Almiro Zago
Dia desses, sentado à mesa de janela num restaurante, estava eu a ganhar calorias, enquanto diversas pessoas tratavam de perder a suas numa academia, no outro lado da rua.
Perto de mim, num grupinho, o assunto do almoço era a calamitosa situação dos presídios, a promiscuidade e a ociosidade dos presos. Tive ímpetos, contidos a tempo, mas libertos agora, de a eles apontar original alternativa para amenizar o problema: levar academias de ginástica aos reclusos, dando-lhes a chance de malhar.
Intimamente, divertia-me com o achado, e ao notar um sujeito que pedalava num aparelho, bolei uma academia equipada só com bicicletas estacionárias, providas de dínamo, mas sem farol.
Se alguém esqueceu, ou não sabe, dínamo, eu pesquisei, é um pequeno aparelho que gera corrente contínua convertendo energia mecânica em elétrica, através de indução eletromagnética.
Algum tempo depois, em madrugada de insônia, surpreendi-me a imaginar os encarcerados pedalando para manter a forma física e produzindo energia elétrica.
Não seria uma coisa bacana? Veríamos aí, ao mesmo tempo, a realização do ideal romano - “mens sana in corpore sano”, mente sã em corpo sadio - e toda a massa carcerária com possibilidade de ocupação útil, remunerada e, ainda, com direito à remição da pena pelo trabalho.
Está bem, podem dizer que seja bobagem, mas confesso minha irresistível simpatia pela ideia.
Afinal, pouco custa pensar em novo jeito de lidar com tema tão explosivo. Depois, uma reflexão isenta nos revelaria a sociedade refletida nas imagens das casas prisionais pela incúria, leviandade, indiferença para com o lado mais dramático da imperfeição humana, inseparável da convivência em comunidade. E tanto maior quanto mais doente o tecido social.
Convenhamos, nesse quadro gris, um projeto como este, por quixotesco que pareça, mais interessante será do que a inércia e a ausente criatividade. Depois, para a sua adoção, mais não reclamaria do que a vontade política dos agentes estatais, mesmo diante da sempre alegada carestia de recursos.
Pois não andam a falar de parcerias? Estão aí as empresas distribuidoras de energia elétrica, que bem poderiam construir instalações junto a presídios e penitenciárias e equipá-las para funcionamento das, digamos, academias, verdadeiras mini usinas de propulsão humana.
Claro, haveria problemas técnicos a resolver, o que, entretanto, não demandaria maior cota de massa cinzenta a dois ou três engenheiros das áreas envolvidas.
Vejam só: num presídio com quatro centenas de homens, cada um exercitando-se 30 minutos por dia, ter-se-ia 200 horas diárias de produção de energia elétrica. Se o dínamo de uma bicicleta comum gera luz suficiente para iluminar o caminho noturno de um ciclista, pode-se bem ter uma noção do que representariam 400 faróis.
De minha parte, devidamente citada a fonte, daria de graça a ideia, o que não significa renúncia a eventuais recompensas em moeda corrente nacional.
Mas quanto ao exercício físico dos reclusos, anotem bem a ressalva: pedalar fortalece a musculatura das pernas. Aí, se eles fugirem, quem os alcançará?
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5 comentários:
Genial! A idéia inusitada e criativa; a bela escrita de um texto com estilo e espirituosidade; faria bem à saúde física e mental dos presos, resolveriam, em parte, a questão da energia e seria energia limpa. Preservaria a natureza. Muito interessante..hehe!! Parabéns pelo texto e pela idéia prezado amigo Almiro Zago! Boa noite :)
Genial, divertida, inteligente e com grande demonstração de novas alternativas a manterem os presos ocupados e se utilizarem bicicletas horizontais ergométricas, os dínamos que a elas estariam acoplados, poderiam ser ajustados para funcionarem com cargas variáveis. A energia produzida poderia carregar baterias alcalinas, ou melhor, especiais a serem utilizadas em veículos elétricos a serviço das penitenciárias. Assim, teríamos, fatalmente, uma economia substancial na energia elétrica em diversas áreas. Do presídio e até de veículos automotores. Motocicletas e assim por diante. O que iria tornar a penitenciária bem movimentada e alegre. Achei gozado o fato de que os presos aumentariam sua velocidade nas corridas, seja dentro ou fora da penitenciária. E quem sabe, ali, iriam aparecer campeões em diversas modalidades. Em provas de velocidade ou maratonas. A energia acumulada poderia também ser utilizada na ampliação do tempo de funcionamento de computadores quando faltasse energia elétrica convencional. Creio que o amigo, sem muito esforço, dada as suas origens e à percepção evidente, poderia dar uma grande contribuição aos serviços penitenciários do Estado e até ganhando um prêmio pela invenção que, agora, está dando os primeiros passos. Boa noite, continue escrevendo, um grande abraço. Manoel Canto.
Admiráveis ideias
Excelente livro “Mínimas Confissões”
Parabéns Sr Almiro!
Cibele Vezzani
Admiráveis ideias
Excelente livro “Mínimas Confissões”
Parabéns Sr Almiro!
Cibele Vezzani
Tanto suas experiências de vida como sua forma de escrever atraem toda a minha família. Somos uma família de leitores de seus textos. E com grande satisfação!
Roberto Ahue
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