terça-feira, 11 de dezembro de 2012

As divindades pós-modernas


Almiro Zago

Teria chegado ao século 21 o culto dos deuses, como acontecia entre os gregos, os romanos e outros povos antigos?

Bem gostaria de conhecer respostas mais convincentes do que minhas especulações. Por isso, acredito que, amanhã ou depois, ainda veremos o já demorado interesse de pesquisa sobre as divindades pós-modernas por parte do mundo acadêmico. Se pudesse, já marcaria lugar na fila dos autógrafos das teses de mestrado ou doutorado, transformadas em livros, pois elas, de forma científica, elucidariam, não o mistério da Santíssima Trindade, mas a coexistência do Deus uno com certo trio divino. Na atualidade, pode crer.

Talvez mais não seja do que coisa de faxada, mas a crença num Deus único, propagada pelo Cristianismo, Judaísmo, Islamismo, anda convivendo com o politeísmo. Nem se fale de pura imaginação, pois o que se observa é a maioria dos crentes a render homenagens ao Criador, conforme a Bíblia, e, sem conflitos perceptíveis, a outros deuses venerar, inclusive com a adesão do segmento formado por ateus esquecidos da incredulidade.

Goza de séculos de reverência a mais poderosa das divindades a que me refiro, tanto que na Grécia antiga era conhecida como Pluto, segundo revela certa comédia de Aristófanes. Certamente, o leitor já sabia chamar-se Dinheiro esse deus afanosamente cultuado em toda parte. Todavia, são os Bancos os seus santuários.

Promíscuo, Dinheiro, unindo-se às deusas Ambição e Ganância, gerou outros deuses. O mais recente leva por nome Consumismo e vem sendo idolatrado das banquinhas de beira de estrada aos shopping centers, as suas suntuosas catedrais.

Depois de levar as pessoas a tomarem o supérfluo pelo essencial, seu feito mais notável acontece no mês de dezembro de todos os anos. Em adoração quase unânime e com a ingênua cumplicidade do Velhinho do trenó, o deus Consumismo apropria-se da festa de aniversário de Jesus, o Filho do Deus, dos monoteístas. E paira sobre tudo e todos.

Fechando a tríade originária da divindade Dinheiro, veio o deus Automóvel cujos crentes são arrebanhados num processo sem volta. A entrega inicia-se pela satisfação da necessidade de locomoção rápida e confortável. Em sequência, os apelos aparecem carregados de conceitos de prazer, status e luxo; grandeza, velocidade e poder, sempre ligados ao ideal de beleza, de linhas que apaixonam e fascinam.

É de seu trono resplandescente, rodeado de cortesãs, que o deus Automóvel contempla a extensão do seu reino sobre todos os fusos horários. Governos disputam a localização de suas fábricas de onde jorra enorme quantidade de exemplares, de tecnologia cada vez mais avançada. Seu destino, as ruas e as estradas; seu resultado, a inviabilização do trânsito e a poluição do ar.

Desse caos anunciado, todos sabem e pagam para ver, pois o deus insaciável exigiu, como tributo à sua glória, a entrega da sensatez de todas as cabeças pensantes no altar dos sacrifícios.

Embora o fim dos tempos ainda não seja, já respira por aparelhos a mobilidade urbana, porém, antes de seu final, ninguém quer deixar a festa.
                                                        
***

P.S: Por favor, não me mandem presentes de Natal...

Dezembro 2012



segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Crônica para vidas breves



 Almiro Zago

Nunca antes na História estiveram os seres humanos diante de maior expectativa de vida do que neste século, inclusive e especialmente nós brasileiros.
                
Mas (ah, esse mas...), paradoxalmente, também nunca antes em nosso País, e talvez pelo mundo afora, guerras à parte, a vida tenha valido tão pouco, como pouco valendo está no contexto duma cada vez mais vasta faixa populacional de índole criminosa com assustadora gama de matizes. Matam por nada, matam por pouco, matam por muito, matam com frieza, crueldade e revoltante indiferença pela vida alheia.

E os órgãos estatais e suas insuficientes estruturas vão ao difícil enfrentamento munidos com o Direito Penal moderno. Já no meu íntimo, nos momentos de incontida indignação com a barbárie, bate a ideia de que o Código de Hamurábi, rei da Suméria, aquele do “olho por olho, dente por dente”, também não bastaria para dissuasão desses criminosos com um pé na fronteira da civilização e, outro, na Idade da Pedra Lascada.

Pois ainda que vivamos nesse clima apreensivo, mostram as estatísticas oficiais a auspiciosa     expansão da expectativa de vida do brasileiro, tendo ganho um acréscimo de 25,4 anos, entre 1960 e 2010. E com tendência crescente.

