quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Civilidade, a quantas anda?

Almiro Zago


A alegre fila de  gente  com crianças ansiosas para   fotos   com o Papai Noel, no shopping,    deu-me a ideia para esta crônica. Tudo porque a fileira  parece ser, ao menos a mim, uma das aplicações práticas da máxima - o meu direito termina onde começa o direito do outro. Seria, aliás, expressão de consciência jurídica.

Observar a fila, por certo, corresponde a  uma atitude que vai de acordo com o exercício da pacífica convivência comunitária, do respeito mútuo. E como andamos todos necessitados de respeito!...

Espontânea ou forçada, a observância da precedência de chegada sempre nos dirá de aceitação da ordem e dos limites democráticos à liberdade de cada um. Não seriam bases inseparáveis  do bom convívio social?

Já o retrato das ruas - em close a disputa entre motoristas e pedestres nas travessias -  e os noticiários da mídia dão bem uma noção de quanta gente temos alienada dos mínimos padrões de civilidade. Nem as Escolas escapam. As famílias, tampouco.

Mas enquanto muitos vem cultivando o bom costume de cada um aguardar organizadamente a sua vez, quando o exigem as circunstâncias, certos serviços públicos e, às vezes privados também, insensivelmente submetem as pessoas a demoradas  esperas. Ou angustiantes esperas, como as filas de doentes nos hospitais, não raras vezes com a morte à espreita.

E por falar nela, agora com 2010  olhando-nos de frente, por que não sonhar que a morte venha a cuidar da fila natural, rompendo as terceirizações com  os imprudentes condutores de veículos e os bandidos?

E na fila da esperança, até vai bem imaginar  nosso País poupado de roubalheiras, tipo essas do governador do Distrito Federal e seus comparsas, homens desabitados de dignidade, aquele sentimento lá do fundo que mandaria renunciar aos cargos públicos em semelhante circunstância.

Olhando bem, a fila, que já se chamou bicha,  está mais para aliada, pois afasta situações de estresse e ajuda a manter o bom humor. E até aproxima as pessoas. Já pensaram quantas histórias de amor teriam nascido em filas de espera?

Nem se pense em masoquismo, mas de fila sou fã. E, contudo, vez ou outra  não me salvo de alguma queixa, como esta no supermercado:

Parei  no último lugar na mínima  fileira junto ao balcão de frios. Notei um sujeito, por perto, ocupado em examinar  ingredientes de feijoada num expositor.

Estava eu a decidir entre queijo fatiado e peito de peru, quando senti três toques no  ombro direito. Voltei-me, e um cara alto  me avisou:
-  Eo to aqui.
-  Ah, sim...

Passaram-se alguns instantes  e... tóc, tóc, tóc  no mesmo ombro:


-  Eo to aqui.
- Tudo bem, tudo bem.


Deve ser um deficiente, pensei. Paciência.

Uns poucos segundos mais e outras três batidinhas. E o chato, nervosinho, repetiu:


- Eo to aqui!

Bah, o que vou dizer?  Ia contar até dez, mas num átimo  captei a  mensagem torta. Era o tal dos ingredientes de feijoada.


 - Ah... o sr. está  reclamando este lugar... Passe, passe e faça bom proveito.


Pois aos resmungos, ele passou.

E seguiu à minha frente  o deficiente cultural, isto é, o popular ignorante. 

Civilidade, me desculpe, mas como deixar por menos? 

                                          * * * *           


E por falar em Boas Festas...

Parece piegas, mas eu gosto da frase: todas as idades tem seus encantos.

Cada um bem saberá  reconhecê-los em cada etapa de sua vida. E tomara, sejam muitos. Os amores, os filhos e, lá adiante,  os netos,  por exemplo, como posso dizer.
Porém, ultimamente, tenho conhecido um novo e particular encanto: os meus leitores das crônicas deste blog e de meu livro "Mínimas Confissões". E alguns ainda tomam de seu tempo para mandar incentivadores comentários.

Claro,  nesta passagem de ano, todas as  homenagens aos meus leitores.

                                             * * * *