Almiro
Zago
O mundo em que vivemos, e a ideia nem é minha, nos prende à ideologia do
desenvolvimento, do progresso. E uma das
faces positivas disso mostra-se nos
avanços nos diversos campos da ciência e da tecnologia, do que resulta o
crescimento material que termina por levar, de uma ou de outra forma, melhores condições de sobrevivência para as
populações. Nem precisa dizer do efeito
impactante das inovações e transformações tecnológicas, por exemplo, sobre quem vem de pouco antes da metade do
século passado, ao confrontar-se com tantas mudanças que fazem a vida melhor do
que há 60 anos. Pelo menos, é o meu
sentir.
Todavia,
tomando aquela referência de época, mesmo diante de maravilhas tecnológicas ao dispor das pessoas
dos diversos extratos sociais, das instituições, paradoxalmente, a qualidade do
ser humano, em boa parte, parece ter
marcado passo, se não retrocedeu.
Afora
a delinquência, o lugar onde mais se faz
ver o afirmado é a escola, pois é nela que vêm sendo colocadas as gerações que chegam, certamente refletindo
o conhecimento legado pelas precedentes.
Mas
a escola atual decepciona ao exibir mais a sua imagem como objeto da crônica
policial do que figurar na crônica cultural, como fonte de boas notícias sobre
o conhecimento, o saber e a interação entre
professores, estudantes e as famílias.
Diferentemente
do desejável, a mídia nos fala de conflitos, desrespeito e agressões aos
professores por alunos e pais, da prática de bullying ao extremo. E nos diz de
alunos com armas em sala de aula, de disparo contra professora seguido de
suicídio do inocente autor, de brigas de estudantes, de gangues, indisciplina e desinteresse pelo estudo.
Sabe-se
que não se trata da maioria das escolas, nem dos alunos, mas revela-se preocupante o elevado percentual suficiente
para comprometer o sistema.
Demais
não seria indagar — que visão de mundo,
que orientação, que valores oferecem os pais aos seus filhos mandados à escola?
E também — que escola estamos oferecendo às novas gerações?
Seguidamente,
quando me defronto com esses temas, bate-me na memória um poema com o título “A
Escola”, por conta de exercícios de análise lógica em aula de Português, ainda
em minha adolescência. Embora não me lembre do nome de seu autor, guardo os versos iniciais e os finais, que trazem a
essência da mensagem:
“Vós que trilhais a senda da esperança/ vinde,
entrai, aqui há mundos luminosos / que a mão,
por mais pequena, alcança.”
(….)
“...
escola, a catedral igreja/ hóstia a ciência, mestre, o sacerdote.”
Pois,
mesmo abstraindo os arroubos poéticos, permanece validamente bela a comparação entre a casa do saber e o templo de Deus.
Pode
ser que hoje nem escolas nem catedrais sejam as mesmas. Receio, porém, que se nada de significativo vier a ser
feito, as primeiras se conformem com as sombras das segundas.
*****
16.11.2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário