Para o semanário "Tempo Todo", de Caxias do Sul
Almiro Zago
Os livros são pequenos pedaços do incomensurável.
(Stephan Zweig)
A praça, talvez nem seja a mesma. Dante Alighieri, seu antigo patrono, retomou seu posto, sem mágoas de Ruy Barbosa, imagino, pois num certo momento histórico tivera seu nome usado com fins pseudopatrióticos para despejar o autor da Divina Comédia.
Depois, a radical e bonita remodelação paisagística, feita há uns poucos anos, também favorece a ideia de que outra seja a praça. Olhando bem, apenas alguma coisa do seu chafariz e a Estátua da Liberdade, a oliveira vizinha de uma araucária e o monumento ao Duque de Caxias me dizem algo do belo espaço público da minha adolescência e juventude.
Mas, nos afetos do meu imaginário, nada mudou do ponto de encontro da cidade, o lugar de reunir-me com amigos antes do cinema, de ver as garotas, de passear com a namorada.
E foi ali, num dos primeiros meses de 1961, que eu conheci uma modesta, porém intrépida Feira do Livro com descontos e tudo.
Embora não tenha sido fácil reunir pequena soma em Cruzeiros, comprei três livros - de menor preço -, escolhidos dentre os volumosos para ter mais leitura e viver aquilo que Jorge Luis Borges referia como uma forma de felicidade.
E bem me lembro do mais alentado, traduzido do espanhol, que trazia o curioso título: "Epitalâmio do Negro Trinidad".
Custei a entender a história porque havia tomado epitalâmio por epitáfio. Claro, ficou mais fácil entender a novela de Ramón J. Sender ao descobrir o significado: canto ou poema nupcial. Confesso, entretanto, ter ido ao Google resgatar o nome do autor.
Ao curso do tempo, outras Feiras do Livro vieram marcar ponto na praça até esta vigésima quinta consecutiva. E, agora, é lá que se apanham os bilhetes econômicos da melhor nave para viajar longe: o livro, como teria dito Emily Dickinson.
Mesmo sem morar em Caxias, venho participando de quase todas as Feiras, como leitor.
Levando a sério o que disse Italo Calvino - "escrever, é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto" -, desde a edição de 2007, tenho a alegria de incluir-me entre os autores.
E isso, passados 46 anos do "canto nupcial" do Negro Trinidad.
Ah, esclareço: já não confundo epitalâmio com epitáfio...
Meu livro "Mínimas Confissões" estará na Feira do Livro de Caxias do Sul, de 2 a 18 de outubro, na Praça Dante Alighieri.
Um comentário:
Muito bom conhecê-lo pessoalmente, após já conhecer sua obra.
Você escreve muiot bem.
Temos que conversar mais...
Abraço
visite
www.uilibergamin.blogspot.com
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