Agora, mesmo diante desses dados positivos, sinto assomar à mente esta dura e triste reflexão sobre o que a realidade, diariamente, nos joga na cara: a perspectiva de longevidade sendo roubada de muitos brasileiros por obra de mãos assassinas. 

E, dizem os registros, grande parte dessas vítimas nem bem chegaram a viver o começo da primeira juventude.

Depois, de frustrada esperança de vida e de longa vida, chegamos aos tantos e tantos de nossos irmãos que têm encontrado a morte entre destroços retorcidos de veículos de todos os tipos, ao longo de estradas ou em ruas e avenidas das cidades.

Ao amanhecer das segundas-feiras ou ao final dos feriadões, o noticiário de rádio, que ouço, mais parece produzido por correspondentes de guerra, tamanha a mortandade por conta de acidentes de circulação.

A causa? Negligência ou imprudência ou imperícia ao volante, frequentemente em associação com a ausência de juízo de muitos motoristas, aqueles que tolhem a vida de pessoas que nada têm a ver com suas loucuras, particularmente crianças.

E, ironicamente, logo no tempo de um livro chamado “Carta a um menino que viverá 100 anos”. Seu autor, o geneticista italiano Edoardo Boncinelli, escreve com muito conhecimento sobre a ciência moderna e as implicações dos novos experimentos sobre a vida artificial e às mais recentes descobertas da genética, onde se inclui o rejuvenescimento de partes do corpo, a cura de doenças tidas como letais, tudo levando à longevidade humana. 

Receio nem conseguir imaginar a dor dos afetos — pais, avós, irmãos das crianças e jovens levados à morte pela violência de criminosos ou do trânsito — se acaso chegar a “Carta a um menino que viverá 100 anos”, sem jamais encontrar o destinatário.  

Contudo, contrariando o poeta*, viver é preciso.                            
                                                    
  ***

*Fernando Pessoa

domingo, 30 de setembro de 2012

Ser vereador, quem quer?


Almiro Zago

Se estamos em campanha eleitoral não consigo, nem devo, permanecer indiferente. Mesmo que ninguém me veja em aperto de mãos com candidatos, agitando bandeiras ou distribuindo santinhos, o que, aliás, seria bacana.  Afinal, é a eleição a festa da Democracia.

Talvez faça pouco, mas minha participação começa no som do rádio, na imagem da televisão, bons meios de observar os pretendentes aos cargos da Câmara de Vereadores e da Prefeitura. Mais os primeiros, é verdade, pois me parecem tão desamparados no brevíssimo tempo a cada um deles destinado e, quase sempre, em duríssima luta pela boa síntese das ideias, raramente alcançada.    

Mais proveitoso, isto fui descobrindo, é escutá-los no horário das sete da manhã, pois já vou ganhando lufadas de entusiasmo e otimismo para começar o dia com bom astral. Como faz bem à esperança ouvir as previsões de que a cidade onde moro será mais feliz — pelo menos nos próximos quatro anos.

Não obstante aquelas promessas envoltas em fantasia e outras de escondida malícia e falsidade, sempre se chega a um certo saldo de intenções sensatas e merecedoras de respeito. Claro, há muita gente boa em campanha e propostas sérias, o que não me impede de torcer o nariz para a comunicação via rimas pobres ou trocadilhos tolos, de alguns, e para a identificação, de outros, por apelidos carregados de vulgaridade. Mas isso é o menos e tem a ver com a realidade cultural de muitos em nosso meio.

Por outro lado, e sinto necessidade de revelar aos meus leitores, tenho andado enfastiado de ler, de ver e ouvir gente que, a tudo e a todos, só sabe criticar.

“Desancar políticos virou esporte nacional”, disse alguém.

Certo, há muitos canalhas, delinquentes que desonram as atividades públicas. Entretanto, arranha-me a suspeita de que temos muita gente de boca torta de tanto fazer crítica, porém de cabeça vazia de ideias e disposição para lutar pela correção dos rumos.
 
Bem sei, careço de originalidade, mas se quisermos reverter, mudar o quadro, o remédio é participar da vida política. Então, quem se anima a abraçar uma causa e atuar num partido, ou mesmo numa associação comunitária? Cada um encontre o seu jeito, nem que seja apenas acompanhar a ação e dar apoio ao bom político que mereceu seu voto ao Legislativo municipal, por exemplo.

Agora, se você está fora deste pleito e gostaria de ser vereador, já pode pôr o pé na estrada, pois 2016 logo chega.

