Isabel Cristina CCarvalho
Leio a recente crônica dos relatos de Almiro sobre suas experiências de viagens e o que eu deveria tecer como breve comentário acabou virando uma outra crônica também. Almiro me lembrou de uma viagem de estudos que fiz a Amsterdã, há dez anos, junto a uma amiga e artista plástica, Marta Penter. Esta viagem daria uma coleção de crônicas, caso eu olhasse novamente as fotos e relembrasse nossas situações por lá, algumas emocionantes e outras bem divertidas. As duas situações concomitantemente dramáticas ou tragicômicas começaram na chegada a Amsterdã. Apesar dos passageiros estarem inquietos em holandês, Marta e eu apreciávamos os inúmeros moinhos de ventos da paisagem quando subitamente o céu escureceu e a inquietação passou a ser traduzida para o inglês, espanhol e outros idiomas. Entendemos que depois de taxiar por mais de uma hora o piloto pousaria na capital holandesa mesmo sob o temporal absurdo que caía, além do pequeno furacão que rodopiava pelo centro da cidade.
Apesar de alguma experiência como usuária de rotas aéreas confesso que não tenho conhecimento dos procedimentos adotados pelos pilotos em caso de problemas no ar. Meus problemas aéreos sempre foram em terra: atrasos em aeroportos, over book, perda de malas, cancelamento de vôo, vôos “sem teto”, deslocamentos para hotéis e outras coisas bem típicas. Neste caso o problema foi no ar mesmo e eu tive a impressão, pelo turbinar dos motores, que o piloto acelerou o avião para conseguir tocar a pista. Descemos entre o barulho de trancos, freadas e pancadas de objetos que caíram dos compartimentos abertos pelo impacto e a saraivada de aplausos com a qual os passageiros agradeceram ao comandante a descida arriscada.
Eu e Marta fomos as últimas passageiras a nos dirigir para a escadinha dianteira do avião, principalmente porque nos detivemos a perguntar às aeromoças sobre o que houve e também porque à frente de Marta seguia, pelo corredor, uma senhora robusta e trêmula. Quando finalmente chegamos ao meio da escadinha sob os olhares de dois ônibus na pista repletos de passageiros, a senhora se desequilibrou e caiu abrupta de costas sobre os pés de Marta que também caiu, como num jogo de dominó, sobre as minhas pernas. Eu só não caí de costas sobre as aeromoças porque elas sabiam que tudo podia acontecer a passageiros nervosos e permaneceram calmíssimas na porta da aeronave para qualquer emergência.
A cena não poderia ter sido mais absurda. Eu literalmente não sabia se ria da situação ou se chorava de dor, afinal eu tinha o peso de uma senhora gorda e o de minha amiga, magra Graças a Deus, sobre meu corpo. Mas sobrevivi sem maiores conseqüências. Marta recebeu uma forte batida nos pés, teve inchaços, hematomas e isso quase comprometeu nossa viagem.
Os motoristas dos ônibus foram embora e levaram a senhora gorda que passava bem quando viram chegar a ambulância destinada a nos atender. Até hoje eu não soube se a tal senhora causou mais algum atropelo no translado de ônibus até o terminal, mas jamais poderei esquecer os pés roxos e a carinha chorosa da Marta, no ambulatório do aeroporto de Schiphol, assustada, traumatizada, indignada em inglês, recusando-se a morrer de dor e contusão uma vez que tinha acabado de sobreviver a relâmpagos e furacão!
06 de julho de 2008
quarta-feira, 9 de julho de 2008
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2 comentários:
Isabel:
Depois do que li em tua crônica, longe de qualquer idéia preconceituosa, passarei a guardar distância de segurança de senhoras robustas e trêmulas ao desembarcar de aeronaves. Ah...por precaução, para a próxima viagem cuidarei de aumentar de peso, o que, pedindo licença, recomendo às duas vítimas...
Almiro
Sabe, Almiro, ouvi dizer que as pessoas pagarão passagens aéreas proporcionais ao seu próprio peso, como as bagagens!!! Portanto, cuidar da saúde agora também será economia, caso contrário...fila de espera ou embarque só no compartimento de cargas...rsrsrsr.
Beijos
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