quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A era da desobediência


Almiro Zago

Vivemos tempos de desobediência. A começar pelo clima, pelo tempo que vem frustrando nossas expectativas, que andou mandando frio intenso, continuado. E muita chuva para uns, pouca ou nada para outros. E ventos raivantes para todos.

Com a natureza, outra coisa não a há fazer senão o contínuo aprendizado de convivência com ela, devotando-lhe amor e respeito, como devem fazer os bons hóspedes.  Mas não é bem assim que agimos.

Já na sociedade em que vivemos, suscetível de mudanças pela vontade do grupo, dos indivíduos, o proceder de muitos vai tornando difícil o conviver pacífico e respeitoso, democrático e republicano, para usar um termo em voga.

Bem observando, veremos que a desobediência, em graus e formas diversas, é quase generalizada. Nas condutas previstas no Código Penal mostra-se assustadora a quantidade de delinquentes, a audácia e a constância na prática de atos antissociais de gravidade contra as pessoas, contra o patrimônio, contra a administração pública e o erário. Quanto a este, e em preocupante frequência, por quem deveria protegê-lo.

Como se essa criminalidade fosse pouco, vicejam desobediências a preceitos elementares entre a população, no que tange ao respeito ao outro nas simples relações do dia a dia, em atitudes que partem da descortesia e avolumam-se até a grossura. É gente das várias faixas etárias e, se aparência tanto não engana, das diversas camadas sociais, de alto a baixo. O outro... nada conta.

No trânsito, por exemplo, muitos motoristas e outros tantos pedestres revezam-se na inobservância voluntária das simples regras de proceder nas vias públicas.

O sinal vermelho, cada vez mais, vem sendo relativizado em perigoso proceder que poderá levar o trânsito ao caos. E a vida, o que vale?

Para que as coisas funcionem a contento e todos possam exercer seus direitos, a parte de cada um deve ser espontaneamente feita. Isto é fator fundamental da qualidade de vida de qualquer lugar e ajuda a fazer mais felizes as pessoas. 

Há poucos dias, li no blog www.cerebronosso.bio.br/guia-basico-de-neurociencia, a cargo da equipe da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, uma interessante lição sobre a vida social, e por isso a compartilho com os meus caros leitores:

“O que é bom para você não é necessariamente bom para os seus vizinhos. Portanto, para conviver em grupo de maneira harmoniosa (o que traz uma série de vantagens a qualquer espécie) é preciso que cada indivíduo seja capaz de levar os demais em consideração — ou seja, de organizar seu comportamento contando com uma avaliação prévia de como os outros serão afetados por ele, ou antecipando por exemplo o que os outros esperam que aconteça. Levar os outros em consideração ao organizar o próprio comportamento é possível graças a algumas capacidades do cérebro.”

Pois, se a criminalidade que nos atormenta escapa ao nosso controle, será que nós — da parte sadia (?) da sociedade — não poderíamos, ao menos, olhar melhor uns aos outros?

Bem, cérebro já temos, o que é um belo começo.

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P.S: Agradeço os amáveis comentários dos leitores Sílvio Teixeira e Carlos P. Anschau relativos ao texto anterior.