Almiro Zago
Antes de ir ao México, se o assunto fosse civilizações antigas,
pela minha mente passeavam nomes de povos: hititas, assírios, sumérios,
babilônicos, egípcios, gregos, romanos. Por certo, esta fixação tem a ver com a
forte influência da cultura europeia, base da nossa cultura.
Claro, não ignorava terem vivido no México e América Central povos
com notícias históricas remontantes há 1.200 anos a.C., como os olmecas, maias,
toltecas, teotihuacanos. E os astecas, de Montezuma, de tempos mais próximos, tanto
que foram eles que enfrentaram os invasores espanhóis e, por estes, levados à
derrocada e ao desaparecimento como povo. Sua gente acabou por mesclar-se com
outras origens autóctones e europeias.
Por ironia, os sítios arqueológicos pré-colombianos, contendo o espólio
dos vencidos e de seus antecessores, representam o maior atrativo turístico mexicano.
E foi num deles, Teotihuacán, 40 quilômetros da Capital, ao qual chegamos num
sábado, sob o sol abrasador do meio-dia, que nos forçou a trocar o boné por um
quase sombrero de palha.
Estávamos pisando em solo da ainda misteriosa Teotihuacán, a
cidade sagrada do povo de igual nome, surgida por volta de 200 a.C. Floresceu,
mas veio a desparecer com a dispersão de sua gente, que morava em seu entorno,
lá pelos idos do ano 300 da nossa era. As causas da queda e o destino dos teotihuacanos,
ninguém sabe explicar direito.
Outro ponto curioso é o de ter a cidade permanecido por séculos
encoberta de lama e vegetação, a despeito da proximidade com Tenoctiklan, que
cederia lugar à cidade do México. E isso a despeito do território ter sido
adotado pelos astecas.
Nem os ambiciosos colonizadores espanhóis a conheceram, pois somente
nos séculos XIX e XX grande parte de suas ruínas puderam ser reveladas e, a
partir delas, arqueólogos lograram a sua reconstituição parcial.
Extasiados com tudo, confirmamos opiniões lidas ou ouvidas: o conjunto
arquitetônico de Teotihuacán impressiona mais do que tudo pelas pirâmides. A
maior, a do Sol, chega a 65 m de altura, tendo sua base dimensões iguais a de
Quéops, no Egito. Escadarias de pedra, de degraus altos e estreitos, levam ao
seu topo, que é alcançado por muitos visitantes, de onde admiram belíssimo
panorama. Entre eles ninguém me viu, pois os meus joelhos vetaram a façanha. E
o mesmo me aconteceu na Pirâmide da Lua, mais baixinha, de 42 m de altura, mas
não menos bonita.
Pirâmide
do Sol
Pirâmide da Lua
Conformei-me com a planície. E sentindo a secura do ar pelas
narinas, pensei que, além de amor pela astronomia, seriam românticos os teotihuacanos
por construírem pirâmides em homenagem ao Sol e à Lua.
Porém, nada de romantismo inspira o nome do amplo caminho que
percorríamos, ladeado por escadarias e pequenas construções, entre as duas
pirâmides: Avenida dos Mortos. Certamente, homenagem aos que pereciam nos
sacrifícios humanos, nos ritos religiosos.
Para compensar, numa das laterais, vimos arte e poesia no conjunto
do que restou do Palácio de Quetzalpapálotl, onde o Templo das Conchas com
Plumas ainda conserva uma amostra de belos murais coloridos, com aves que
lembram papagaios jorrando água dos bicos. E pertinho dali, no Palácio do
Jaguar, pudemos ver fragmento do Mural da Onça Pintada, que, segundo nossa
falante guia, representa uma onça com plumas, tocando instrumentos feitos de
penas e conchas do mar.
Pois então, bem antes dos europeus pisarem no que seria a América,
aqui havia vida inteligente, um povo conhecedor de astronomia, inclusive com
calendário próprio e matemática, dominando as artes da pintura, escultura e
arquitetura. Quer dizer, havia uma civilização contemporânea à romana, na época
da crucificação de Jesus Cristo.
Nem pensar em ver tudo nesse sítio arqueológico em algumas horas.
Mesmo assim, conseguimos nos despedir conhecendo o mais afastado dos
monumentos: o Templo de Quetzalcoatl, que, na parede frontal, exibe máscaras em
pedra da “serpente emplumada”, que é o significado do seu nome.
Vejam que interessante coincidência: a serpente figura na Bíblia
do Cristianismo e do Judaísmo e, igualmente, nas manifestações religiosas dos teotihuacanos.
Qual o significado disso?
Bem, para chegar àquele lugar, a certa altura, depois de subir e
descer íngremes escadarias de altos degraus de uma espécie de plataforma,
chegamos a um campo seco que leva ao monumento, exatamente no lado oposto.
Pois fizemos alguns passos, e, repentinamente, um forte vento
carregado de poeira nos deteve. Parecia nos sufocar.
Cinco, dez segundos, nem sei bem, teria durado o fenômeno. Porém
ao abrir os olhos pude observar o funil de um minitornado se afastando.
Seria aquilo um sinal dos deuses de Teotihuacán, contrariados com
nossa presença? Ou algo só comigo?
Pelo visto, compadeceram-se, pois seguimos em paz.
Máscaras
em pedra da “serpente emplumada”
Maio/2012
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