segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ganhos e Perdas

Almiro Zago



Mais do que o nome do livro de Lya Luft, em ordem inversa, o título acima diz da sorte cambiante em episódios da vida da gente.

Pois, há mais de três anos, estive em Possagno, cidadezinha italiana nas bordas do maciço do Monte Grappa, não longe de Treviso e Veneza. Lá, conheci a Gipsoteca e o Museu Antônio Canova - grande escultor e pintor neoclássico que viveu entre 1757 e 1822.

Tenho um carinho muito especial pela gipsoteca e o museu, além de tudo o que representam, por um particular motivo: quando fui conhecê-los cheguei, involuntariamente, ao final da tarde e no exato instante em que cerravam-se as portas. Enquanto procurava assimilar a perda, o meu anfitrião, ao celular, conseguia a permissão do diretor para o meu ingresso, com a justificativa de que, se não fosse naquela hora, nunca mais teria eu a oportunidade de conhecer a Gipsoteca de Canova. E, assim, em alguns minutos, estava em visita a portas fechadas.

Encantei-me com as muitas esculturas, modelos ou cópias em gesso, trazidos do estúdio romano para a terra natal de Canova, após sua morte. Um modelo, porém, cativou-me para sempre: o conjunto das Três Graças, representando o abraço das deusas Aglaia, a claridade; Talia, a amiga da vida; e Eufrosina, o sentido da alegria. Seriam as cárites da mitologia grega. Dizia a cartela descritiva que "numa feliz modulação dos corpos, suas cabeças inclinam-se amorosamente uma na outra. A suavidade das carnes e a doçura dos ágeis corpos fazem deste trabalho uma das mais famosas obras-primas canovianas."

Não admira que muitos estudiosos e conhecedores da dificílima arte do cinzel considerem ter o talentoso escultor alcançado o ideal do belo com as Três Graças.

Se a peça de arte que me fascinou - mais não era do que o modelo em gesso da que foi esculpida em mármore, o que seria, então, a obra prima no branco mármore de Carrara?

Logo, soube que essa escultura pertence ao Museu Ermitage, de São Petersburgo. Admirá-la ao natural? Nunca, foi o que pensei, pois planos não tinha e, ao que me parecia, nem possibilidades de ir à Rússia.

Bafejado pela brisa da sorte, meio incrédulo, encontrei-me, recentemente, a passear pelas avenidas e canais, pelo Rio Neva e suas ilhas que formam São Petersburgo. Na antiga capital dos Czares, curti a emoção da música da Velha Rússia. E conheci os belos templos russo-ortodoxos, como a Catedral de Santo Isaac, a Igreja do Salvador sobre o Sangue Derramado e a Catedral de Pedro e Paulo, onde, há pouco tempo, deram sepultura ao último Czar e sua família, mortos ao início da revolução russa. Sobre um barco de guerra ancorado, vi o canhão que deu o disparo, a senha para o assalto bolchevique ao palácio imperial, em outubro de 1917.

A grande e bela São Petersburgo, que já se chamou Leningrado e Petrogrado, é rica em atrações. E o Museu Hermitage, a mais impressionante. Conhecê-lo razoavelmente demanda muitas horas, vários dias. Já no meu caso, consideradas as contingências de tempo, rendido à realidade, aceitei, como todo meu grupo, uma visita guiada com um roteiro compacto, mostrando um resumo do imenso acervo e o esplendor das instalações.

Ao final do programa, para ter uma recordação material da ímpar experiência, comprei um livro, contendo reproduções impressas de obras de arte representativas de autores mais reconhecidos.

Mal sabia que a brisa da sorte mudara de rumo.

De volta a casa, já passados uns 15 dias, minha mulher, insinuando desagradável notícia, sugeriu-me que examinasse o livro do Ermitage. Foi o que fiz. E, à página 127, ofuscou-me a vista o mármore branco das "Três Graças" de Antônio Canova!

Quem sabe a sala da escultura não estivesse no roteiro da visita guiada, ou, quiçá, por lá tivesse passado sem me dar conta, ou, pior, por ter-me esquecido... A decepcionante verdade, porém, dizia que o meu olhar não pousara sobre o "capolavoro" do grande mestre italiano.

Achegou-se, então, o sentimento de perda e, com ele, a dura revelação: agora, sim, deveria dizer que nunca verei as Três Graças em mármore branco.

E, imaginem, fiquei sem graça.

Outubro 2008

sábado, 15 de novembro de 2008

Há vida após o casamento (?)

... a continuação de "Saí de casa (?)"

Embora ainda não tenha know how suficiente para discorrer sobre o assunto – visto que meu enlace beira uns dois meses de história – posso me dar o direito de afirmar que há sim, vida após o casamento, pois eis que, caros leitores virtuais, depois do casamento tem a lua-de-mel.

