Domingo à tardinha recebi a notícia que estamparia as capas dos jornais na manhã de segunda-feira, a morte trágica do menino de Antônio Prado, que havia perdido o irmão gêmeo em uma outra tragédia há alguns anos. Todos somos da mesma cidade, estudamos na mesma escola (eu, muito antes deles), a que teve o teto levado a baixo por um tornado em dezembro de 2003 e vitimou um dos meninos, Augusto. Agora, um acidente de carro, provocado por um motorista bêbado, tira a vida do outro, Guilherme. Eu não os conhecia, mas lembro muito bem da mãe deles, seu rosto e seus cabelos compridos, nem sei se ainda estão assim, os cabelos, já o rosto, tenho certeza, a dor e a tristeza devem estar registradas nele.
É difícil entender por que nossos dias estão se transformando em verdadeiras batalhas, quem sabe passemos a receber treinamento de sobrevivência em guerras, pois estamos cercados de homens bomba e de atentados suicidas, às segundas-feiras somos acordados com as manchetes contendo os números de mortos pela violência no trânsito, pelo número de assassinatos e de assaltos ocorridos no final-de-semana, muitas destas mortes são causadas por bandidos, mas outras são causadas por pessoas “de bem”, que foram imprudentes. As pessoas estão se deseducando, deixando que o excesso de autoconfiança somado com a necessidade de sentir-se poderosos se sobreponham à dura realidade, a de que podem matar ou ser mortos.
Não há o que explique ou justifique tudo isso, não há como consolar, como aceitar ou como imaginar que o mundo continue assim, porém, o quê fazer?
Na noite de domingo, fiz uma coisa que há muito tempo não fazia, rezei por aquela mãe.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Sobre sentimento e elegância
“Laço de luto”, da Karen Scopel, é uma lição de vida e um mergulho na ternura e na delicadeza que a caracterizam. Ela transmite isso para as suas palavras e o seu amor pelos outros se derrama pelo texto, cativando e pontuando um momento desses pela sua amabilidade, grandeza de caráter e capacidade de se expressar.
Em “Laço de luto” ela nos deu um pequeno/grande texto, capaz de orgulhar qualquer antologia de crônicas da língua portuguesa.
Todos nos identificamos nesta sua preocupação pelo ser humano, pelo outro, pelo seu semelhante. E nos trouxe uma vez mais a certeza de que o que nos interessa mesmo neste mundo globalizado, embora estejamos com as antenas voltadas para a Terra inteira, é o que sucede em nosso bairro, em nossa esquina, em nossa pequena (ou grande) cidade.
Parabéns, Karen!
Vocês nos encanta.
Um abraço
Walter Galvani
É Karen, para mim, devemos receber o oposto de treinamento de guerra, devemos receber o que ninguém mais sabe fazer, dar ou receber: treinamento de amor.
Pais não sabem ensinar amor aos filhos, professores não sabem ensinar amor aos alunos, pessoas não sabem amar pessoas.
Eu não sei quando neste caminho perdemos todas as noções, os valores e os sentimentos. Não sei quando neste caminho passamos a nascer monstros, a criar monstros e a viver naturalmente como monstros.
Se tem uma coisa que meus pais me ensinaram na vida foi a ser HUMANA.
Nunca me permitiram excluir um colega, responder a um professor, ser indiferente a um sofrimento.
Não parece básico? Não parece simples?
É simplesmente desesperador perceber que todo mundo vive como se o mundo todo não existisse ao redor.
Lindo demais o teu texto.
Camila.
Karen:
Viste o que a tua ótima crônica andou provocando?
Duas outras ótimas crônicas, a pretexto de comentários.
Pois, se o essencial já foi dito, só me resta dizer amém.
Cumprimentos.
Almiro Zago
Postar um comentário