Teriam os cientistas e os dirigentes do CERN captado as mensagens da ave e da migalha de pão que detiveram o grande Colisor de Hádrons?
Uma insignificante migalha de pão fez parar a maior e mais complexa máquina até hoje construída no mundo. Parece ficção, mas aconteceu no último dia seis. Caída de um passarinho, foi parar sobre uma parte exposta do grande Colisor de Hádrons, provocando superaquecimento. Por causa disso, todo o aparato acabou sendo desligado, é só voltou a funcionar quatorze dias depois.
Devo lembrar que se trata do bilionário projeto do CERN - Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear (ou LHC) que, até o ano passado, já havia sepultado por volta de sete bilhões de Euros num enorme túnel a cem metros de profundidade, num lugar entre a Suíça e a França. E envolvendo perto de dois mil físicos de trinta e cinco países e dois laboratórios autônomos de pesquisa. Algo semelhante, porém menos adiantado, está em andamento nos Estados Unidos.
Tudo, claro, com elevados fins científicos: procurar uma explicação da origem da massa das partículas elementares e encontrar outras dimensões do espaço, simulando a grande explosão que resultou na criação do universo.
Mas eu fiquei encantado com esse fascinante episódio do passarinho e da migalha, algo que vai muito além do pitoresco e curioso, ou do simples fruto do acaso.
Hoje, insistente ideia veio perguntar se não seria um sinal, uma pacífica advertência aos cientistas e aos seus dirigentes?
Algo como o escancarar a fome e a miséria diante da opulência do projeto; um martelo nas consciências daqueles que usam fabulosos recursos em nome da curiosidade, da busca de grandeza, indiferentes aos milhões de seres humanos a quem falta o pão, a roupa, a saúde.
Quanto simbolismo carrega uma única migalha, um poético convite à reflexão.
E um belo recado aos europeus. Tivessem, eles, investido semelhante fortuna em atividades produtivas nos países pobres da África, por exemplo, quem sabe bem menores fossem as levas de imigrantes africanos, que tanto os incomodam...
E o pássaro, em vou rasante, de seu bico liberando a migalha de pão bem encima de ponto sensível do mais espetacular produto da ciência. E fazê-lo parar.
Em primeira leitura, vejo um certeiro golpe na soberba e egoísmo dos homens da ciência e seus ricos patrões. Depois, estaria ali um silencioso apelo do mundo animal, um pedido de socorro diante da progressiva eliminação de seus ambientes naturais. Justo a quem tanto deseja conhecer como tudo começou, mas que nada quer saber da humana sina destruidora da vida no Planeta. Quiçá, por já saber o final da história.
Teriam os cientistas e os dirigentes do CERN captado as mensagens da ave e da migalha de pão que detiveram o grande Colisor de Hádrons?
Nem ilusões tenho. Mas do que vale para o homem conhecer como era o Universo um bilionésimo de segundo após o Big Bang, - o momento em que as sementes da matéria começaram a existir - se a vida em nosso Planeta, pela ação do mesmo homem, parece caminhar para a extinção?
Só por implicância, daqui em diante ficarei torcendo para que a grande máquina, ao invés de um solitário passarinho, seja logo visitada por uma revoada de pombos malcriados...
* * *
* = Ver "A indiferença de Minerva", crônica publicada neste blog, a 20/04/2008
3 comentários:
Pela verdade e profundidade da mensagem que encontramos neste texto, ele deveria ser publicado também em um jornal da Europa
Carlo de Antoni
Parabéns!
Excelente reflexão!
Tatiana Pereira Schuster
Acompanhei a celebração do "Natale Insieme" e depois também participei da cerimônia de premiação dos vencedores do Concurso Frei Rovílio Costa
Parabéns por ter sido um dos premiados Sr Almiro!
Antonio R W Dal Ponte
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