Almiro Zago
Saber falar e escrever uma ou várias línguas, além da nacional, é algo muito bom, proveitoso, fascinante. E apenas conseguir comunicar-se, seja em inglês ou alemão, tupi-guarani, italiano ou espanhol, francês, já rende bela façanha para uma pessoa.
Numa ou noutra hipótese, o sujeito que reúne capacidade para tanto revela inteligência, talento e cultura. Agora, será que revelamos cultura, sabedoria, quando abusivamente inserimos em nossos textos palavras e/ou expressões de outro código de comunicação?
Franz Kafka teria dito que “A única coisa que temos de respeitar, porque ela nos une, é a língua”.
Vivesse no Brasil atual, como reagiria o respeitado ficcionista tcheco ao deparar-se com o Festival de Estrangeirismos que assola o país, se permitido é parafrasear Stanislaw Ponte Preta?
Se é inevitável a invasão de termos e expressões do Inglês, soa insolente o exagero a que chegamos no emprego de anglicismos na comunicação escrita e oral, muito adiante do simples resultado da larga influência da economia e da indústria cultural dos norte-americanos.
Mais recentemente, via Internet, os estrangeirismos anglo-saxões vieram de forma arrasante pousar no nosso falar, no nosso escrever.
“Deixem em paz a nossa língua” escreveu Cláudio Moreno numa série de artigos no suplemento Cultura, de Zero Hora, a partir da aprovação de certo projeto de lei estadual que visava tornar obrigatória a tradução de estrangeirismos na comunicação escrita.
E o gramático e escritor nos tranquiliza, afiançando, por várias razões, que nossa língua não está em decadência.
Está bem, a assertiva nos pode poupar preocupação, todavia não amaina o desconforto diante dos excessos gerados pela busca de tola importância, de pretenso status, modismo ou senso de imitação.
E, assim, vamos convivendo com a crescente presença de escritos em Português “enxertados” de vocábulos de língua inglesa, essa nova e estranha linguagem do risível culto à estrangeirice.
Se os termos importados conferem mais importância, dão força à mensagem, segundo sugere a comunicação publicitária, por que não se escreve diretamente em Inglês o texto todo?
Falar Inglês é bacana, útil, necessário.
Mas, “encher o Português de anglicismos por puro modismo ou por preguiça de traduzir ou de inventar, além de nada honroso, é uma forma de colonialismo, e do pior tipo, daquele em que o colonizado toma a iniciativa da subalternização.”
Essa dura crítica partiu do professor universitário paranaense Arthur Virmond e Suplicy de Lacerda, em seu blog. Isso, porém, foi há vários anos.
Periga ter razão.
Pelo andar da diligência, do tipo faroeste, em pouco chegaremos ao país dos colonizados contentes.