quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Quem sabe lá de 2011?


Almiro Zago

Pois 2011 está terminando e eu nem sei por onde terá ele andado.   Sei bem dos invasores resquícios do inverno que estiveram a gelar a primavera. Há pouco admiramos os ipês floridos, depois os jacarandás e as buganvílias, as tipuanas, e, agora, florescem os flamboaiãs; mas os sabiás e todo o passaredo silenciaram as madrugadas.

E foi assim nos outros anos e tudo parece tão recente, de ontem. Nem sou original ao dizê-lo.  Agora, 2012, o ano dois da segunda década deste século, está a bater em nossa porta, e quando nos dermos conta já terá entrado e saído.

Aflige-me a sensação das tantas coisas por fazer e das muitas que nunca farei, enquanto as festas de Natal e de ano-novo com seus doces apelos e os apelos consumistas vão espalhando reboliço, pressa e estresse por toda parte.

Ainda bem que existem as crianças, e com elas convivendo posso deixar do lado de fora as chatices da época, alegrar, renovar e enternecer a vida. Claro, haja preparo físico para a jornada.

Logo, as festanças terão passado, mas com direito a reprise em doze meses, como se tudo tivesse volta. Mas o escoar do tempo biológico, do tempo físico, nos deixa sem escape para a hora da verdade que ele nos inflige sem discrição, sem pena nem consideração. Certamente como tributo pelo simples viver e, talvez, pelas coisas boas que a vida nos deu. Sem desconto pelas dores, sofrimentos, injustiças e tristezas padecidos.

“El tiempo pasa/Nos vamos poniendo viejos/Yo el amor No lo reflejo como ayer” —   cantava Mercedes Sosa.

Eu ouvia, mas nada a ver comigo...

Li o Soneto de Ronsard*, através da paráfrase de Manuel Bandeira, e pensei que era assunto daquela “senhora”, personagem da poesia.

Dia desses, lembrei-me dele. E o reli. Desenxavido, percebi que, sim, era comigo também.

Desconcertante ver como puderam os poetas falar da ação do tempo na vida humana com tanta dureza, em cruéis versos rimados, vindos do século XVI.

Vejam:

“Foi para vós que ontem colhi, senhora,
este ramo de flores que ora envio.
Não no houvesse colhido e o vento e o frio
Tê-las-iam crestado antes da autora.

Meditai nesse exemplo, que se agora
Não sei mais do que o vosso outro macio
Rosto nem boca de melhor feitio.
A tudo a idade afeia sem demora

Senhora, o tempo foge... o tempo foge....
Com pouco morreremos e amanhã
Já não seremos o que somos hoje...

Por que é que vosso coração hesita?
O tempo foge.... A vida é breve e é vã...
Por isso, amai-me... enquanto sois bonita.”

Ocorreu-me, e todos sabem, que o bisturi, o botox e assemelhados ajudam a amenizar a topografia da pele. Porém, para um razoável acordo de convivência com a inexorabilidade do tempo, o melhor remédio, por certo, levaria fortes poções de  amor, amizade e alegria, solidariedade e compreensão, ingredientes em vias de  escassez.  

Quem sabe, neste Natal, peçamos esses bens imateriais ao Aniversariante, que mais dá do que recebe presentes.

5.12.2011

*Tradução livre do Soneto de Ronsard, poeta francês do século XVI, por Manuel Bandeira.

Um comentário:

Suziley disse...

Belíssima crônica, parabéns!! :)