Ah, prometo meu voto. E presença na posse.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Do bóson de Higgs ao vaso do Gates

Almiro Zago 

Sentindo evaporar-se agosto, confortou-me a percepção de que 2012 já nos revelou coisas significativas para o planeta. Prestei atenção na recente Olimpíada de Londres, quando tivemos a confirmação dos Jogos Olímpicos como evento esportivo congraçador dos povos, superior à Copa do Mundo. Só faltaria substituir, no pódio, o hino do país do atleta pelo Hino Olímpico. Ah, o Ronaldinho voltou a jogar futebol, tivemos essa também. 

E apareceu em julho o Bóson de Higgs, embora minha oposição subconsciente busque nos registros o bócio de Higgs, e, ainda por cima, exiba a imagem de uma glândula tireoide hipertrofiada. 

Meio segundo depois vai o fio da memória ao escaninho certo, permitindo-me referir que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, o Cern, anunciou ter encontrado, por meio do Colisor de Hádrons, uma partícula subatômica que poderia ser o famoso bóson de Higgs. Tratar-se-ia, dizem, de uma espécie de peça faltante para explicar a "materialidade" do nosso universo. Não obstante, a apelidada "partícula de Deus" ainda carece de comprovação plena.  

Estamos, leio e escuto, diante de um feito científico extraordinário. Mas isso não esmaece minhas implicâncias para com o projeto do Cern, sob a ótica da prioridade. Enquanto levamos a Terra à exaustão por ene formas predatórias, poluidoras etc., os físicos, a custos bilionários em euros, seguem fixados na origem do universo. 

Em compensação, em menor escala, é verdade, outros pesquisadores estiveram empenhados em torno de uma ideia, prosaica na aparência e pouco atraente para alguns, mas de enorme significado para a saúde pública mundo afora: a reinvenção da privada. Vejam, ao tempo da Revolução Francesa já existia o modelo atual, certamente não na Bastilha. A lúcida iniciativa de renovação partiu da Fundação Bill & Melinda Gates, que doou recursos a oito universidades para enfrentarem o desafio. 

Saído em agosto, o resultado é deveras inovador. Para começo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia, primeiro colocado, criou um vaso sanitário que funciona com energia solar gerando eletricidade e hidrogênio. 

Depois, a Universidade Loughborough, do Reino Unido, alcançou o segundo lugar com um aparelho que transforma os dejetos em carvão biológico, minerais e água limpa. 

Já a Universidade de Toronto desenvolveu uma privada que higieniza sólidos e líquidos, e recupera água limpa, obtendo a terceira posição. 

Acredito que essas novidades serão aperfeiçoadas com vistas aos custos e à praticidade para rápida disseminação, em especial nas regiões mais carentes de saneamento básico. De qualquer modo, deu-se um passo importante em favor da saúde das pessoas, do solo e das águas. 

Bah, ia me esquecendo de que, há mais de ano, neste mesmo blog, quando alardeavam o sucesso dos físicos na simulação do big bang e a Fundação Bill & Melinda Gates lançava o desafio para a reinvenção da privada, disse torcer para que, muito antes dos cientistas do Colisor de Hádrons encontrarem o Bóson de Higgs, seus colegas mais modestos encontrariam solução ecológica para o vaso sanitário. 

Pois não é que os físicos do Cern, a 4 de julho, deram a notícia de terem encontrado bóson de Higgs, e, em agosto, os pesquisadores subsidiados por Bill Gates apresentavam várias alternativas ecológicas para a privada!? 

Se em parte frustrou-se minha torcida, calha bem o empate técnico. 

Daqui para frente, resta conferir qual dos dois achados será mais proveitoso para o dia a dia da Terra e de seus hóspedes. 

 Garanto, não ficarei chateado em caso de repetição do escore. 

(31.08.2012)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A neve da memória


Almiro Zago

Antes mesmo de conhecer a neve, habitavam seus gélidos flocos o meu imaginário, das tantas vezes que ouvira contar sobre o drama dos antepassados italianos sitiados pela neve durante o inverno, com escassos meios de aquecimento.

Poetas e cantores celebram essa encantada partícula de gelo, mas “A Balada da Neve”*, de Augusto Gil, foi a primeira a emocionar-me com o lado poético desse lindo fenômeno da natureza. Sim, beleza e poesia, quando se tem abrigo contra o frio.

Nestas paragens de pouco nevar, e ainda assim em restritas regiões, certamente essa raridade justifica tanto fascínio pelos translúcidos e esvoaçantes flocos. E quando aparecem, por minutos ou horas, rendem festivas reportagens e manchetes em toda a mídia, além de levar entusiasmados turistas aos lugares altos das serras do Rio Grande e Santa Catarina.

Dizem meus registros caxienses que aos nove anos, pela primeira vez, senti no rosto a gelada carícia de uma nevada. Foi de manhã, a caminho da escola, todo faceiro sob o guarda-chuva, digo, guarda-neve. Porém, nada gostei do que a professora fez comigo. Só porque estava nevando, mandou-me para casa.

