Almiro Zago
De cara lisa
Foi assim que se viu, na campanha política, a maioria dos candidatos nas fotos estampadas em seus materiais de propaganda. Milagre operado pelo Photoshop.
Sabem todos que esse recurso fotográfico permite esconder os sinais que o passar dos anos vai desenhando, esculpindo no rosto da gente. E, assim, a pessoa não se mostra envelhecendo, nem envelhecida.
De minha parte, nada contra o uso do Photoshop, menos quando se trata de candidatos a cargos eletivos. Como confiar em alguém que cuida de nos impingir uma imagem que já não lhe pertence?
Depois, se candidatos – acima dos quarenta – aparecem sem rugas, sem manchas, de pele lisa, isso não representaria indireto desprezo pelo eleitor que ostenta as marcas do tempo? Meus sulcos, minhas rugas e eu nos sentidos rejeitados, sim.
Se os homens e as mulheres que pretendem me representar nos parlamentos, nos governos renegam a aparência de seu estado corpóreo, ao meu assemelhado, a eles meu voto não mais darei.
“Recuerdos” de Atacama:
I : Das profundezas da indiferença ao pináculo da valorização da vida humana.
II: Agora é cedo, mas em dez, vinte e tantos anos, – trinta e três histórias à espera de autor. Na sobrevida, o que terá acontecido a cada um dos mineiros?
Concertos de primavera
Não, não me refiro ao Concerto Primavera de “As quatro estações”, de Vivaldi, mas aos concertos (ou seriam recitais?) dos sabiás nos arvoredos das ruas e do parque, perto de onde moro.
Agora, se o compositor veneziano, lá no Século XVIII, tivesse conhecido o canto desses pássaros, por certo nos teria legado um concerto barroco com o título “Os sabiás”, ou coisa assim.
Pois a cantoria dos sabiás me conforta na insônia, quando no silêncio das madrugadas mais puros revelam-se os sons dessas divinas aves em seus diálogos canoros.
E, depois, do amanhecer ao pôr-do-sol, em aparente revezamento, os sabiás seguem levando ao ar sua música nostálgica, amenizando a atmosfera ruidosa da cidade.
Em caminhadas matinais, tenho percebido que um ou outro, em plena cantoria, se deixa observar mais de perto, como aquele sabiá pousado num galho baixo de uma árvore, ao alcance de minha mão. Acho que nessa hora mágica alguma força invisível protege o bichinho dos predadores e intrusos.
Reencontros
Sabem vocês da emoção de reencontrar amigos depois de muitos anos?
Eu bem a conheço, pois em setembro e outubro, particularmente na Feira do Livro de Caxias do Sul, vivenciei várias vezes essa alegria.
E escutei amáveis manifestações do tipo: “Mas estás igual”, “Estás o mesmo até no jeito de falar.”
Nem precisaria dizer, mas ilusões não tenho, sobretudo após a perda do endereço da fonte da juventude. Então, sexagenário que sou nas proximidades do final da década e de bem com a indesmentível aparência física correspondente, - se me dizem que estou como há 15 ou 25 anos, isto não poderia significar que eu já fosse desse jeito naquele tempo?
Bem, tenho achado melhor nada esclarecer...
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P.S: “Mínimas Confissões” na 56ª Feira do Livro de Porto Alegre:
Livraria Maneco: banca 9 – Andradas.
Um comentário:
Como sempre belos textos, prezado Almiro Zago. Parabéns! Lê-lo é sempre uma alegria e uma aprendizagem para nós. Uma boa semana, boa noite :)
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