quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Civilidade, a quantas anda?
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
A migalha mágica *
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Quando bacana é o chefe
Ultimamente, sentindo aquele "depois..." na espreita, calculei que a Irene e eu temos ficado na média dos dois conselhos, porém com parcimoniosa frequência.
Cedo, levamos a sério o primeiro deles. Ainda em clima de lua de mel, saciamos a curiosidade de conhecer boa parte do Brasil. Não fomos no meu Dkw bordô, nem de avião, nem de ônibus de turismo. Viajamos de ônibus de linha com partidas e chegadas em estações rodoviárias, comprando passagens com alguma antecedência ou na hora. E reserva de hotel, pra quê?
As coisas iam bem, tudo cheirando a descoberta: as paisagens ao longo das estradas, gente diferente, outros costumes. Assim, andamos por Curitiba e o norte do Paraná, pelo oeste paulista e São Paulo, Belo Horizonte, a barroca Ouro Preto e adjacências.
Mas em Brasília... Como era linda a noite de julho! Ao taxista, pedi para começar pelos hotéis mais em conta. E fomos aos mais caros, também. Nuns e noutros, apenas a antipática frase: "não tem vaga". Culpa de um congresso de médicos.
Nem mesmo o famoso e luxuoso Hotel Nacional nos deu chance.
Salvou-nos Taguatinga, nas imediações. Num hotel com atraente luminoso em néon, ficamos num quarto razoável. Mas o banheiro... Entrar? Só com esforço de contorcionista: a porta trancava em alguma coisa. Box ou banheira? Não usavam. E o chuveiro, muito original: bem em cima e na direção do vaso sanitário...
Já de manhã, tomamos a grande decisão, pois o Rio nos esperava: encontrar um bom lugar em Brasília ou ir embora.
Fica chato admitir, mas coisa pior já me havia acontecido no Rio de Janeiro.
Hospedados num confortável e econômico hotel, estivemos numa excursão para torcer pela representante gaúcha, uma caxiense, no Concurso Miss Brasil 1969. Nem adiantou, a Vera Fischer venceu.
Bom, a serviço, voltei ao Rio no mês seguinte. Faceiro, sem reserva de hospedagem, fui ao mesmo lugar por nada. Já cansado das negativas dos hotéis da ainda charmosa Cinelândia, conformei-me em parar numa espelunca, pagando adiantado. No que seria o único quarto disponível, notei que era de vidro transparente a parte superior de uma parede, deixando-me na vitrina para quem descesse a escada do corredor.
Larguei a bagagem e saí. Sem encontrar táxis, às onze da noite, ruas desertas, andei umas dez quadras até a Cinelândia. Exausto, revisitei os mesmos hotéis. E, no Senador, passados três segundos da negativa, da voz do gerente saiu: "fulano, dá pra ele a reserva técnica..."
Todavia, naquela manhã em Brasília, um atencioso taxista foi repetindo o infrutífero roteiro da noite anterior. Eu, colecionando frustrantes respostas.
E o Hotel Nacional? Sim, o mais chique e muito mais salgado, ou pior, longe das minhas possibilidades.
Cheguei no ambiente requintado, os homens, "comme il faut", de terno e gravata, e este provinciano em manga de camisa, calças jeans e cara de constrangido.
Nem é de acreditar: o "Sinto muito, não temos lugar", do recepcionista mereceu imediato desmentido do seu chefe:
- Vê o número tal...pra ele.
Contente e esquecido do preço, fui avisando que iria buscar minha mulher. Mas o dito chefe, coçando a cabeça, examinando minha indumentária, bem do jeito de "não vá dizer que não te avisei" - advertiu:
- A diária é cento e dez Cruzeiros por pessoa, viu?!...
Vi. E no bolso, como senti!
Está certo, Brasília e sua arquitetura modernista valiam.
Já o Governo de então...
***
P.S: Mínimas Confissões" na Feira do Livro de Porto Alegre:
Banca da Livraria do Maneco - bem na parte central da Praça da Alfândega;
Banca da Livraria Nova Roma, na Rua 7 de Setembro.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Os livros e a praça
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
Agora, o caso da janela
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Procura-se
domingo, 2 de agosto de 2009
A revolta das criaturas
"Não há melhor espelho que um velho amigo."