Não houve mudança de nome propriamente dita, continuo oficialmente sendo do meu pai e da minha mãe, pois conforme sempre gritei aos quatro ventos, não sou terreno, ninguém me passa pro nome de ninguém. Mas posso ceder um pouco nesta questão, já que casamento é isso mesmo, ceder daqui e dali (acreditem no que te falam), e aceitar a idéia de que agora a Mulher de Sardas é a Mulher de Sardas do Caio, ou melhor, para não ceder tudo de uma vez, a Mulher de Sardas com o Caio, e fiquem sabendo que isso não é pouca coisa.

A Mulher de Sardas com o Caio acorda e faz um café-com-leite, não toma mais Nescau. Porque o Caio ama café-com-leite, porque fazer café-com-leite é um ritual, porque cheiro de café-com-leite se mistura com os raios de sol que entram pelas janelas de manhã e me enchem de vontade de existir.

A Mulher de Sardas com o Caio continua saindo de casa em cima da hora, porque certas coisas que são nossas-só-nossas devemos manter conosco indiferente à situação, e o que seria da minha individualidade sem a praguejação diária: eu tô atrasada, que merda, eu tô atrasada de novo.

A Mulher de Sardas com o Caio, vejam só, ressuscitou a agenda que compra todo início de ano para preencher a folha de identificação e guardar na gaveta, e anoto tudo, tudinho, superorganizada e consciente das tarefas diárias, marcando oks nas cumpridas com êxito, e o mais surpreendente de tudo, talvez não para vocês, mas para mim, cumprindo todas, todinhas. E eu não vou nem falar das contas, mas só para dar uma idéia, elas ocupam agora apenas meia página de cada dia 5.

A Mulher de Sardas com o Caio chega do trabalho – da selva da cidade grande – pronta para briga, com os dentes arreganhados, procurando sarna para todo mundo coçar e pistas e marcas na casa e no Caio como se fosse tudo uma coisa só e até a casa tivesse autonomia para me trair, simplesmente porque o ciúme é um fato em mim e tudo o que considero meu, na minha opinião, deveria passar o dia inteiro ao meu redor.

A Mulher de Sardas com o Caio sempre acha que o Caio poderia me dar um pouquinho mais de atenção.

A Mulher de Sardas com o Caio continua ganhando colo do pai e da mãe.

A Mulher de Sardas com o Caio fica desesperada porque não cabe tudo num dia (que novidade, não?).

A Mulher de Sardas com o Caio adora quando chega domingo e nós dois podemos ficar namorando na e a nossa casa, que é linda demais, que tem uma cara muito nossa, que todo mundo gosta de ir até pra ficar lá parado olhando, porque as luzes as cores e os perfumes fazem você sair mais feliz do que entrou.

A Mulher de Sardas com o Caio quer ser cada dia mais com o Caio e algum dia, se bobear, ser completamente do Caio, porque meu discurso feminista vai até onde começa minha vontade de não sair mais de dentro daquele abraço, de dormir com o nariz grudado naquele pescoço, de acordar mergulhada naqueles olhos, de caminhar apoiada naquelas mãos, de me enrolar naquela pele toda, que é toda cheiro, toda quente, toda delícia.

E eu não quero ficar me exibindo, mas a Mulher de Sardas com o Caio chega em casa e come os melhores jantares, porque o Caio cozinha bem pra caramba.

Ah, a Mulher de Sardas com o Caio engordou...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

E tem mais Mecânicos na Feira...

Cordão da Saideira: É proibido proibir

Espetáculo musical celebrando os 40 anos de Maio de 68. Com Cristiano Velasques Hanssen, Diogo Rodrigues Gomes e Marco Antonio Saretta Poglia, um talentosíssimo Mecânico da Palavra.

Quando: 14/11/2008
Hora: 20:30
Local: Tenda de Pasárgada - Leito da Rua Cassiano Nascimento, entre o Memorial do RS e o Santander Cultural - Adulto

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Almiro Zago e Walter Galvani na Feira do Livro


Almiro Zago e suas Mínimas Confissões


Muito gostaríamos que você, leitor habitual ou visitante deste blog, conhecesse a coletânea de crônicas e outras narrativas Mínimas Confissões, na Feira do Livro.

É certo que estará nas bancas da Livraria do Maneco e da Livraria Nova Roma.

E se você estiver muito longe da Praça da Alfândega, acesse o site da editora: www.letraevida.com.br

Os Mecânicos da Palavra e o autor agradecem.

Clique na imagem para ler na íntegra:




Walter Galvani e O prazer de ler jornal - Da Acta Diurna ao blog


O professor e padrinho deste grupo Walter Galvani ministrará, no dia 6 de novembro, às 15h30min, na Sala Arquipélago do Centro Cultural Erico Verissimo da CEEE, a oficina sobre o tema O prazer de ler jornal - Da Acta Diurna ao blog.

Logo mais às 18h30, no pavilhão de autógrafos, lançará seu novo livro, com o mesmo título, editado pela Unisinos.

Compareçam! Os Mecânicos contam com a sua participação.