver e a disparar foguetes capazes de conduzir ogivas nucleares.

Pois guri ainda, ouvia falar da terrível 2ª Guerra Mundial e das coisas pavorosas nela acontecidas. Por isso, ingenuamente, imaginava que os homens, as nações nunca mais fariam guerras.

Ledo engano! Já estavam no rádio os noticiários sobre a Guerra da Coreia...

Depois, por esse mundo afora, em maior ou menor escala, foram aparecendo conflitos armados sob os mais variados pretextos. Ao que penso, o maior deles terá sido a Guerra do Vietnam.

Isso que nem falei das conflagrações internas em muitos países e da pesada repressão a opositores de seus regimes. Sem dizer, também, da destruição da natureza e da poluição ambiental em terra e na água.

E agora, disputando atenção com o Iraque, o Afeganistão, volta a Coreia do Norte a exibir aparato bélico, vindo de bomba atômica que a Índia, o Paquistão, Israel e, dizem, que o Irã quer tê-la também, além dos arsenais das, ditas, grandes potências, claro.

Ninguém ignora que a sede de poder e de sangue, o ódio, os loucos sonhos de grandeza nacional, a ambição e a ganância, os interesses de dominação política e/ou econômica, ao longo da história humana, levaram morte, sofrimento e destruição a incontáveis gerações.

Afora essa categoria de conflitos, outros há que, desde sempre, infelicitam as comunidades, indiferentemente de meridiano ou paralelo. Mas, hoje, mais que nunca desgraçam o nosso País. Refiro-me, por certo, à escalada da violência, da criminalidade de todas as formas - que parte e age, em maior ou menor grau, - de todos e em todos os estratos sociais.

Os jornais, a TV e o rádio nos martirizam com as resenhas dos horrores do dia: assassinatos, furtos, roubos, assaltos com morte, violência nas famílias e nas escolas, o drama das drogas e o tráfico, mortes no trânsito nas cidades e nas estradas... E tudo em números crescentes, com a corrupção grassando desinibida pela sociedade consumista, cada vez mais desapegada dos valores éticos e morais.

Estaria certo Thomas Hobbes, filósofo inglês, ao sentenciar, lá no Século XVII, que o "homem é o lobo do homem?

Numa época em que se apreciava filmes do "far west", aqueles da eterna luta entre bandido e mocinho, xerife e pistoleiro, das brigas e duelos, via-se na tela cenas de matanças, de bandoleiros pilhando pequenas comunidades distantes e atacando fazendas isoladas, ou praticando assaltos a diligências e trens, a bancos. Tudo parecia tão insólito e de lugares e tempos remotos...

Já não parece. O faroeste, agora, é aqui.

Haja, pois, esperança!...