Inúmeras vezes iria admirar paisagens nevadas no cinema, nos cinejornais europeus, como o “Atualidades Francesas”, que frequentemente exibia competições de esqui na brancura invernal dos Alpes.

Até ali, fora nossa vedete só motivo de alegria e deslumbramento.

Mas um filme houve sobre Franz Schubert (1797- 1828), marcado intensamente pela tristeza que infundia no espectador, exatamente na cena do cortejo fúnebre para o enterro do grande clássico austríaco. Em meio de forte nevasca, iam     os acompanhantes, castigados por um frio polar, revelando nos roxos rostos expressões de profunda dor e angústia pela precoce perda.  

Pois aquela imagem de consternação reapareceria na memória, anos mais tarde, na vida real, numa gélida manhã com os pingos de chuva rendendo-se aos abundantes flocos de neve. E meu fusca bege avançava pela estrada de Caxias a Flores da Cunha, tendo como destino o sepultamento de uma pessoa muito querida. Continuamente varrida pelo limpador do para-brisa, a neve e sua sensação de frio mais entristecia o coração.

Estrada do Morro da Igreja - Urubici-SC

Um irrepetível panorama

Vivenciei, senão muitas, um bom número de ocorrências da neve sul brasileira, sempre chegando de surpresa, como no dia em que comprei uma grossa japona, numa manhã de inverno de ar primaveril. Deixei-a na loja para apanhá-la quando chegasse o frio. À tardinha, porém, a roupa já me protegia da frialdade que chegara nevando. Também sem aviso, nevou na tarde de um sábado, justo motivo para faltar à festa do Dia dos Pais na escola das crianças.

Ah, mas a nevada das nevadas, a mais intensa e linda, semelhante àquelas dos postais e dos filmes, aconteceu em 1965, lá por 20 de agosto. Acomodado num ônibus, pelas cinco da tarde, ia observando esparsos flocos perdidos no ar. Ao anoitecer, copiosa já era a precipitação, cobrindo telhados, ruas e calçadas, tudo. 

Mas a madrugadinha do dia seguinte reservaria espetáculo encantador. À luz de velas, porque faltara energia, preparei-me para ir para o meu trabalho de locutor na Rádio Princesa, onde deveria estar às seis horas.  

Ao abrir a porta para sair, vivi a sensação de avistar uma cidade de cartão de Natal, toda branca. Mas era Caxias do Sul, como se um imenso e alvo lençol sobre ela tivesse sido estendido, abrindo um quadro de raríssima e inesquecível beleza.  

Ainda inebriado, dando os primeiros passos lá fora, afundei na neve fofa, pois chuviscara, resultando sapatos encharcados, naquela friagem...

Não obstante o tempo, continuo achando bonita e poética a neve. Sigo amando as brancas paisagens, mas se estiver por perto, prefiro o lado de dentro das janelas, ou vê-las nas telas da televisão e dos cinemas.

11.08.20012   
     
* Balada de Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil (l873-1929 - Portugal), em Luar de Janeiro
                         




quarta-feira, 25 de julho de 2012

Furnarius rufus ou histórias de amor e trabalho


Almiro Zago 



Ao certo, ninguém sabe há quanto tempo vivem eles na vizinhança, mas certeza tenho de que por aqui chegaram bem antes de mim, embora poucas de suas habitações fossem vistas, até recentemente.

Alguma coisa mudou, pois ao final do verão, suaves e razoavelmente discretos e pacíficos, já haviam consolidado a posse de espaços, onde ergueram três moradias.

O outono, passaram em atividade, tanto que na chegada do inverno já eram cinco as edificações. E sem notícias de resistência de proprietários, ou pedidos judiciais de reintegração de posse.

Desconfio que os nossos invasores alados contam com um programa, tipo Minha casa, minha vida, da Dilma.

Coisa linda é ver da rua os “forninhos” de barro, em homogêneo estilo arquitetônico, numa espécie de condomínio anexo ao edifício onde moro.  Cada unidade habitacional, uma por andar, ocupa o ângulo da moldura decorativa, entre parede e sacada.

Sábios, os furnarius rufus escolheram a orientação solar norte.

Certificados pelo próprio DNA, os talentosos arquitetos trabalham em regime de cooperação conjugal, usando materiais ecologicamente corretos, recolhidos e carregados na ponta do bico. Já imaginaram as centenas ou milhares de idas e vindas até o final da construção?
 
