sábado, 18 de junho de 2011

Gentileza no trânsito existe?

Almiro Zago
 
Parece que tem coisas que só acontecem comigo. A mais recente sucedeu-me num entardecer de maio, na autoestrada Osório a Porto Alegre. Pela faixa central, dirigia o automóvel na velocidade máxima permitida. 

De repente, deu-se algo incrível: qual bólido, aproximou-se um carro exatamente pela minha pista, com insistentes sinais de luz para que eu saísse do caminho... E, contudo, livres estavam as vias de ultrapassagem e de tráfego lento.

Por ironia, pouco antes, no rádio, saíra uma chamada motivacional, patrocinada por uma seguradora, com o mote Seja gentil no trânsito.  

Campanhas semelhantes sucedem-se na mídia, como ações de pretensão educativa para um trânsito mais civilizado nas cidades e estradas.

E os destinatários somos todos os motoristas, especialmente os desapegados das regras de trânsito, os imprudentes e impacientes, os “espertinhos”, grosseiros, os indiferentes para com o pedestre, os apressados e de outros, pouco edificantes, modos de proceder.

Mas acontece que a clientela que as campanhas pretendem conscientizar permanece a maior parte do tempo desembarcada; anda por aí, ocupada, como todos, nas atividades humanas da vida diária.

Por certo, quem senta à direção de um carro leva sua bagagem invisível contendo sua (de)formação pessoal, vivências, defeitos, virtudes et cetera.

Pois, então, a má conduta do motorista não estaria a denunciar a ausência de conteúdos importantes naquela bagagem invisível? Se assim for, urge completá-la por meio de um processo educacional para a vida como um todo, e não para uma parte, apenas.

Deveria ser este o objetivo a perseguir, pois, ao menos em tese, quem possuir espírito de comunidade, for correto, gentil e educado na sua vida a pé, igualmente o será quando embarcado dirigir.

Suspeito, entretanto, que para as gerações adultas o remédio mais rápido e eficaz seja sábia e sistemática fiscalização com incursões ao bolso. 

E, dourando a pílula, ficaria bem instituir a atenuante do estresse em favor do motorista bem-intencionado, pelo reconhecimento do direito de irritar-se e, por que não?, perder a paciência...  de vez em quando.

Ah, quanto ao episódio contado lá em cima, segui meu rumo. Dava para ser gentil?                         
                

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