quarta-feira, 11 de março de 2009

Cantando minha aldeia

Almiro Zago

(para o semanário "O Tempo Todo", de Caxias do Sul)

Parece que foi ontem, desculpem o lugar-comum, mas já se foram vinte e seis anos desde que deixei Caxias, sem, contudo, esquecer as raízes e os marcantes laços afetivos.

Quem parte do lugar que ama, bem sabe do significado de - "Paese mio ti lascio, io vado via", isto é, minha cidade te deixo, eu vou embora -, da bela canção "Che sarà".

Pois, pelas voltas da vida, e falo especialmente para quem não me conhece, estive a trabalhar por um bom tempo em várias cidades do interior e na capital de Santa Catarina. Mais tarde, por semelhantes desígnios, Porto Alegre, amavelmente, passou a abrigar meu endereço. Aliás, essa cidade é daquelas que não faz perguntas a quem chega, e isso lhe confere um certo ar cosmopolita.

Com efeito, essa movimentação toda, além de capacitar-me, infelizmente sem proveito, para consultor de mudanças, ensinou-me a querer bem a todas as cidades que me acolheram e para cada uma delas guardo espaço significativo em minhas lembranças.

Mas falando em minha terra, as recordações têm vindo acompanhadas pela nostalgia da inevitável perda do cotidiano com seu processo de desenvolvimento e transformações sociais e culturais.

Inconscientemente, toda vez que venho a Caxias, sou levado a garimpar referências do meu tempo. Sem pedir licença, a memória fotográfica vai à quase esquecida infância e exibe o instantâneo da minha primeira imagem da Metrópole do Vinho: sua face norte espalhada de leste a oeste, tal qual imenso telhado, cor de telha, sim, e, de tanto em tanto, manchado pelo verde dos arvoredos dos quintais.

Depois, parecendo competir em altura com uma ou outra chaminé de fábrica, apareciam a Catedral, o prédio da Metalúrgica Abramo Eberle e o Hospital Pompéia.

O que veio depois, todos sabemos.

Porém, a despeito da expansão urbana, dos shoppings e da crescente industrialização, Caxias, fiquei contente de notar, conserva uma forte referência: o seu centro - não contaminado pela degradação, como aconteceu país afora.

Dei-me conta disso, certa tarde, e não faz muito, caminhando pela Avenida Júlio de São Pelegrino à Praça Dante, tomado de agradável sensação, como se estivesse passeando numa boa cidade, dessas que em viagens se tem chance de conhecer.

O motivo? À minha volta, uma via arejada, limpa e bonita com vitrinas e portas de lojas ao meu lado, e gente por tudo. E num ambiente mais ou menos assim, pode-se percorrer quase toda a área central, embora mais atraente ficasse sem a poluição visual de certas fachadas comerciais e com algum capricho na conservação de uma ou outra calçada.

Acima de tudo, entretanto, é a Caxias, de hoje, a proporcionar o prazer de andar e passear ou de fazer compras no centro. Disso, certamente, resultam pontos para a humanização e ganhos nas atividades econômicas.

Olhem, a continuar assim, periga alguém voltar...


Fev. 2009

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