sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Dilma, Merkel, Hollande!, também fui espionado

Almiro Zago

Em tempos de Internet, celulares, tablets e afins, a espionagem voa à velocidade da luz. Em rasantes captura infinidades de dados e informações sobre tudo e todos, de governos, governantes e governados, de empresas.  Se a privacidade foi ao espaço, o espião pós-moderno deletou o fascínio do antecessor que empolgava escritores de romances policiais e roteiristas de cinema. Em contrapartida, a sua fantástica ação vem rendendo sérios problemas ao seu patrão. Por enquanto, os Estados Unidos. E olhem que nem os amigos de Obama escaparam da bisbilhotice eletrônica deles.

Ao que sei, a Presidenta Dilma foi a primeira vítima a estrilar, usando a ONU como caixa de ressonância das denúncias de violação de privacidade de pessoas e órgãos estatais. 

Viu-se, depois, na TV, nos jornais, nas redes sociais, a forte contrariedade de François Hollande e Angela Merkel, igualmente ofendidos pela indevida coleta de dados pessoais e dos seus governos pela turma da N.S.A. Itália e Espanha também não ficaram de fora.

Notem bem, aqueles dirigentes políticos foram espionados a distância e nem sabem exatamente o que viram os espiões. Sem dúvida, os cremes de beleza de Dilma e Merkel não foram tocados, nem seus objetos de uso pessoal. Tampouco Hollande teve reviradas suas cuecas e gravatas.

Mas comigo, tudo foi diferente, nada virtual. Abriram minha mala no domingo 15 de setembro, no aeroporto JFK, em Nova York, enquanto esperava embarcar para o Brasil. Só notei ao chegar em casa, ainda bem.

A minha querida e surrada mala vermelha, de tantas lembranças, foi revistada. Ao contrário de Hollande, Merkel e Dilma, estou sozinho, apenas com esta voz de locutor aposentado, sem mídia para repercutir minha indignação.

Mala de viagem, é para mim uma espécie de resumo do meu quarto que me acompanha aonde vou.

Ao perceber que o cadeado fora sacado, afastei os fechos com o espanto de quem encontra a própria casa de portas abertas pelos ladrões.  E aí deu-se a conhecer a sensação de ultraje, como se visse mãos estranhas revolvendo minha roupa, a limpa e a suja. E tocar na minha roupa suja é como devassar minha intimidade.

Menos mal que os agentes revelaram experiência no ramo, pois deixaram tudo arrumado, salvo os carregadores do barbeador e do celular.

Se Dilma, Merkel e Hollande ouviram vazias explicações de embaixadores, os meus espiões deixaram confissão escrita, em forma de aviso impresso em inglês e espanhol. O papelucho diz que eles têm permissão legal para busca de produtos proibidos em bagagens. Ah, sim, a finalidade era a de proteger a mim e aos demais passageiros do meu voo.

Meus olhos, que já iam umedecendo, num instante secaram ao ler que tiveram de inutilizar o cadeado – e não se responsabilizam pelo dano – porque só fazem isso quando a mala está trancada...

Dizem que viajar é cultura e aprendizado. Nessa ida a Nova York aprendi uma lição: não se tranca mala de viagem.

Claro, para facilitar o trabalho deles. Já os ladrões de aeroporto agradecem.

27.10.2013