6/12/2010
Almiro Zago
Poucos sábios, ao longo da história, puderam ostentar um nome que bem dissesse da grandeza, do prestígio de seu portador.
Desiderius Erasmus von Rotterdam (1466-1536) decerto foi um deles. Não acham?
Pois, dizia o humanista e teólogo holandês que “a primeira fase do saber é amar os nossos professores”; e que “o amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento”.
A despeito das belas ideias de Erasmo de Rotterdam, na maior parte desses cinco séculos que dele nos separam, deram-se as relações escolares com a franca subordinação do aluno. E mais: sob severidade disciplinar e castigos aos transgressores.
Não saberia imaginar que tipo de relação afetiva se teria podido desenvolver em clima autoritário entre mestres e estudantes em favor do saber que, não obstante, era alcançado.
Se falarmos em Brasil, não seria exagero reconhecer que aquela dureza de ambiente escolar vingou até os anos 30 e 40 do século passado, se não me engano.
Depois, ao curso do tempo, sedimentou-se um clima de democratização na escola, desaparecendo o exacerbado rigor daqueles que ensinavam. Alguém poderia perguntar se os professores passaram a ser amados por seus alunos nessa nova fase, ou se, em algum grau, desenvolveu-se o amor recíproco entre quem aprendia e quem ensinava, segundo o monge Erasmo.
Quem sabe, nos digam alguma coisa as sucessivas gerações de mestres e estudantes que, desde então, passaram pela escola. Sobreviventes, ainda, não faltam.
Mas para consideráveis grupos das gerações que hoje frequentam os bancos escolares, a julgar pelos noticiários da mídia, inclusive das páginas policiais, falar de amor e respeito aos professores parece coisa de outro planeta.
De minha parte, vivo sentida inconformidade, pois sempre cultivei respeito e admiração pelos meus professores, a começar pelas professoras do primário.
Como pôde nossa sociedade ter chegado ao ponto de vê-los acuados, desrespeitados, agredidos fisicamente em sala de aulas por seus alunos?
Pior, como é que temos tido tantas famílias (?) criando filhos tão problemáticos, indisciplinados e sem limites, destituídos de noções de civilidade, carentes das mínimas condições de respeitosa convivência? A resposta, eu não a tenho, mas aposto que os pais a conhecem muito bem.
Soa ignominioso tudo isso, já que os mestres deveriam estar entre as mais prestigiadas e queridas figuras do meio social por tudo o que representam.
Depois, pensemos na contradição: qualquer um de nós que tenha progredido na vida, às vezes alcançando as melhores atividades ou cargos bem remunerados, na iniciativa privada ou no serviço público, passou antes pela escola. Claro, auferindo conhecimento ministrado pelos professores.
Mas aos mestres, sem cujo esforço ninguém lá chegaria, têm sido reservados mesquinhos vencimentos. Por certo, isso ajuda a entender a razão pela qual, a cada ano, vem caindo de maneira preocupante o interesse de estudantes pela carreira do magistério.
Nem vou perguntar se na escola atual há quem ame seus professores. Talvez, no momento, eles mais não aspirem do que o prosaico respeito.
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