Dispensados, claro, de autorização para construir, autoconcedem-se o “habite-se” ao seu ninho, quando acabada a parede que separa o corredor da câmara incubadora. Ao contrário deste habitante da parte de dentro do prédio, são isentos de IPTU, desconhecendo os aborrecimentos com as contas de água, luz, telefone e, ainda por cima, ignoram taxas ou despesas de condomínio.

O adorável casal do lado



De acaso em acaso, acompanhei enternecido alguns momentos do trabalho de um dos casais forneiros, o João-de-barro e sua Joana, cuja união é para sempre. Quer dizer, sem separação ou divórcio. Ter-se-ia o Cristianismo inspirado nesses pássaros para afirmar a indissolubilidade do matrimônio? Ou o contrário?

Empenhado, o jovem par finalizava sua casa logo abaixo da minha janela. Mas o aparecimento de torrões de barro no peitoril da abertura denunciava atividade mais acima. Dito e feito: outra obra na base do andar superior, tocada pelo mesmo casal do andar de baixo.  Pelo jeito, a família vai crescer.

Garantindo proximidade, ao escutar um gorjeio, postava-me, qual estátua, junto ao vidro da janela, ou sacada. Assim, várias vezes, em diferentes dias, conferi a chegada de um dos pássaros com sua carga de material de construção na ponta do bico. Pousava perto do “forninho”, emitia um chilreio de aviso, ficando à espera de que o parceiro liberasse o ponto para completar sua tarefa.

Se faltava, a cena mais encantadora deu-se certa manhã, recém-clareado o dia. Pouco afastado, o João, entre um gorjeio e outro, olha para sua morada, como se estivesse a esperar por alguém. Correm alguns segundos e sua Joana aparece e a passos calmos vai ao seu encontro.

Amorosamente, ficam juntinhos como se combinassem um roteiro. Em pouco, alçam voo sobre o arvoredo e as ruas, livres de estresse e de toda sorte de preocupações que acometem a vida humana.  

                                                           ***
P.S: Em respeito à privacidade dos meus vizinhos, deixo de apresentar fotos do local, mas clique aqui para ver outros exemplares do pássaro joão-de-barro em ação.
  

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A ira dos deuses de Teotihuacán


Almiro Zago

Antes de ir ao México, se o assunto fosse civilizações antigas, pela minha mente passeavam nomes de povos: hititas, assírios, sumérios, babilônicos, egípcios, gregos, romanos. Por certo, esta fixação tem a ver com a forte influência da cultura europeia, base da nossa cultura. 

Claro, não ignorava terem vivido no México e América Central povos com notícias históricas remontantes há 1.200 anos a.C., como os olmecas, maias, toltecas, teotihuacanos. E os astecas, de Montezuma, de tempos mais próximos, tanto que foram eles que enfrentaram os invasores espanhóis e, por estes, levados à derrocada e ao desaparecimento como povo. Sua gente acabou por mesclar-se com outras origens autóctones e europeias.

Por ironia, os sítios arqueológicos pré-colombianos, contendo o espólio dos vencidos e de seus antecessores, representam o maior atrativo turístico mexicano. E foi num deles, Teotihuacán, 40 quilômetros da Capital, ao qual chegamos num sábado, sob o sol abrasador do meio-dia, que nos forçou a trocar o boné por um quase sombrero de palha.

Estávamos pisando em solo da ainda misteriosa Teotihuacán, a cidade sagrada do povo de igual nome, surgida por volta de 200 a.C. Floresceu, mas veio a desparecer com a dispersão de sua gente, que morava em seu entorno, lá pelos idos do ano 300 da nossa era. As causas da queda e o destino dos teotihuacanos, ninguém sabe explicar direito.

Outro ponto curioso é o de ter a cidade permanecido por séculos encoberta de lama e vegetação, a despeito da proximidade com Tenoctiklan, que cederia lugar à cidade do México. E isso a despeito do território ter sido adotado pelos astecas.

Nem os ambiciosos colonizadores espanhóis a conheceram, pois somente nos séculos XIX e XX grande parte de suas ruínas puderam ser reveladas e, a partir delas, arqueólogos lograram a sua reconstituição parcial.

Extasiados com tudo, confirmamos opiniões lidas ou ouvidas: o conjunto arquitetônico de Teotihuacán impressiona mais do que tudo pelas pirâmides. A maior, a do Sol, chega a 65 m de altura, tendo sua base dimensões iguais a de Quéops, no Egito. Escadarias de pedra, de degraus altos e estreitos, levam ao seu topo, que é alcançado por muitos visitantes, de onde admiram belíssimo panorama. Entre eles ninguém me viu, pois os meus joelhos vetaram a façanha. E o mesmo me aconteceu na Pirâmide da Lua, mais baixinha, de 42 m de altura, mas não menos bonita.


