sábado, 20 de novembro de 2010

Rovílio Costa e o escritor

 Almiro Zago

Recentemente,   divulguei neste blog o convite para o lançamento do livro  Construtores de História – Famílias Italianas do RS, que traz os textos premiados no 1º Concurso Frei Rovílio Costa. Pois há poucos dias, caiu-me às mãos a obra “As Feiras do Frei”, e deparei-me com um belo e profundo poema, no qual o homenageado daquele certame  exalta a figura do escritor e o  significado de seu ofício.  Vamos compartilhar sua leitura?

“Dar oportunidade ao escritor
é dar oportunidade à criação,
à tentativa de perenizar experiências humanas
através da palavra escrita, é imortalizar as gerações
para o futuro da humanidade. Escrever é um fazer
que não se esgota na própria escrita, mas que inicia
uma nova forma de vida de quem escreve, que se torna
conhecido de quem não conhece;
vizinho de pessoas distantes; morador de prateleiras
ao lado de falantes de diferentes idiomas;
pensado por pensadores de pensamento divergente;
sonhador de sonhos que outros gostariam de ter sonhado;
criador de mundos estranhos, possíveis ou imaginários;
interlocutor com gerações passadas, que continuam vivas
através de seus escritos, relidos e/ou reinterpretados.

O escritor é alguém que aposta e promove a criatividade;
é como a criança que vive de eterna curiosidade,
que envelhece sonhando e morre ressuscitando,
como um mero jogo da vida e da história. Sonhos de
humanidade sustentam a vida dos escritores e pensadores.
Para escrever, precisa parar, harmonizar-se, olhar para o
passado, empolgar-se pelo presente e idealizar sonhos
para o futuro. O livro é participação, vida, calor, suor,
sangue, luta, derrotas, vitórias, choro, lágrimas,
gargalhadas, risos, preces, blasfêmias... É tudo isto ao
mesmo tempo, porque são vidas traduzidas e
multiplicadas através do papel escrito.”

Rovílio Costa:
na abertura da 20ª Feira Regional de Novo Hamburgo,
15 de agosto de 2002.
Extraído da contracapa do livro “As Feiras do Frei”,
EST  Edições (2007), organizado por Marilene Dorneles.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Primavera, além das flores e alergias

Almiro Zago

De cara lisa

Foi assim que se viu, na campanha política,  a maioria dos candidatos nas fotos estampadas em seus materiais de propaganda. Milagre operado pelo  Photoshop.

Sabem todos que esse recurso fotográfico permite esconder os sinais que o passar dos anos vai desenhando, esculpindo no rosto da gente. E, assim, a pessoa não se mostra   envelhecendo, nem envelhecida.

De minha parte, nada contra o uso do  Photoshop, menos quando se trata de candidatos a cargos eletivos. Como confiar em alguém que cuida de nos impingir uma imagem que já não lhe pertence?

Depois, se   candidatos – acima dos quarenta – aparecem sem rugas, sem manchas,  de pele lisa, isso não representaria   indireto desprezo pelo eleitor que ostenta as marcas do tempo? Meus sulcos, minhas rugas  e eu  nos sentidos rejeitados, sim.

Se os homens e as mulheres que pretendem me representar nos parlamentos, nos governos renegam a aparência de seu estado corpóreo, ao meu assemelhado,   a eles meu voto não mais darei. 

“Recuerdos” de Atacama:

I  : Das profundezas da  indiferença  ao pináculo da valorização da vida humana.    

II: Agora é cedo, mas em  dez, vinte e tantos anos, –  trinta e três histórias  à espera de  autor. Na sobrevida, o que terá acontecido a  cada um dos mineiros?

Concertos de primavera

Não, não me refiro ao Concerto Primavera de “As quatro estações”, de Vivaldi, mas aos concertos (ou seriam recitais?) dos sabiás nos arvoredos das ruas e do parque, perto de onde moro.

Agora, se o compositor veneziano, lá no Século XVIII, tivesse conhecido o canto desses pássaros, por certo  nos teria legado um concerto barroco com o título “Os sabiás”, ou coisa assim.

Pois a cantoria dos sabiás  me conforta na  insônia, quando   no silêncio das madrugadas  mais puros revelam-se os sons dessas divinas aves em seus diálogos canoros.

E, depois,  do amanhecer ao pôr-do-sol, em aparente revezamento,  os   sabiás     seguem levando ao ar sua música nostálgica, amenizando a atmosfera ruidosa da cidade.

Em caminhadas matinais,  tenho percebido que  um ou outro, em plena cantoria, se deixa  observar mais de perto, como aquele sabiá pousado num galho baixo de uma árvore, ao alcance de minha mão. Acho que  nessa hora mágica alguma força invisível protege o bichinho dos predadores e intrusos.

Reencontros

Sabem vocês da emoção de reencontrar amigos depois de muitos anos?

Eu bem a conheço, pois em setembro e outubro, particularmente na Feira do Livro de Caxias do Sul, vivenciei  várias vezes essa alegria.

E escutei amáveis manifestações do tipo: “Mas estás igual”, “Estás o mesmo até no jeito de falar.”

Nem precisaria dizer, mas ilusões não tenho,  sobretudo após a  perda do endereço da fonte da juventude. Então,  sexagenário que sou  nas proximidades do final da década e de bem com  a indesmentível aparência física correspondente, - se me dizem que estou como há 15 ou 25 anos, isto não poderia  significar  que eu já fosse desse jeito naquele tempo?

Bem, tenho achado melhor nada esclarecer...

***

P.S: “Mínimas Confissões” na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre:
Livraria Maneco: banca  9 – Andradas.