Almiro Zago
E temos ainda de suportar a estupidez dos donos desses bichos pretendendo neles implantar asas de anjo.
Que tempos são esses que vivemos?
Ainda que a pergunta apareça carente de toque original, sua atualidade desconcerta.
Talvez sejam os tempos do sucesso da ciência e da tecnologia e, paradoxalmente, da decadência dos valores humanos com a gradativa perda do status de civilizado por expressivos contingentes populacionais em todo o planeta.
Como não enxergar que o ser humano, pela deplorável conduta de muitos, muito se desqualifica e diminui? E ao desvestir a roupagem da civilização retrocede rumo ao estágio primitivo, a despeito do vasto aparato tecnológico de que dispõe.
E, fincando pé em nossa aldeia, se alguém repetir que formamos uma sociedade tipicamente transgressora periga nem encontrar quem lhe possa oferecer consistente contraponto.
Transgride-se do Oiapoque ao Chuí em todos os níveis. Mata-se por nada, por litígios ligados ao tráfico de drogas, por interesses econômicos, fazendo operar a pena de morte privada.
Rouba-se, furta-se, assalta-se, agride-se, desrespeita-se quase tudo — do sinal de trânsito às comezinhas regras de precedência, de respeito, outrora ditadas pelo costume, mesmo que algumas já estejam inscritas em lei, como a prioridade para deficientes e idosos.
Pois bem. Como se isso tudo fosse pouco, ultimamente somos levados a preocupações com cachorros, sim, certas raças de cães, que ferem, estraçalham e até matam pessoas. E temos ainda de suportar a estupidez dos donos desses bichos pretendendo neles implantar asas de anjo.
E agora vem outra: está em curso um movimento de usuárias do Trensurb — Porto Alegre ao Vale dos Sinos — reivindicando um vagão exclusivamente para elas. Tudo porque há malandros aproveitando-se do ambiente lotado de passageiros para molestar, perturbar mulheres, desrespeitando sua intimidade. Coisa que já acontece nos trens do Rio e Janeiro.
Ninguém estranhe se, amanhã ou depois, não serão reivindicados ônibus exclusivamente femininos. Ou se a degradação do comportamento, por ora masculino, não nos levar ao fim do misto compartilhar dos meios de transporte coletivo. Aliás, semelhante ao que já existiu no ensino privado quando havia escolas só femininas e só masculinas.
Claro, o processo educativo tão cedo não vira esse quadro. Pois, então, tentemos salvar o encanto do sistema misto, quem sabe, adotando um critério de separação, tipo: educados e mal educados.
Certo, haverá só um probleminha a superar: a classificação...
***
“Escrever é um ócio muito trabalhoso.”
(Goethe)
"Quem escreve, escreve para não morrer.
Quem lê, lê para imaginar que vive.”
(Delmino Gritti)
Nenhum comentário:
Postar um comentário