Pirâmide do Sol


Pirâmide da Lua   

Conformei-me com a planície. E sentindo a secura do ar pelas narinas, pensei que, além de amor pela astronomia, seriam românticos os teotihuacanos por construírem pirâmides em homenagem ao Sol e à Lua.

Porém, nada de romantismo inspira o nome do amplo caminho que percorríamos, ladeado por escadarias e pequenas construções, entre as duas pirâmides: Avenida dos Mortos. Certamente, homenagem aos que pereciam nos sacrifícios humanos, nos ritos religiosos. 

Para compensar, numa das laterais, vimos arte e poesia no conjunto do que restou do Palácio de Quetzalpapálotl, onde o Templo das Conchas com Plumas ainda conserva uma amostra de belos murais coloridos, com aves que lembram papagaios jorrando água dos bicos. E pertinho dali, no Palácio do Jaguar, pudemos ver fragmento do Mural da Onça Pintada, que, segundo nossa falante guia, representa uma onça com plumas, tocando instrumentos feitos de penas e conchas do mar.

Pois então, bem antes dos europeus pisarem no que seria a América, aqui havia vida inteligente, um povo conhecedor de astronomia, inclusive com calendário próprio e matemática, dominando as artes da pintura, escultura e arquitetura. Quer dizer, havia uma civilização contemporânea à romana, na época da crucificação de Jesus Cristo.

Nem pensar em ver tudo nesse sítio arqueológico em algumas horas. Mesmo assim, conseguimos nos despedir conhecendo o mais afastado dos monumentos: o Templo de Quetzalcoatl, que, na parede frontal, exibe máscaras em pedra da “serpente emplumada”, que é o significado do seu nome.

Vejam que interessante coincidência: a serpente figura na Bíblia do Cristianismo e do Judaísmo e, igualmente, nas manifestações religiosas dos teotihuacanos. Qual o significado disso?

Bem, para chegar àquele lugar, a certa altura, depois de subir e descer íngremes escadarias de altos degraus de uma espécie de plataforma, chegamos a um campo seco que leva ao monumento, exatamente no lado oposto.

Pois fizemos alguns passos, e, repentinamente, um forte vento carregado de poeira nos deteve. Parecia nos sufocar.

Cinco, dez segundos, nem sei bem, teria durado o fenômeno. Porém ao abrir os olhos pude observar o funil de um minitornado se afastando.

Seria aquilo um sinal dos deuses de Teotihuacán, contrariados com nossa presença?  Ou algo só comigo?

Pelo visto, compadeceram-se, pois seguimos em paz.
                                          

Máscaras em pedra da “serpente emplumada”


Maio/2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A joia das montanhas


Almiro Zago

Entardecia na mexicana Sierra Madre del Sur com seus picos enevoados beijando as alturas de 1.800 m, quando o teleférico preguiçosamente elevava-se rumo ao hotel Monte Taxco. Da pequena cabina deixava-se ver a periferia de uma cidade encravada na encosta da montanha até surgirem os coloridos telhados do que seria seu centro histórico.
  
Era Taxco de Alarcón. E vista daquele ponto privilegiado, se um pedaço de mar estivesse aos seus pés, bem lembraria a italiana Positano. Já na manhã seguinte, andando pelas suas ruelas típicas de belo casario, com traços da arquitetura colonial espanhola, até a grande e bonita igreja barroca de Santa Prisca, vinha-me a sensação de estar passeando numa daquelas cidadezinhas das ilhas gregas — Mikonos, Rhodes.

E, todavia, encontrava-me num lugar único, na “Ciudad dela Plata” nascida com a mineração da prata, na terceira dezena do século dezesseis. Ainda hoje sua gente tem nesse metal nobre a base da atividade econômica na manufatura de joias: anéis, colares, braceletes, brincos, pulseiras, além de objetos de adorno e utensílios de luxo. E são vendidos num sem-número de joalherias, particularmente em torno da Plaza Borda.

Nesses lugares, era até bonito de ver o nem sempre contido entusiasmo das mulheres observando, escolhendo e comprando, ou a receber presente.

Taxco é daquelas cidades onde o andar pra cá e pra lá, ou pra cima e pra baixo, já é atração, embora não faltem lugares para ir como o museu da Casa Humboldt; ou o museu Guilherme Spratling, onde, além de obras de arte de toda parte, podem ser vistas peças originárias do período pré-colombiano; a Casa Borda, de 1759; a Casa Figueiroa. E, claro, os bares e restaurantes.


Mas acontece que, estando lá, cada um introjeta seus motivos de encanto: a arquitetura e as ruelas conferindo uma atmosfera peculiar, as joias de prata, a paisagem de montanha, a fachada churrigueresca* da igreja de Santa Prisca, mandada construir, em 1751, por riquíssimo minerador, legando um dos mais belos templos do México.