(Santo Agostinho)
Respeito aos mais velhos foi, na minha infância, um preceito forte, repetido na família e na escola. Por mais velhos, reconhecia todos os que tivessem aparência de adulto, não apenas os idosos.
Pois, agora, também sou entrado em anos. Só não tirei carteirinha. Mas as coisas estão diferentes. E como!
Respeitar os idosos vem sendo atitude em crescente migração da regra geral rumo à exceção.
Sempre achei que a deferência especial aos velhos reclamava, em certa medida, semelhante comportamento deles em relação aos mais moços, em homenagem à convivência fraternal entre as gerações. Vejam que "nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz", escreveu Victor Hugo.
Desde tempos imemoriais, em todas as culturas, os velhos têm sido considerados sábios, certamente pelas vivências e experiências acumuladas ao longo da vida.
Nos dias que correm, bem observando, encontramos velhos com muito a dizer e a ensinar, mas poucos interessados em ouvi-los. Terá sido sempre assim?
Mais triste é reconhecer que velhos há sem nada de bom a passar para a juventude. É só olhar para o Senado da República. Lá, estão homens da Terceira Idade exercendo mandato de senador. E, desses senhores, o mínimo a esperar seria exemplos de sensatez, dignidade e respeito ao interesse público.
Ao invés disso, o que vemos na TV e nos jornais são imagens de alguns homens em provecta idade, frustrando o povo com sua conduta antiética na busca de vantagem pessoal, familiar e/ou de grupos.
O diabo, dizem, mais sabe por ser velho do que por ser diabo. Aos meus ouvidos, esse ditado soa como homenagem à velhice. Fico sentido, mas está difícil reconhecer o mesmo em relação aos senadores idosos envolvidos em deploráveis episódios.
Suspeito tenham eles envelhecido em cumplicidade com a diabólica "sabedoria". Talvez, isso explique o caso do Presidente do Senado, aquele de “brasileiros e brasileiras” do tempo do Plano Cruzado.
Orgulho, ambição e ganância não o deixaram satisfeito com as honrarias do cargo de Presidente da República e da qualidade de “imortal” da Academia Brasileira de Letras.
Preferiu manter-se na vida pública, perseguindo interesses, finalmente desvelados, comprometedores de sua imagem e do destino de recursos públicos.
Aliás, o Lula andou dizendo que a Polícia Federal considere a biografia dos investigados. No caso do Sarney, ele próprio a esqueceu.
Ainda que não acredite, pode ser que tudo o que venha a ser feito para penalizar o escritor de "Marimbondos de Fogo" acabe em "pizza", do jeito que a mídia gosta de dizer.
Mas acontecendo o pior, por consolo, ainda restaria a esperança de revolta das criaturas - os marimbondos - contra seu criador, dando-lhe, desculpem a maldade, algumas ferroadas num certo ponto estratégico, revelando de vez o efeito Pinóquio.
Depois, em desagravo aos idosos bons senadores, bem que poderia um excitado enxame de marimbondos distribuir picadas em algumas cabeças esbranquiçadas ou tingidas, calvas ou cabeludas de solidários amigos do autor da obra.
Bem... imaginar é de graça.
27.07.09
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Júlia e o seu destino
Minha Júlia,
Escrevo-te, para aliviar a pressão. Sei o quanto gostas de me ler. Fazes sempre parte das minhas letras, e não evito. Por isso queres tudo o que flui destas mãos. Tens razão em querer.
Vejo-te sentada no sofá. Tão tarde e ainda aí. Nunca foste de deitar cedo. Nem com ele. Vejo-te no sofá. A televisão em qualquer canal. Os lábios grudados na xícara de café vazia desde que a novela acabou. E lá se vai mais de uma hora.
Sei que estás sozinha e não queres ler nada triste. Nada é triste. Nem mesmo esse teu resto de café frio. Percebes? Tenho-te sentada no sofá, esperando o próximo programa antes de ir para a cama. Tenho teu medo de dormir. Não é triste. É só bonito.
Se pudesse, acariciaria teus cabelos. Gosto de ti assim. É preciso te observar de perto. Espremer os olhos para ver. As coisas te acontecem quase no tempo do não acontecer. Tua vida vai como um jazz. És tão melodiosa. Distorces, porém nunca, Júlia, destoas.
