Almiro Zago
"Sim, uma festa,
mas não seria a verdade toda,
como o tempo revelaria."
Fora
uma coisa incomum, mas a única não seria daquela noite, a ideia de meu pai
levar os dois filhos menores, meu
irmão e eu à Missa do Galo. E à meia noite, na Catedral, o que dava mais
fascínio. Aquilo me encheu de alegria, daquela alegria que só crianças sentem por pequenas coisas. E lá
fomos; entusiasmados, os meninos, contido, o pai. Noite linda, e Caxias ainda
permitia admirar o céu estrelado. Ah, sendo a noite de Natal, quem sabe
aparecesse a Estrela de Belém que guiara os reis Magos.
Nem
sentimos a caminhada e quase sem notar nos vimos subindo as escadarias da Catedral. Pelo oeste, lado por onde minha mãe sempre nos conduzia. Tudo era
motivo de atração, afinal, vivíamos a
infância, eu aos oito anos e meu irmão aos dez. As luzes da cidade ainda nos empolgavam, pois nem fazia muito
que deixáramos a vida da colônia
Entramos
cedo ainda na igreja. E a curiosidade logo nos levou a admirar o presépio, um
lugar encantado representando a gruta de Belém,
a manjedoura com o Menino Jesus, as doces figuras de Maria e José, os reis Magos. Em
torno, as vaquinhas, as ovelhas e os
pastores completando a cena bucólica.
No
templo repleto, “Noite Feliz” e outros cânticos, como nunca escutara antes,
enchiam a atmosfera de emoção. Ao
começar a missa, eu, talvez de boca aberta,
olhava e olhava lá para frente,
curioso, para ver o galo. Ele cantaria?
Mas
só se via o padre e o sacristão. O galo não apareceu, nem seu canto foi ouvido.
Decepcionante.
O
sono já emitia seus sinais, quando tudo
terminou. Saindo da Catedral, meu pai nos levou pelo lado contrário ao que
deveríamos seguir rumo à nossa casa, para surpresa minha e deu meu irmão.
Iria
ele comprar alguma coisa para nós? Passamos na frente do Varejo Eberle com suas vitrinas iluminadas, mas fechado àquela hora. Lá nem
haveria coisas para crianças. Depois, quem trazia dos presentes de Natal era o
Jesus Menino, embora a gente já não acreditasse. Papai Noel nem era nosso
conhecido.
E
os dois guris intrigados com o que
estava acontecendo, até que o pai
atravessou a rua e passamos a descer a
Borges de Medeiros, que levaria para os lados do estádio do Juventude.
Foi
aí que ele explicou. Havia-se enganado, pois tomara o lado errado ao sair da
igreja, mas logo iríamos alcançar aquele que deveria ser o nosso caminho.
Fomos
andando por vias pacatas, com pouca luz até alcançarmos um trecho de rua com
bastante claridade, muita gente parada, — só homens —, em grupinhos,
conversando, rindo, na frente de um casarão de grandes portas abertas. Lá
dentro, havia mulheres também. Dançavam num ambiente de luzes coloridas, e a
música soava muito estranha aos meus ouvidos.
Perguntei,
e meu pai disse que aquilo era uma
festa.
Sim,
uma festa, mas não seria a verdade
toda, como o tempo revelaria.
Pois
já estava crescidinho quando descobri que, tendo meu pai errado o caminho, acabamos por passar no centrinho da zona do
meretrício.
Ah,
e a música estranha, um tango argentino.
***
P.S:
A você leitora, leitor o meu afetuoso abraço. E a esperança de que as Festas de
Natal ofereçam doce alegria e paz. E esperando que 2012, mesmo passando muito
apressado, lhe proporcione
felicidade e bem-estar. Ah, claro, sem esquecer uma dose de paciência
para seguir acompanhando meus textos.
3 comentários:
Belo texto. Um abençoado natal ao amigo e toda a sua família. Um ano novo com muita saúde e paz!! :)
Acompanhar seus textos não exige paciência,pelo contrário,oferece rotineiramente prazer e aprendizado
Candice e Manuel Santi Rocha
Feliz Natal
E parabéns por seus textos, que nos proporcionam sempre um olhar sensível e talentoso
Carlo
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