domingo, 24 de abril de 2011

E o psicopata assassino pautou a mídia

Almiro Zago 

Deveria, a esta altura, mais não ser do que assunto esgotado. Todavia, não o é. Embora tivesse preferido passar ao largo, veio certo aspecto importante alertar-me para algo dizer sobre o bárbaro episódio.

Pois como fartos estão todos de saber, o psicopata que promoveu a tragédia em escola do Bairro Realengo, no Rio de Janeiro, tudo premeditou, tudo em detalhes planejou.

Um grande ato de vingança arquitetara, vingança indiscriminada, mediante ação espetacular, segundo sua ótica doentia.

Mas acima de tudo — resultou claro das investigações, do que se viu, do que se leu — buscava chocar a sociedade e forçá-la a ver o nome dele marcado na história. Para tanto, cuidou de deixar cartas, fotos, vídeos, calculadamente disponíveis dentro de mórbido interesse de ganhar fama pelo mundo afora, depois de sua morte, esta também objeto de seus estudados preparativos.

É duro reconhecer, mas a sinistra figura, no que seria sua visão das coisas, conseguiu integralmente o que havia programado alcançar. Os jornais, as revistas, as televisões, o rádio, a Internet, em patética associação, têm sido infatigáveis na propagação do nome dele, do seu rosto, de sua voz, de suas  ideias.

Vejam só, a mídia seguiu, passo a passo, o roteiro marcado pelo assassino.

E por força da conduta midiática, infelizmente, outras pessoas perturbadas poderão encorajar-se a seguir o terrível exemplo na busca da notoriedade póstuma, à custa do sangue e das vidas de inocentes.

A respeito dessa temível possibilidade, a jornalista Luisa Bustamante, em sua coluna no jb.com.br, de 16 de abril,  transcreve opinião insuspeitada: “O próprio atirador buscou inspiração na internet, em casos antigos” — confirma Célio Campos, professor de mídia impressa e eletrônica da PUC-Rio. “— A imprensa deve divulgar, sim, mas, desse jeito, um indivíduo doente, carente, pode achar que a repercussão é estimulante.”

Ainda que inútil possa parecer,  diante da vasta divulgação, recuso-me a mencionar o nome do terrível matador, aliás, como escreveu Walter Galvani em seu blog:  “De propósito omiti a lembrança do nome dele, que, acho, não interessa a ninguém recordar alguma coisa sobre “o monstro do Realengo”. 

Mas afinal, os meios de comunicação tiveram em mira apenas a liberdade de informar?

Ou teria acontecido um espontâneo conluio com o lado obscuro da sociedade?
           
17.04.2011

2 comentários:

Anônimo disse...

Li e gostei muito de seu livro Mínimas Confissões.Através dele descobri este blog, e aqui tenho
degustado com prazer seus textos
Silvio H Soldini

Anônimo disse...

Ao autor da preciosa obra "Mínimas Confissões" os cumprimentos pela passagem do Dia Internacional do Livro
Viviane Reiman