segunda-feira, 21 de novembro de 2011

De escolas e catedrais


Almiro Zago
                                                                                              
O mundo em que vivemos, e a ideia nem é minha, nos prende à ideologia do desenvolvimento, do progresso.  E uma das faces positivas disso mostra-se  nos avanços nos diversos campos da ciência e da tecnologia, do que resulta o crescimento material que termina por levar, de uma ou de outra forma,  melhores condições de sobrevivência para as populações. Nem precisa  dizer do efeito impactante das inovações e transformações tecnológicas, por exemplo,  sobre quem vem de pouco antes da metade do século passado, ao confrontar-se  com  tantas mudanças que fazem a vida melhor do que há  60 anos. Pelo menos, é o meu sentir.

Todavia, tomando aquela referência de época, mesmo diante de  maravilhas tecnológicas ao dispor das pessoas dos diversos extratos sociais, das instituições, paradoxalmente, a qualidade do ser humano, em boa parte,  parece ter marcado passo, se não retrocedeu.

Afora a delinquência,  o lugar onde mais se faz ver o afirmado é a escola, pois é nela que vêm sendo colocadas  as gerações que chegam, certamente refletindo o conhecimento legado pelas precedentes.

Mas a escola atual decepciona ao exibir mais a sua imagem como objeto da crônica policial do que figurar na crônica cultural, como fonte de boas notícias sobre o conhecimento, o saber e a interação entre  professores, estudantes e as famílias.

Diferentemente do desejável, a mídia nos fala de conflitos, desrespeito e agressões aos professores por alunos e pais, da prática de bullying ao extremo. E nos diz de alunos com armas em sala de aula, de disparo contra professora seguido de suicídio do inocente autor, de brigas de estudantes, de gangues,  indisciplina e desinteresse pelo estudo.

Sabe-se que não se trata da maioria das escolas, nem dos alunos, mas revela-se  preocupante o elevado percentual suficiente para comprometer o sistema.
Demais não seria indagar  — que visão de mundo, que orientação, que valores oferecem os pais aos seus filhos mandados à escola? E também — que escola estamos oferecendo às novas gerações?

Seguidamente, quando me defronto com esses temas, bate-me na memória um poema com o título “A Escola”, por conta de exercícios de análise lógica em aula de Português, ainda em minha adolescência. Embora não me lembre do nome de seu autor, guardo  os versos iniciais e os finais, que trazem a essência da mensagem:

 “Vós que trilhais a senda da esperança/ vinde, entrai, aqui há mundos luminosos / que a mão,  por mais pequena, alcança.”
(….)
“... escola, a catedral igreja/ hóstia a ciência, mestre, o sacerdote.”

Pois, mesmo abstraindo os arroubos poéticos, permanece validamente bela a  comparação entre a  casa do saber e o templo de Deus.                                        

Pode ser que hoje nem escolas nem catedrais sejam as mesmas. Receio, porém,  que se nada de significativo vier a ser feito, as primeiras se conformem com as sombras das segundas.                     

                                                          *****
 16.11.2011