Almiro Zago
Numa bonita manhã de janeiro, pela rua vinha em minha direção, em seus não mais de 16 anos, um adolescente, carregando promessa
de
obesidade.
Mas isso nem despertaria minha atenção, não estivesse ele a fumar. E fumava com pose como quem fizesse grande coisa. Que pena, mais um moço a entregar
sua
liberdade
e
sua
saúde
ao
vício,
como
os
alcoolistas
e
os
drogados.
E
todos
os
“sabidos”
iniciam
do
mesmo
jeito.
Fosse a cena de 30, 40 passados,
dir-se-ia apenas de um guri iniciando-se muito cedo no cigarro, precocemente buscando afirmar-se como homem adulto. E assim, muito acontecia à época de minha adolescência.
Entretanto, de uns bons anos para cá — depois de contínuas campanhas de informação sobre os efeitos nocivos do tabaco à saúde humana; das públicas condenações ao ato de fumar; da farta comprovação dos males por ele causados e do impressionante número de pessoas pelo fumo levadas à morte — alguém de qualquer
idade
começando
a
fumar
faz
algo
de
desmedida
estupidez.
Ou
burrice,
mesmo.
Soa inacreditável que, em nosso meio com numerosas e sofisticadas formas de comunicação e circulação de informações, ainda haja tanta gente indiferente a uma das maiores e mais belas transformações acontecidas entre os séculos 20 e 21, que é a posição condenatória da sociedade em relação ao tabagismo.
Esfumou-se a falsidade de todo o glamour sobre o fumar criado pela publicidade da indústria fumageira, tendo principalmente o cinema de Hollywood como seu grande propagador.
Por
isso,
ultimamente, vendo algum filme antigo — daqueles que assistia na adolescência
ou
na
juventude
—
com
belas
mulheres
e
galãs,
mocinhos
e
vilões
empostados
a
fazer
fumacinha, tudo me parece comédia,
mesmo
em história dramática. Que coisa ridícula
faziam.
E pensar que, aqui e em todo o mundo ocidental, gerações e gerações
— de
gente
ignorante
a
letrados
—
levaram
a
sério
o “fica bem” fumar, o “é elegante” o cigarro na boca e aspirar a fumaça para dentro dos pulmões.
Quase todo mundo achava isso bacana, na minha geração. Professores havia que davam suas aulas com cigarro entre os dedos, embora entre os próprios tabagistas corresse o dito de que o cigarro era um cilindro de fumo com uma brasa numa ponta e um idiota na outra...
Ah, ainda havia os charutos e os cachimbos...
Vivi anos na vizinhança do cigarro. Eventualmente,
fumava
sem
engolir
fumaça.
De uma feita, fui presenteado com um cachimbo
e,
vez
ou
outra,
o
usava.
De
bom,
apenas
o
odor
do
fumo
na
embalagem,
pois
logo
se esvaía
no
fornilho,
inundando o ar de mau cheiro. Hoje, tudo me parece risível.
Vexatório.
Pouco convivo com gente que ainda não conseguiu sua custosa e difícil carta de alforria do tabaco. Fora isso, minha tolerância com o fumo acabou num voo da Varig de São Paulo a Porto Alegre,
em
1978,
quando
inconsequentes fumadores deixaram irrespirável o ar no interior
de
toda
a
aeronave.
Bem, se o trágico ainda não motiva muitos fumantes a largar o cigarro, quem sabe se deixem tocar pelo ridículo.
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