domingo, 2 de agosto de 2009

A revolta das criaturas

Almiro Zago

"Não há melhor espelho que um velho amigo."
(Santo Agostinho)


Respeito aos mais velhos foi, na minha infância, um preceito forte, repetido na família e na escola. Por mais velhos, reconhecia todos os que tivessem aparência de adulto, não apenas os idosos.

Pois, agora, também sou entrado em anos. Só não tirei carteirinha. Mas as coisas estão diferentes. E como!

Respeitar os idosos vem sendo atitude em crescente migração da regra geral rumo à exceção.

Sempre achei que a deferência especial aos velhos reclamava, em certa medida, semelhante comportamento deles em relação aos mais moços, em homenagem à convivência fraternal entre as gerações. Vejam que "nos olhos do jovem arde a chama, nos do velho brilha a luz", escreveu Victor Hugo.

Desde tempos imemoriais, em todas as culturas, os velhos têm sido considerados sábios, certamente pelas vivências e experiências acumuladas ao longo da vida.

Nos dias que correm, bem observando, encontramos velhos com muito a dizer e a ensinar, mas poucos interessados em ouvi-los. Terá sido sempre assim?

Mais triste é reconhecer que velhos há sem nada de bom a passar para a juventude. É só olhar para o Senado da República. Lá, estão homens da Terceira Idade exercendo mandato de senador. E, desses senhores, o mínimo a esperar seria exemplos de sensatez, dignidade e respeito ao interesse público.

Ao invés disso, o que vemos na TV e nos jornais são imagens de alguns homens em provecta idade, frustrando o povo com sua conduta antiética na busca de vantagem pessoal, familiar e/ou de grupos.

O diabo, dizem, mais sabe por ser velho do que por ser diabo. Aos meus ouvidos, esse ditado soa como homenagem à velhice. Fico sentido, mas está difícil reconhecer o mesmo em relação aos senadores idosos envolvidos em deploráveis episódios.

Suspeito tenham eles envelhecido em cumplicidade com a diabólica "sabedoria". Talvez, isso explique o caso do Presidente do Senado, aquele de “brasileiros e brasileiras” do tempo do Plano Cruzado.

Orgulho, ambição e ganância não o deixaram satisfeito com as honrarias do cargo de Presidente da República e da qualidade de “imortal” da Academia Brasileira de Letras.

Preferiu manter-se na vida pública, perseguindo interesses, finalmente desvelados, comprometedores de sua imagem e do destino de recursos públicos.

Aliás, o Lula andou dizendo que a Polícia Federal considere a biografia dos investigados. No caso do Sarney, ele próprio a esqueceu.

Ainda que não acredite, pode ser que tudo o que venha a ser feito para penalizar o escritor de "Marimbondos de Fogo" acabe em "pizza", do jeito que a mídia gosta de dizer.

Mas acontecendo o pior, por consolo, ainda restaria a esperança de revolta das criaturas - os marimbondos - contra seu criador, dando-lhe, desculpem a maldade, algumas ferroadas num certo ponto estratégico, revelando de vez o efeito Pinóquio.

Depois, em desagravo aos idosos bons senadores, bem que poderia um excitado enxame de marimbondos distribuir picadas em algumas cabeças esbranquiçadas ou tingidas, calvas ou cabeludas de solidários amigos do autor da obra.

Bem... imaginar é de graça.

27.07.09

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr Almiro
Tenho tido um grande retorno das
pessoas às quais recomendei a leitura de seu livro "Mínimas Confissões
"Aprendizado sobre nossa história","lição de vida""historicamente enriquecedor e divertido"foram alguns dos comentários que ouvi Parabéns!
Carla M Sicca