Não, isso não é ruim. Não balance a cabeça. Não me repreendas como farias ao teu velho pai. Não és de forma alguma monótona, minha Júlia. Já ouviste um jazz? Não franze tua testa. Escrevo-te para aliviar a pressão. Não para colocar-te em sobressalto. Para ti, quero somente paz.
Escrevo-te, Júlia, e é tão bom. Gosto do ritmo em que as coisas se dão. Teu ritmo é maior do que eu. Escrevo-te, mas teu ritmo veio pronto. Deleito-me, embora te enfureças, às vezes. Tu és, Júlia, mas entendo que não te enxergues.
Vê, ao menos, quantas histórias já temos. São todas as histórias de Júlia. Sorri. Não és triste. Nem serás. Eu prometo. No que depender de mim.
Amor,
A.
segunda-feira, 13 de julho de 2009
O retorno do "far west"
Será que o ser humano não presta? Tão dura e pessimista ideia, assim como está escrita, ou em brandos termos posta, ene vezes escutei, ainda quando, inocente ou ignorante, sequer compreendesse o seu significado.
E, certamente, não eram as vozes de filósofos discutindo se o homem é bom ou mau por natureza.
Ao correr da vida, não poucas vezes, vi-me surpreendido a refletir sobre o tema, e meu lado otimista levando a melhor. Porém, a cada vinco no rosto e a cada fio de cabelo que se vai, o pessimismo vem ganhando posições, e nem sei até onde minha resistência chegará.
Essas reflexões vêm reaparecendo a propósito, e não só por isso, das notícias de que a Coreia do Norte, detentora da bomba atômica, está a desenvolver e a disparar foguetes capazes de conduzir ogivas nucleares.
Pois guri ainda, ouvia falar da terrível 2ª Guerra Mundial e das coisas pavorosas nela acontecidas. Por isso, ingenuamente, imaginava que os homens, as nações nunca mais fariam guerras.
Ledo engano! Já estavam no rádio os noticiários sobre a Guerra da Coreia...
Depois, por esse mundo afora, em maior ou menor escala, foram aparecendo conflitos armados sob os mais variados pretextos. Ao que penso, o maior deles terá sido a Guerra do Vietnam.
Isso que nem falei das conflagrações internas em muitos países e da pesada repressão a opositores de seus regimes. Sem dizer, também, da destruição da natureza e da poluição ambiental em terra e na água.
E agora, disputando atenção com o Iraque, o Afeganistão, volta a Coreia do Norte a exibir aparato bélico, vindo de bomba atômica que a Índia, o Paquistão, Israel e, dizem, que o Irã quer tê-la também, além dos arsenais das, ditas, grandes potências, claro.
Ninguém ignora que a sede de poder e de sangue, o ódio, os loucos sonhos de grandeza nacional, a ambição e a ganância, os interesses de dominação política e/ou econômica, ao longo da história humana, levaram morte, sofrimento e destruição a incontáveis gerações.
Afora essa categoria de conflitos, outros há que, desde sempre, infelicitam as comunidades, indiferentemente de meridiano ou paralelo. Mas, hoje, mais que nunca desgraçam o nosso País. Refiro-me, por certo, à escalada da violência, da criminalidade de todas as formas - que parte e age, em maior ou menor grau, - de todos e em todos os estratos sociais.
Os jornais, a TV e o rádio nos martirizam com as resenhas dos horrores do dia: assassinatos, furtos, roubos, assaltos com morte, violência nas famílias e nas escolas, o drama das drogas e o tráfico, mortes no trânsito nas cidades e nas estradas... E tudo em números crescentes, com a corrupção grassando desinibida pela sociedade consumista, cada vez mais desapegada dos valores éticos e morais.
Estaria certo Thomas Hobbes, filósofo inglês, ao sentenciar, lá no Século XVII, que o "homem é o lobo do homem?
Numa época em que se apreciava filmes do "far west", aqueles da eterna luta entre bandido e mocinho, xerife e pistoleiro, das brigas e duelos, via-se na tela cenas de matanças, de bandoleiros pilhando pequenas comunidades distantes e atacando fazendas isoladas, ou praticando assaltos a diligências e trens, a bancos. Tudo parecia tão insólito e de lugares e tempos remotos...
Já não parece. O faroeste, agora, é aqui.
Haja, pois, esperança!...