Almiro Zago
Numa de suas festejadas crônicas, recentemente publicada em seu site, Walter Galvani escreveu que "Não existe nada mais mortal do que a Palavra, sim, um instrumento letal se for usado nesse sentido. Fere e mata, mais do que uma espada, um revólver, uma bomba."
Embora longe de tão dramáticos resultados, pude sentir na própria pele as conseqüências de algo que escrevi com a despretensiosa intenção de um certo humor irônico. Apenas isso. Porém, pelo que depois me aconteceu, foi o bastante para ocultas iras incendiar contra mim.
Tudo começou com "Cenas de Viagens", texto de Isabel Cristina CCarvalho, a 9 de julho inserido neste blog, em que a autora contou um fato sucedido, de certa feita, a ela e sua amiga Marta ao desembarcarem no aeroporto de Schiphol, em Amsterdã. Eram ambas as últimas a sair, seguindo uma senhora robusta e trêmula que, na escada do avião, desequilibrou-se e caiu abruptamente de costas sobre os pés de Marta que também caiu, como num jogo de dominó, sobre as pernas de Isabel, a cronista.
Claro, apanhei o assunto pelo seu lado hilariante e, a pretexto de comentar a crônica, disse alguma coisa sobre o episódio, exatamente com estas palavras:
"Depois do que li em tua crônica, longe de qualquer idéia preconceituosa, passarei a guardar distância de segurança de senhoras robustas e trêmulas ao desembarcar de aeronaves."
Inofensivas palavras, em meu sentir, injúria, porém, à suscetibilidade de outrem, como veremos.
Suspeito, e ainda estou a imaginar, que a causadora do acidente e senhoras em condições semelhantes, sabe-se lá por qual meio feridas pelo texto, e inspiradas pela divindade protetora de mulheres com peculiares características, tenham-se reunido em corrente de energia solidária e vingativa, preparando-me o troco. Deve ter sido algo assim, pois descreio em mera coincidência. E, contudo, não se fez esperar o castigo.
Nem bem completado um mês da minúscula publicação, encontrei-me no grande e movimentado aeroporto de Schiphol, de Amsterdã. Sem a menor lembrança daquele fato e integrado a um grupo de gaúchos, percorria o longo caminho para alcançar o portão de embarque para o vôo que nos levaria a Moscou. No percurso, os usuários podiam andar em esteiras rolantes, o que também fiz. Alguns, como eu, conduziam carrinho para bagagem de mão.
Bem, aconteceu que à minha frente, atrás de seu carrinho, ia uma "certa senhora"...
Tomado pela emoção de ir à Rússia e esquecido da promessa de guardar distância, só adotei a cautela alertado por minha mulher.
Mas como tudo termina, o final da esteira também chegou. E a "certa senhora" não se apercebeu de que a partir daquele ponto deveria empurrar o dito carrinho. Por causa disso, instantaneamente trancou-se a saída, e, num átimo, vi a mulher estirada ao meu lado. Atônito, sem conseguir socorrê-la nem desobstruir a passagem, fui caindo seguido pelos que vinham à retaguarda, pois o chão movia-se sob os pés. Ainda em tempo, alguém desligou a máquina e, susto fora, o drama acabou sem maiores conseqüências.
E, aí, revelou-se a suprema ironia: a nova involuntária causadora de acidente não era robusta e trêmula, mas uma frágil e magra e senhora...
(30.08.08)
terça-feira, 2 de setembro de 2008
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2 comentários:
Almiro: eu quase tive uma coisa de tanto rir quando Camila me contou que havia postado sua crônica! Mas o meu lado sério me pergunta: e o lado humano e social deste aeroporto, não existe? E agora nem é a questão gordo ou magro e sim o cuidado para com as pessoas. Elas estão sendo cuidadas? Uma pessoa obesa não merece maior cuidado numa descida? Uma magra na subida ou chegada...tanto faz...
Sua crônica foi reveladora e dos novos tempos. Acredite! Beijos!
Eu queria ver vocês dois juntos em uma viagem... mil confusões! hihihihihi... Mais ou menos como eu e a Isabel perdidas em Viamão atrás de uma tal de Alvi, que não, não é uma pessoa...
hum...cheirinho de crônica...hihihihi
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