Almiro Zago
Se existe o bilionário projeto do CERN, o Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear, aquele do Colisor de Hádrons dos cientistas com fixação nas origens do universo e na identificação do Bóson de Higgs, aqui na planície vemos pesquisas sustentadas por módicos recursos fazendo ciência com resultados, por que não?, mais proveitosos para a humanidade do presente.
Li na internet, dias passados, uma das manchetes mais interessantes deste século: Armadilha de chulé combate mosquito da malária. Vejam só, quem de nós teria imaginado semelhante coisa?
Soube que um jovem pesquisador da Tanzânia, baseado na demonstração do holandês Bart Knols de que o odor dos pés é atrativo para as moscas, desenvolveu uma armadilha de chulé'artificial com substâncias venenosas. Sua força de atração do mosquito propagador da malária, num raio de 110 m, é quatro vezes maior do que outros meios.
Nem se pense que seja pouca coisa, pois o trabalho mereceu reconhecimento da Fundação Bill e Melinda Gates e da Grand Challenge Canada. E o prêmio concedido, 775 mil dólares, vai permitir a continuidade dos estudos pelo Instituto de Saúde de Ifakara, na Tanzânia, liderados pelo pesquisador Fredros Okumu, nome que promete.
Dizem que a inovação africana significará grande avanço na erradicação da malária, que anualmente acomete, no mundo, 220 milhões de pessoas, das quais morrem 800 mil, principalmente pobres e crianças.
Mas há outro genial projeto de pesquisa, embora nem tão pobre. É aquele da Fundação Gates investindo 42 milhões de dólares para que desenvolvedores reinventem o vaso sanitário, acabando com o desperdício de água. Até onde sei, a busca seria por inovações na captura e armazenamento de dejetos humanos e na criação de maneiras de processá-los em energia e fertilizantes.
Por outro lado, confesso minhas implicâncias com a turma do CERN, porque, entre outros pontos, enquanto a Terra vai perdendo condições de vida e milhões de seus habitantes padecem de fome e doenças, pesquisadores com rico patrocínio só pensam em desvendar como o universo começou.
Dito isso, torço para que muito antes dos cientistas do Colisor de Hádrons encontrarem o Bóson de Higgs — se bem entendi, a matéria que deveria estar dentro do núcleo do átomo —, seus colegas mais modestos encontrem solução ecológica para o que vai dentro do vaso sanitário. E também estaremos mais protegidos da malária graças ao chulé, o artificial, claro.