terça-feira, 6 de outubro de 2009

Os livros e a praça

 Para o semanário "Tempo Todo",  de Caxias do Sul

Almiro Zago

Os livros são pequenos pedaços do incomensurável. 
(Stephan Zweig)

A praça, talvez  nem seja a mesma. Dante Alighieri,  seu antigo patrono, retomou seu posto, sem mágoas de Ruy Barbosa, imagino, pois num certo momento histórico  tivera seu nome  usado com fins pseudopatrióticos para despejar o autor da Divina Comédia. 

Depois, a radical e bonita remodelação paisagística,  feita há uns poucos anos, também  favorece  a ideia de que outra seja a praça. Olhando bem, apenas alguma coisa do seu chafariz e  a Estátua da Liberdade, a oliveira vizinha de uma araucária e o  monumento ao Duque de Caxias  me dizem algo  do   belo espaço público da minha adolescência e juventude. 

Mas,  nos afetos do meu imaginário,  nada mudou do ponto de encontro da cidade, o lugar de reunir-me com amigos antes do cinema, de ver as garotas, de passear com a namorada. 

E foi ali,  num dos primeiros meses de 1961,  que eu conheci uma modesta,  porém intrépida  Feira do Livro  com descontos e tudo.

Embora não tenha sido fácil  reunir  pequena soma em Cruzeiros, comprei três livros - de menor preço -, escolhidos dentre os volumosos para ter mais leitura e viver aquilo que  Jorge Luis Borges referia como uma forma de felicidade.

E bem me lembro  do mais alentado, traduzido do espanhol,  que trazia o curioso título: "Epitalâmio do Negro Trinidad".

Custei a entender a história  porque havia tomado  epitalâmio por  epitáfio. Claro, ficou  mais fácil entender a novela de Ramón J. Sender ao descobrir o significado: canto ou poema nupcial. Confesso, entretanto, ter ido ao  Google resgatar o nome do autor. 

Ao curso do tempo,  outras Feiras do Livro vieram  marcar ponto na praça  até esta vigésima quinta consecutiva. E, agora,  é lá que se apanham os bilhetes econômicos da  melhor nave para viajar longe: o livro, como teria dito Emily Dickinson.

Mesmo sem morar em Caxias, venho participando de quase todas as Feiras,  como leitor. 

Levando a sério o que disse Italo Calvino - "escrever, é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto" -,  desde a edição de 2007, tenho  a  alegria de incluir-me entre os autores.

E isso, passados 46  anos  do "canto nupcial" do Negro Trinidad.

Ah, esclareço: já não confundo  epitalâmio com epitáfio... 

Meu livro "Mínimas Confissões" estará na Feira do Livro de  Caxias do Sul, de 2 a 18 de outubro, na Praça Dante Alighieri.

Um comentário:

Uili disse...

Muito bom conhecê-lo pessoalmente, após já conhecer sua obra.
Você escreve muiot bem.
Temos que conversar mais...
Abraço

visite
www.uilibergamin.blogspot.com