E, então, Taxco com seus prateados fios vai tecendo sua imagem na lembrança de quem a conheceu.
                                                                                                 ****
* Barroco espanhol do primeiro terço do século XVIII, uma variante do estilo barroco que aplica maior ornamentação.  





quarta-feira, 2 de maio de 2012

O trem cor-de-rosa


Almiro Zago

E temos ainda de suportar a estupidez dos donos desses bichos  pretendendo neles implantar asas de anjo.        


Que tempos são esses que vivemos? 

Ainda que a pergunta apareça carente de toque original, sua atualidade desconcerta.

Talvez sejam os tempos do sucesso da ciência e da tecnologia e, paradoxalmente, da decadência dos valores humanos com a gradativa perda do status de civilizado por expressivos contingentes populacionais em todo o planeta.  

Como não enxergar que o ser humano, pela deplorável conduta de muitos, muito se desqualifica e diminui? E ao desvestir a roupagem da civilização retrocede rumo ao estágio primitivo, a despeito do vasto aparato tecnológico de que dispõe.

E, fincando pé em nossa aldeia, se alguém repetir que formamos uma sociedade tipicamente transgressora periga nem encontrar quem lhe possa oferecer consistente contraponto.

Transgride-se do Oiapoque ao Chuí em todos os níveis. Mata-se por nada, por litígios ligados ao tráfico de drogas, por interesses econômicos, fazendo operar a pena de morte privada.

Rouba-se, furta-se, assalta-se, agride-se, desrespeita-se quase tudo — do sinal de trânsito às comezinhas regras de precedência, de respeito, outrora ditadas pelo costume, mesmo que algumas já estejam inscritas em lei, como a prioridade para deficientes e idosos.

Pois bem. Como se isso tudo fosse pouco, ultimamente somos levados a preocupações com cachorros, sim, certas raças de cães, que ferem, estraçalham e até matam pessoas. E temos ainda de suportar a estupidez dos donos desses bichos pretendendo neles implantar asas de anjo. 

E agora vem outra: está em curso um movimento de usuárias do Trensurb — Porto Alegre ao Vale dos Sinos — reivindicando um vagão exclusivamente para elas. Tudo porque há malandros aproveitando-se do ambiente lotado de passageiros para molestar, perturbar mulheres, desrespeitando sua intimidade. Coisa que já acontece nos trens do Rio e Janeiro.

Ninguém estranhe se, amanhã ou depois, não serão reivindicados ônibus exclusivamente femininos. Ou se a degradação do comportamento, por ora masculino, não nos levar ao fim do misto compartilhar dos meios de transporte coletivo.  Aliás, semelhante ao que já existiu no ensino privado quando havia escolas só femininas e só masculinas.

Claro, o processo educativo tão cedo não vira esse quadro. Pois, então, tentemos      salvar o encanto do sistema misto, quem sabe, adotando um critério de separação, tipo: educados e mal educados.

Certo, haverá só um probleminha a superar: a classificação...

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 “Escrever é um ócio muito trabalhoso.”
 (Goethe)

                      
"Quem escreve, escreve para não morrer. 
Quem lê, lê para imaginar que vive.”
(Delmino Gritti)

segunda-feira, 19 de março de 2012

A leitora do mar


Ergueu-se da cadeira de praia e deixou a sombra do guarda-sol, onde estivera em absorta leitura, carregando o livro de capa cor de vinho. E a passos lentos com o olhar no horizonte infinito caminhou para o mar calmo como se fosse conhecer-lhe as profundezas, a ele entregar-se. Deteve-se, porém, ao receber nos joelhos o massagear das águas em ondas rasas.

De maiô clássico realçando esbeltas formas, estendeu os braços suavemente erguidos, e com as mãos segurou o livro aberto. E pôs-se a ler, indiferente à agitação à sua volta, pois, quem sabe, sua imaginação flanasse por misteriosas e distantes paisagens. E lia com visível interesse e perceptível encanto, sob o sol das dez amorenando sua pele clara.

E sua figura, quase mágica, diria, assim permaneceu, nem sei por quanto tempo, sentindo, por certo, a leitura a afagar-lhe a mente e o coração, e o sol e o mar acariciando-lhe o corpo.

Recriação ficcional de fato real
Capão da Canoa – 9.03.2012

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Divagando

Tenho andado um tanto intrigado com algo que me vem acontecendo, tipo premonição, transmissão de pensamento. Claro, existem, mas o que me frustra é que elas acontecem sem aviso, o que não me permite tirar proveito para acertar a Mega-Sena, por exemplo.

