segunda-feira, 19 de março de 2012

A leitora do mar


Ergueu-se da cadeira de praia e deixou a sombra do guarda-sol, onde estivera em absorta leitura, carregando o livro de capa cor de vinho. E a passos lentos com o olhar no horizonte infinito caminhou para o mar calmo como se fosse conhecer-lhe as profundezas, a ele entregar-se. Deteve-se, porém, ao receber nos joelhos o massagear das águas em ondas rasas.

De maiô clássico realçando esbeltas formas, estendeu os braços suavemente erguidos, e com as mãos segurou o livro aberto. E pôs-se a ler, indiferente à agitação à sua volta, pois, quem sabe, sua imaginação flanasse por misteriosas e distantes paisagens. E lia com visível interesse e perceptível encanto, sob o sol das dez amorenando sua pele clara.

E sua figura, quase mágica, diria, assim permaneceu, nem sei por quanto tempo, sentindo, por certo, a leitura a afagar-lhe a mente e o coração, e o sol e o mar acariciando-lhe o corpo.

Recriação ficcional de fato real
Capão da Canoa – 9.03.2012

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Divagando

Tenho andado um tanto intrigado com algo que me vem acontecendo, tipo premonição, transmissão de pensamento. Claro, existem, mas o que me frustra é que elas acontecem sem aviso, o que não me permite tirar proveito para acertar a Mega-Sena, por exemplo.

Ultimamente, os, digamos, fenômenos têm dado preferência para a sensibilidade musical, como num domingo, no restaurante Di Variani, em São Sebastião do Caí, onde um bom tecladista executava belo e variado repertório com base nas grandes orquestras dos anos 1950/60, chegando ao atualmente festejado André Rieu. Com alguma emoção, comentei com familiares que ficaria perfeito o espetáculo se o músico tocasse o Va' Pensiero, título usualmente inserto em outra catalogação.

Pois minha frase nem bem libertou-se dos lábios e o belíssimo tema de Verdi já estava no ar, beliscando a emoção.

E nem pensem em fato isolado. Em janeiro, outra vez encontrei-me naquele restaurante, e escutava o mesmo tecladista a animar o ambiente. Acabava a execução de certa música e eu confidenciava aos meus botões que gostaria de ouvir alguma melodia com acordeão ao estilo parisiense. E atendendo “meu pedido”, o primoroso artista saiu a tocar Sob o céu de Paris...

Depois, mais recentemente, mas alternando lugar e ocorrência, vivi duas pequenas e curiosas, porém verdadeiras coincidências.

Foi num bufê a peso, em Capão da Canoa. Em dois dias seguidos, minha mulher e eu vimos na balança e na comanda o mesmo valor, inclusive nos centavos, dos pratos do nosso almoço. Detalhe: nos servimos em momentos diferentes.

Ah, ia esquecendo de um caso doméstico. Testando o ponto de cozimento de massas penne rigate, retirei da fervura uma unidade dentre as muitas dezenas, partindo-a ao meio e devolvendo uma metade à panela. Decorridos uns dois minutos, procurei, a esmo, recolher outra amostra para sentir se a pasta já estava al dente. E sabem o que apareceu na colher? Exatamente aquela metade, e só ela, antes devolvida.

Bem, essas manifestações, até momento, têm-se dado em lugares de comer, o que me traz certa curiosidade. Haveria nisso algum sinal a decifrar?

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Divagando II

Quando viajamos ao exterior, nós brasileiros, estamos habituados a preparar os ouvidos para mensagens no idioma local ou, no máximo, em inglês, principalmente em aeroportos. E isso nos faz um pouco poliglotas, ainda que seja para o elementar, como pedir água, comida, essas coisas. Pensando nisso, acho que devemos relevar mancadas quando tentam falar a nossa língua, como aconteceu no aeroporto de Toronto: “o voo acaba de chegar à sala de embarque...”. Segurei o passo, que ensaiava fuga, ao perceber que avião nenhum invadira o recinto. Tratavam, apenas, de comunicar aos passageiros do voo da Air Canadá, para São Paulo, de que, depois de atraso, chegara a aeronave e logo começaria o embarque.

E perto de meia hora depois: “o voo está encerrado...” Não, nenhuma mágica nos transportara instantaneamente ao aeroporto de Guarulhos. Só queriam informar que terminara o dito embarque.

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Pausa

O escritor e semiólogo italiano Umberto Eco diz que “a internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário.”

Guardando discrição, aqui, no meu canto, vivo a angústia de correr da primeira categoria para, ao menos, tentar abrigo nas beiradas da segunda.

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Divagando III

Pois é, estaria acabando a ginástica no Brasil, — porém nada a ver com o sumiço das abelhas —, como vai acontecendo com o cachorro, condenado a acabar na beira da estrada a latir para a avassaladora chegada do pet e suas pulgas globalizadas. E que se cuide a bicicleta, pois a bike vem bicando, e, pelo jeito, nossa bici corre o risco de fazer companhia à legião de palavras do português hospedadas no limbo dos dicionários.

Mas voltando à ginástica, em estado de coma, aliás, deu-se que os brasileiros e as brasileiras antenados bandearam-se para o fitness. (Ou seria a fitness?) Lembro-me direitinho dos primeiros contatos com a palavra, intuindo que tanto pudesse ser algum exercício erótico, quanto algo do tipo Yoga, Pilates.

Relapso, é verdade, deixei por isso. Correu um tempão até que fosse às fontes para esclarecer esse assunto, embora já andasse ele no suor, na vida de tanta gente.

Agora, sinto indecisão sobre se devo seguir no atraso, ficando mais por fora ainda, qual figura quixotesca, ou impregnar-me de curiosidade e coragem para bater numa academia de fitness, num fitness center, e vestir a vencedora camiseta dos colonizados contentes. Bah, desculpem se estou sendo politicamente incorreto.

Todavia, antes, por mais urgente, outra inquietante e atroz questão devo enfrentar: afinal, o exercício de alongamento, que faço antes e depois de minhas caminhadas, continua sendo ginástica ou já estaria eu a fazer fitness?

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