quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Que será da música?

 Almiro Zago

Já fora assim na noite anterior. Porém, o sono mais forte, o barulhinho do split e a força do pensamento positivo — vou adormecer, vou adormecer — abafaram o tunc-tunc, e eu consegui repousar. Mas no sábado para domingo nada disso funcionou.

Ainda bem que minha paciência não se foi, mesmo com aquele tunc-tunc martelando sem parar. Mas dormir, como?  De minha parte, ainda não alcancei aquele estágio de dispensar Morfeu. Meus neurônios e seus associados exigem-me pelo menos seis horas diárias de sono.

Pois passada a meia-noite, vestindo calma e cordialidade sobre pijama verde, fui buscar a solução junto à fonte do persistente bate-estaca: meus vizinhos temporários de praia. Antes que pudessem notar minha aproximação, pude ver um alegre grupo de moças e rapazes, conversando animadamente em volta de uma mesa na varanda da casa, sem algazarras, mas, que barbaridade!, com aquele fundo, ou melhor,  alto musical. Escrevo musical só para me fazer entender, porque aquele ruído talvez pudesse ser música no tempo do homem das cavernas.

Ao ver-me a certa distância e perceber meu amistoso sinal para baixar o volume, a jovem anfitriã captou meu drama. Para meu bem-estar emocional, o tunc-tunc foi sumindo, sumindo. E ao voltar para a cama, o silêncio já se fazia canção de ninar.

Pois aí veio-me a contraditória sensação de ficar chateado porque o exercício do meu direito estragara a festa da turma. Depois, assaltou-me um sentimento de tristeza e pena pela pobreza de gosto, de sensibilidade e de cultura musical daquele grupo, gente de boa escolaridade. Longe de pensar em Bach, Mozart, Vivaldi, já servia se estivessem escutando a trilha sonora da novela da noite, da Globo.

Meu receio é que esses moços, como tantos outros, jamais vivam a emoção da verdadeira música, alienados pelo som ruidoso, primitivo, monótono, que parece ser a marca da vida contemporânea.

Menos mal se baixam o volume quando a gente reclama.

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