domingo, 30 de setembro de 2012

Ser vereador, quem quer?


Almiro Zago

Se estamos em campanha eleitoral não consigo, nem devo, permanecer indiferente. Mesmo que ninguém me veja em aperto de mãos com candidatos, agitando bandeiras ou distribuindo santinhos, o que, aliás, seria bacana.  Afinal, é a eleição a festa da Democracia.

Talvez faça pouco, mas minha participação começa no som do rádio, na imagem da televisão, bons meios de observar os pretendentes aos cargos da Câmara de Vereadores e da Prefeitura. Mais os primeiros, é verdade, pois me parecem tão desamparados no brevíssimo tempo a cada um deles destinado e, quase sempre, em duríssima luta pela boa síntese das ideias, raramente alcançada.    

Mais proveitoso, isto fui descobrindo, é escutá-los no horário das sete da manhã, pois já vou ganhando lufadas de entusiasmo e otimismo para começar o dia com bom astral. Como faz bem à esperança ouvir as previsões de que a cidade onde moro será mais feliz — pelo menos nos próximos quatro anos.

Não obstante aquelas promessas envoltas em fantasia e outras de escondida malícia e falsidade, sempre se chega a um certo saldo de intenções sensatas e merecedoras de respeito. Claro, há muita gente boa em campanha e propostas sérias, o que não me impede de torcer o nariz para a comunicação via rimas pobres ou trocadilhos tolos, de alguns, e para a identificação, de outros, por apelidos carregados de vulgaridade. Mas isso é o menos e tem a ver com a realidade cultural de muitos em nosso meio.

Por outro lado, e sinto necessidade de revelar aos meus leitores, tenho andado enfastiado de ler, de ver e ouvir gente que, a tudo e a todos, só sabe criticar.

“Desancar políticos virou esporte nacional”, disse alguém.

Certo, há muitos canalhas, delinquentes que desonram as atividades públicas. Entretanto, arranha-me a suspeita de que temos muita gente de boca torta de tanto fazer crítica, porém de cabeça vazia de ideias e disposição para lutar pela correção dos rumos.
 
Bem sei, careço de originalidade, mas se quisermos reverter, mudar o quadro, o remédio é participar da vida política. Então, quem se anima a abraçar uma causa e atuar num partido, ou mesmo numa associação comunitária? Cada um encontre o seu jeito, nem que seja apenas acompanhar a ação e dar apoio ao bom político que mereceu seu voto ao Legislativo municipal, por exemplo.

Agora, se você está fora deste pleito e gostaria de ser vereador, já pode pôr o pé na estrada, pois 2016 logo chega.

Ah, prometo meu voto. E presença na posse.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Do bóson de Higgs ao vaso do Gates

Almiro Zago 

Sentindo evaporar-se agosto, confortou-me a percepção de que 2012 já nos revelou coisas significativas para o planeta. Prestei atenção na recente Olimpíada de Londres, quando tivemos a confirmação dos Jogos Olímpicos como evento esportivo congraçador dos povos, superior à Copa do Mundo. Só faltaria substituir, no pódio, o hino do país do atleta pelo Hino Olímpico. Ah, o Ronaldinho voltou a jogar futebol, tivemos essa também. 

E apareceu em julho o Bóson de Higgs, embora minha oposição subconsciente busque nos registros o bócio de Higgs, e, ainda por cima, exiba a imagem de uma glândula tireoide hipertrofiada. 

Meio segundo depois vai o fio da memória ao escaninho certo, permitindo-me referir que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, o Cern, anunciou ter encontrado, por meio do Colisor de Hádrons, uma partícula subatômica que poderia ser o famoso bóson de Higgs. Tratar-se-ia, dizem, de uma espécie de peça faltante para explicar a "materialidade" do nosso universo. Não obstante, a apelidada "partícula de Deus" ainda carece de comprovação plena.  

Estamos, leio e escuto, diante de um feito científico extraordinário. Mas isso não esmaece minhas implicâncias para com o projeto do Cern, sob a ótica da prioridade. Enquanto levamos a Terra à exaustão por ene formas predatórias, poluidoras etc., os físicos, a custos bilionários em euros, seguem fixados na origem do universo. 

Em compensação, em menor escala, é verdade, outros pesquisadores estiveram empenhados em torno de uma ideia, prosaica na aparência e pouco atraente para alguns, mas de enorme significado para a saúde pública mundo afora: a reinvenção da privada. Vejam, ao tempo da Revolução Francesa já existia o modelo atual, certamente não na Bastilha. A lúcida iniciativa de renovação partiu da Fundação Bill & Melinda Gates, que doou recursos a oito universidades para enfrentarem o desafio. 

Saído em agosto, o resultado é deveras inovador. Para começo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia, primeiro colocado, criou um vaso sanitário que funciona com energia solar gerando eletricidade e hidrogênio. 

Depois, a Universidade Loughborough, do Reino Unido, alcançou o segundo lugar com um aparelho que transforma os dejetos em carvão biológico, minerais e água limpa. 

Já a Universidade de Toronto desenvolveu uma privada que higieniza sólidos e líquidos, e recupera água limpa, obtendo a terceira posição. 

Acredito que essas novidades serão aperfeiçoadas com vistas aos custos e à praticidade para rápida disseminação, em especial nas regiões mais carentes de saneamento básico. De qualquer modo, deu-se um passo importante em favor da saúde das pessoas, do solo e das águas. 

Bah, ia me esquecendo de que, há mais de ano, neste mesmo blog, quando alardeavam o sucesso dos físicos na simulação do big bang e a Fundação Bill & Melinda Gates lançava o desafio para a reinvenção da privada, disse torcer para que, muito antes dos cientistas do Colisor de Hádrons encontrarem o Bóson de Higgs, seus colegas mais modestos encontrariam solução ecológica para o vaso sanitário. 

Pois não é que os físicos do Cern, a 4 de julho, deram a notícia de terem encontrado bóson de Higgs, e, em agosto, os pesquisadores subsidiados por Bill Gates apresentavam várias alternativas ecológicas para a privada!? 

Se em parte frustrou-se minha torcida, calha bem o empate técnico. 

Daqui para frente, resta conferir qual dos dois achados será mais proveitoso para o dia a dia da Terra e de seus hóspedes. 

 Garanto, não ficarei chateado em caso de repetição do escore. 

(31.08.2012)