segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Do bóson de Higgs ao vaso do Gates

Almiro Zago 

Sentindo evaporar-se agosto, confortou-me a percepção de que 2012 já nos revelou coisas significativas para o planeta. Prestei atenção na recente Olimpíada de Londres, quando tivemos a confirmação dos Jogos Olímpicos como evento esportivo congraçador dos povos, superior à Copa do Mundo. Só faltaria substituir, no pódio, o hino do país do atleta pelo Hino Olímpico. Ah, o Ronaldinho voltou a jogar futebol, tivemos essa também. 

E apareceu em julho o Bóson de Higgs, embora minha oposição subconsciente busque nos registros o bócio de Higgs, e, ainda por cima, exiba a imagem de uma glândula tireoide hipertrofiada. 

Meio segundo depois vai o fio da memória ao escaninho certo, permitindo-me referir que o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear, o Cern, anunciou ter encontrado, por meio do Colisor de Hádrons, uma partícula subatômica que poderia ser o famoso bóson de Higgs. Tratar-se-ia, dizem, de uma espécie de peça faltante para explicar a "materialidade" do nosso universo. Não obstante, a apelidada "partícula de Deus" ainda carece de comprovação plena.  

Estamos, leio e escuto, diante de um feito científico extraordinário. Mas isso não esmaece minhas implicâncias para com o projeto do Cern, sob a ótica da prioridade. Enquanto levamos a Terra à exaustão por ene formas predatórias, poluidoras etc., os físicos, a custos bilionários em euros, seguem fixados na origem do universo. 

Em compensação, em menor escala, é verdade, outros pesquisadores estiveram empenhados em torno de uma ideia, prosaica na aparência e pouco atraente para alguns, mas de enorme significado para a saúde pública mundo afora: a reinvenção da privada. Vejam, ao tempo da Revolução Francesa já existia o modelo atual, certamente não na Bastilha. A lúcida iniciativa de renovação partiu da Fundação Bill & Melinda Gates, que doou recursos a oito universidades para enfrentarem o desafio. 

Saído em agosto, o resultado é deveras inovador. Para começo, o Instituto de Tecnologia da Califórnia, primeiro colocado, criou um vaso sanitário que funciona com energia solar gerando eletricidade e hidrogênio. 

Depois, a Universidade Loughborough, do Reino Unido, alcançou o segundo lugar com um aparelho que transforma os dejetos em carvão biológico, minerais e água limpa. 

Já a Universidade de Toronto desenvolveu uma privada que higieniza sólidos e líquidos, e recupera água limpa, obtendo a terceira posição. 

Acredito que essas novidades serão aperfeiçoadas com vistas aos custos e à praticidade para rápida disseminação, em especial nas regiões mais carentes de saneamento básico. De qualquer modo, deu-se um passo importante em favor da saúde das pessoas, do solo e das águas. 

Bah, ia me esquecendo de que, há mais de ano, neste mesmo blog, quando alardeavam o sucesso dos físicos na simulação do big bang e a Fundação Bill & Melinda Gates lançava o desafio para a reinvenção da privada, disse torcer para que, muito antes dos cientistas do Colisor de Hádrons encontrarem o Bóson de Higgs, seus colegas mais modestos encontrariam solução ecológica para o vaso sanitário. 

Pois não é que os físicos do Cern, a 4 de julho, deram a notícia de terem encontrado bóson de Higgs, e, em agosto, os pesquisadores subsidiados por Bill Gates apresentavam várias alternativas ecológicas para a privada!? 

Se em parte frustrou-se minha torcida, calha bem o empate técnico. 

Daqui para frente, resta conferir qual dos dois achados será mais proveitoso para o dia a dia da Terra e de seus hóspedes. 

 Garanto, não ficarei chateado em caso de repetição do escore. 

(31.08.2012)

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