Almiro Zago
Vivemos
tempos de desobediência. A começar pelo clima, pelo tempo que vem frustrando
nossas expectativas, que andou mandando frio intenso, continuado. E muita chuva
para uns, pouca ou nada para outros. E ventos raivantes para todos.
Com
a natureza, outra coisa não a há fazer senão o contínuo aprendizado de
convivência com ela, devotando-lhe amor e respeito, como devem fazer os bons
hóspedes. Mas não é bem assim que
agimos.
Já
na sociedade em que vivemos, suscetível de mudanças pela vontade do grupo, dos
indivíduos, o proceder de muitos vai tornando difícil o conviver pacífico e
respeitoso, democrático e republicano, para usar um termo em voga.
Bem
observando, veremos que a desobediência, em graus e formas diversas, é quase
generalizada. Nas condutas previstas no Código Penal mostra-se assustadora a
quantidade de delinquentes, a audácia e a constância na prática de atos
antissociais de gravidade contra as pessoas, contra o patrimônio, contra a
administração pública e o erário. Quanto a este, e em preocupante frequência,
por quem deveria protegê-lo.
Como
se essa criminalidade fosse pouco, vicejam desobediências a preceitos
elementares entre a população, no que tange ao respeito ao outro nas simples
relações do dia a dia, em atitudes que partem da descortesia e avolumam-se até
a grossura. É gente das várias faixas etárias e, se aparência tanto não engana,
das diversas camadas sociais, de alto a baixo. O outro... nada conta.
No
trânsito, por exemplo, muitos motoristas e outros tantos pedestres revezam-se
na inobservância voluntária das simples regras de proceder nas vias públicas.
O
sinal vermelho, cada vez mais, vem sendo relativizado em perigoso proceder que
poderá levar o trânsito ao caos. E a vida, o que vale?
Para
que as coisas funcionem a contento e todos possam exercer seus direitos, a
parte de cada um deve ser espontaneamente feita. Isto é fator fundamental da
qualidade de vida de qualquer lugar e ajuda a fazer mais felizes as
pessoas.
Há
poucos dias, li no blog www.cerebronosso.bio.br/guia-basico-de-neurociencia, a cargo da equipe da neurocientista Suzana
Herculano-Houzel, uma interessante lição sobre a vida social, e por isso a
compartilho com os meus caros leitores:
“O
que é bom para você não é necessariamente bom para os seus vizinhos. Portanto,
para conviver em grupo de maneira harmoniosa (o que traz uma série de vantagens
a qualquer espécie) é preciso que cada indivíduo seja capaz de levar os demais
em consideração — ou seja, de organizar seu comportamento contando com uma
avaliação prévia de como os outros serão afetados por ele, ou antecipando por
exemplo o que os outros esperam que aconteça. Levar os outros em consideração
ao organizar o próprio comportamento é possível graças a algumas capacidades do
cérebro.”
Pois,
se a criminalidade que nos atormenta escapa ao nosso controle, será que nós —
da parte sadia (?) da sociedade — não poderíamos, ao menos, olhar melhor uns
aos outros?
Bem, cérebro já temos, o que é um belo
começo.
****
P.S:
Agradeço os amáveis comentários dos leitores Sílvio Teixeira e Carlos P. Anschau relativos ao texto
anterior.
Um comentário:
Belo e precioso texto, Almiro Zago. De fato, vivemos tempos de desobediência. Se somos seres contingentes, interdependentes. Se a existência de cada um só tem sentido em relação ao outro. Então, deveríamos respeitar esse nosso próximo sempre. Cérebro e coração (acredito que é o que está inerte também) temos, logo, é só começar! Parabéns!! Bom dia :)
Postar um comentário