Ultimamente, os, digamos, fenômenos têm dado preferência para a sensibilidade musical, como num domingo, no restaurante Di Variani, em São Sebastião do Caí, onde um bom tecladista executava belo e variado repertório com base nas grandes orquestras dos anos 1950/60, chegando ao atualmente festejado André Rieu. Com alguma emoção, comentei com familiares que ficaria perfeito o espetáculo se o músico tocasse o Va' Pensiero, título usualmente inserto em outra catalogação.

Pois minha frase nem bem libertou-se dos lábios e o belíssimo tema de Verdi já estava no ar, beliscando a emoção.

E nem pensem em fato isolado. Em janeiro, outra vez encontrei-me naquele restaurante, e escutava o mesmo tecladista a animar o ambiente. Acabava a execução de certa música e eu confidenciava aos meus botões que gostaria de ouvir alguma melodia com acordeão ao estilo parisiense. E atendendo “meu pedido”, o primoroso artista saiu a tocar Sob o céu de Paris...

Depois, mais recentemente, mas alternando lugar e ocorrência, vivi duas pequenas e curiosas, porém verdadeiras coincidências.

Foi num bufê a peso, em Capão da Canoa. Em dois dias seguidos, minha mulher e eu vimos na balança e na comanda o mesmo valor, inclusive nos centavos, dos pratos do nosso almoço. Detalhe: nos servimos em momentos diferentes.

Ah, ia esquecendo de um caso doméstico. Testando o ponto de cozimento de massas penne rigate, retirei da fervura uma unidade dentre as muitas dezenas, partindo-a ao meio e devolvendo uma metade à panela. Decorridos uns dois minutos, procurei, a esmo, recolher outra amostra para sentir se a pasta já estava al dente. E sabem o que apareceu na colher? Exatamente aquela metade, e só ela, antes devolvida.

Bem, essas manifestações, até momento, têm-se dado em lugares de comer, o que me traz certa curiosidade. Haveria nisso algum sinal a decifrar?

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Divagando II

Quando viajamos ao exterior, nós brasileiros, estamos habituados a preparar os ouvidos para mensagens no idioma local ou, no máximo, em inglês, principalmente em aeroportos. E isso nos faz um pouco poliglotas, ainda que seja para o elementar, como pedir água, comida, essas coisas. Pensando nisso, acho que devemos relevar mancadas quando tentam falar a nossa língua, como aconteceu no aeroporto de Toronto: “o voo acaba de chegar à sala de embarque...”. Segurei o passo, que ensaiava fuga, ao perceber que avião nenhum invadira o recinto. Tratavam, apenas, de comunicar aos passageiros do voo da Air Canadá, para São Paulo, de que, depois de atraso, chegara a aeronave e logo começaria o embarque.

E perto de meia hora depois: “o voo está encerrado...” Não, nenhuma mágica nos transportara instantaneamente ao aeroporto de Guarulhos. Só queriam informar que terminara o dito embarque.

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Pausa

O escritor e semiólogo italiano Umberto Eco diz que “a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.”

Guardando discrição, aqui, no meu canto, vivo a angústia de correr da primeira categoria para, ao menos, tentar abrigo nas beiradas da segunda.

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Divagando III

Pois é, estaria acabando a ginástica no Brasil, — porém nada a ver com o sumiço das abelhas —, como vai acontecendo com o cachorro, condenado a acabar na beira da estrada a latir para a avassaladora chegada do pet e suas pulgas globalizadas. E que se cuide a bicicleta, pois a bike vem bicando, e, pelo jeito, nossa bici corre o risco de fazer companhia à legião de palavras do português hospedadas no limbo dos dicionários.

Mas voltando à ginástica, em estado de coma, aliás, deu-se que os brasileiros e as brasileiras antenados bandearam-se para o fitness. (Ou seria a fitness?) Lembro-me direitinho dos primeiros contatos com a palavra, intuindo que tanto pudesse ser algum exercício erótico, quanto algo do tipo Yoga, Pilates.

Relapso, é verdade, deixei por isso. Correu um tempão até que fosse às fontes para esclarecer esse assunto, embora já andasse ele no suor, na vida de tanta gente.

Agora, sinto indecisão sobre se devo seguir no atraso, ficando mais por fora ainda, qual figura quixotesca, ou impregnar-me de curiosidade e coragem para bater numa academia de fitness, num fitness center, e vestir a vencedora camiseta dos colonizados contentes. Bah, desculpem se estou sendo politicamente incorreto.

Todavia, antes, por mais urgente, outra inquietante e atroz questão devo enfrentar: afinal, o exercício de alongamento, que faço antes e depois de minhas caminhadas, continua sendo ginástica ou já estaria eu a fazer fitness?

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