quinta-feira, 6 de maio de 2010

As mães, quando morrem, vão pra onde?

Almiro Zago

Ainda que distraídos andemos, há certas comemorações que a mídia e os seus anunciantes não nos dão chance de esquecer.

Ninguém que abra um jornal, ligue o rádio ou a televisão consegue ignorar o Dia das Mães, no segundo domingo de maio. Em outros tempos, falava-se também do mês das noivas.

Mas a mídia não faz essa divulgação toda por ser boazinha; seu papel é faturar com a festividade e movimentar a economia, o que enche os bolsos de uns e esvazia os de outros.

Certamente, haverá corações cumulados de alegria e felicidade, motivados pelos presentes e a festa, ainda mais que os filhos, condicionados pelo consumismo, não sabem ficar na simples lembrança, no beijo e no abraço. Esses gestos, parece, pouco diriam desacompanhados de coloridos pacotes. É verdade?

Por outro lado, no contraponto, vemos aquelas pessoas que, por causa recente ou antiga, já não compram presentes para o segundo domingo de maio por ter-lhes a morte roubado a destinatária.

Persiste uma dor latente que a publicidade revolve, fazendo relembrar a circunstância, tanto mais dolorida para crianças e adolescentes, que ainda enfrentam, especialmente na escola, os preparativos e as festividades para o Dia das Mães... dos outros.

Já as homenagens para as suas mães de amorosas lembranças são feitas, e de flores diante de um retrato ou de uma lápide.

Sei bem do significado disso tudo porque, dois ou três dias depois de completar 12 anos, eu também fui jogado na minoria dos sem-mãe.

Porém, trago indelével na memória o acontecido na manhã do último domingo daquele ano de 1954.

Cedo, minha mãe, doente, mandou-me à missa. Ao voltar, ainda a certa distância, vi um táxi parado na frente de casa e meus pais indo em sua direção. Chegava mais perto, quando o veículo pôs-se em movimento. E minha mãe, voltando-se pra traz, com olhar triste, fez-me um aceno. Seria o derradeiro, pois estava ela sendo levada ao hospital, onde a temível leucemia a levaria à morte.

Sempre estive certo de que minha mãe habita o céu, aliás, como todas as mães quando morrem. E se disserem que o céu não existe, inventemos, então, um céu só para elas.

* *
(2/05/2010)

3 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei comovida com a beleza do que vc escreveu
Tatiana Pereira Schuster

Suziley disse...

Lindo e tocante texto, Almiro Zago. Há de existir um céu para todas as mães. Pois elas são criaturas um pouco humanas, um pouco divinas. Tenho minha mãe ainda, fisicamente, junto a nós. Todavia, ela luta (com muita alegria, fé e esperança) contra um câncer. E é assim a vida. Porém, mais do que presentes, um abraço, um beijo na mãe sempre lhe dar. Certamente no céu sua mãezinha deve estar. Afinal, já diz a letra da canção: "Mãe, palavra mais doce que o mel. Talvez um pedaço do céu. Que Deus transformou em mulher"!! Belíssimo texto o seu. Escreveu com sua alma, parabéns!! Bom domingo a vocês! :)

Anônimo disse...

Lindo texto Sr Almiro
Vera e Pedro Cardoso