Camila Canali Doval
Quem não tem curiosidade mórbida? Os psiquiatras andam jogando em nossa cara que somos todos doentes ao acompanhar com tamanha obsessão o passo a passo da história de Isabella. Eu não conhecia a Isabella. Eu nunca vi a Isabella. Se a Isabella passasse na minha frente, seria apenas mais uma menina passando na minha frente, como qualquer outra. Acontece que, como os psiquiatras fizeram com a minha “doença”, alguém jogou a Isabella na minha cara. E eu não estou nada disposta a esquecê-la.
Quero saber, sim, o que fizeram com a Isabella. Quero saber quem fez, como fez e por que fez. Quero todos os detalhes. Quero as motivações. Quero as provas. As fotos. As marcas de sangue. Quem apertou. Quem bateu. Quem jogou. Quem planejou. Quero saber direitinho quem são os tais de Alexandre e Anna Jatobá. Quero saber que tipo de família eles têm. Como foram criados. O que foi feito da sua educação. Quero saber onde eles estudaram e quais eram as suas notas. Quero depoimentos de professores e colegas. De vizinhos. De motoristas de táxi. Do diabo a quatro. Quero escarafunchar a vida deles até a exaustão. A exaustão coletiva. E o povo que se plante em frente aos edifícios e delegacia. O povo que grite, que xingue, que jogue pedras. O povo que venda pipocas e distribua santinhos. Fizeram disso um circo ou não? E foi o povo, por acaso? O povo que grite. Eu apóio. Não acho a Isabella a criança mais importante do mundo. Eu sei dos pretos pobres das favelas que não aparecem na televisão. Eu sei que um milhão de crianças teve fins piores que o dela. Eu sei que algumas nunca têm fim. Mas agora eu quero saber da Isabella. Só dela. Quero saber obsessivamente. Quero saber até parar de sentir. Como deve ser.
Eu não tinha nada a ver com nada disso, mas jogaram a Isabella pela janela e também na minha cara. Agora eu quero saber. Quero saciar a minha morbidez. Eu exijo o último capítulo.
terça-feira, 29 de abril de 2008
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5 comentários:
Camila:
Tua indignação diz bem da nossa indignação. Porém, temo que longe esteja o último capítulo.
Que insanidade! O mundo parece ter virado uma imensa tragédia: num lugar pais jogam uma menina pela janela; noutro, é um pai que encarecera e estupra a filha, e encarcerados mantém seus incestuosos "filhos-netos". O que dizer? O que pensar? Pais criminosos... e contra os próprios e indefesos filhos. E logo os pais aqueles que deveriam proteger...
Almiro
Prezados amigos
Estou naturalmente tomado da mesma indignação de vocês.
Não consigo, no entanto, estacionar por aí.
Achar que o mundo não vale mais a pena? Nunca.
O que eu penso é que se tornou necessário adotar leis mais rígidas.
E não só no Brasil, hein?
Precisamos, infelizmente, ser mais intolerantes, mais exigentes.
A divulgação de tais fatos, por outro lado, ajuda alguém?
Vamos refletir.
Todos odiamos censura. Mas, onde estão os critérios dos que divulgam com riqueza de detalhes tais monstruosidades?
Vamos reaciocinar?
De um antigo editor, indignado com o que se faz hoje.
Walter Galvani
Reaciocinar é um neologismo que acabo de inventar...
É raciocinar reagindo.
Walter Galvani
Oi Camila e Almiro
Ficamos mudos?
Ninguém fala ou escreve?
Onde está o reino das palavras?
Um abraço
Walter Galvani
Boa noite, Walter Galvani:
Não, mudos não ficamos. Todavia, uma parada, digamos, estratégica pode revelar se fazemos alguma falta...
Mas em homenagem a quem notou nossa ausência, uma nova crônica surgirá neste blog, nas próximas horas.
Saudações.
Almiro Zago
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