segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O insólito numa noite de Natal


Almiro Zago

"Sim, uma festa, mas não seria  a verdade toda,  
como o tempo revelaria."

Fora uma coisa incomum, mas a única não seria daquela noite, a ideia de meu pai levar os dois filhos menores,  meu irmão  e eu  à Missa do Galo.  E à meia noite, na Catedral, o que dava mais fascínio. Aquilo me encheu de alegria, daquela alegria que  só crianças sentem por pequenas coisas. E lá fomos; entusiasmados, os meninos, contido, o pai. Noite linda, e Caxias ainda permitia admirar o céu estrelado. Ah, sendo a noite de Natal, quem sabe aparecesse a Estrela de Belém que guiara os reis Magos. 

Nem sentimos a caminhada e quase sem notar nos vimos subindo as escadarias   da Catedral. Pelo oeste, lado por onde  minha mãe sempre nos conduzia. Tudo era motivo de atração, afinal,  vivíamos a infância, eu aos oito anos e meu irmão aos dez. As luzes da cidade  ainda nos empolgavam, pois nem fazia muito que deixáramos a vida da colônia

Entramos cedo ainda na igreja. E a curiosidade logo nos levou a admirar o presépio, um lugar encantado representando a gruta de Belém,  a manjedoura com o Menino Jesus, as doces figuras  de Maria e José, os reis Magos. Em torno,  as vaquinhas, as ovelhas e os pastores completando a cena bucólica.

No templo repleto, “Noite Feliz” e outros cânticos, como nunca escutara antes, enchiam a atmosfera de emoção.  Ao começar a missa, eu, talvez de boca aberta,    olhava e olhava lá para frente,  curioso, para ver o galo. Ele cantaria?

Mas só se via o padre e o sacristão. O galo não apareceu, nem seu canto foi ouvido. Decepcionante.
 
O sono já emitia seus  sinais, quando tudo terminou. Saindo da Catedral, meu pai nos levou pelo lado contrário ao que deveríamos seguir rumo à nossa casa, para surpresa minha e deu meu irmão. 

Iria ele comprar  alguma coisa para nós?  Passamos na frente  do Varejo Eberle com suas vitrinas  iluminadas, mas fechado àquela hora. Lá nem haveria coisas para crianças. Depois, quem trazia dos presentes de Natal era o Jesus Menino, embora a gente já não acreditasse. Papai Noel nem era nosso conhecido.

E os dois guris  intrigados com o que estava acontecendo, até que o  pai atravessou a rua e passamos a descer a  Borges de Medeiros, que levaria para os lados do estádio do Juventude.

Foi aí que ele explicou. Havia-se enganado, pois tomara o lado errado ao sair da igreja, mas logo iríamos alcançar aquele que deveria ser o nosso caminho.

Fomos andando por vias pacatas, com pouca luz até alcançarmos um trecho de rua com bastante claridade, muita gente parada, — só homens —, em grupinhos, conversando, rindo, na frente de um casarão de grandes portas abertas. Lá dentro, havia mulheres também. Dançavam num ambiente de luzes coloridas, e a música soava muito estranha aos meus ouvidos. 

Perguntei, e meu pai disse  que aquilo era uma festa.

Sim, uma festa, mas não seria  a verdade toda,  como o tempo revelaria.

Pois já estava crescidinho quando descobri que, tendo meu pai errado o caminho,   acabamos por passar no centrinho da zona do meretrício.

Ah, e a música estranha, um tango argentino.

                                                            ***

P.S: A você leitora, leitor o meu afetuoso abraço. E a esperança de que as Festas de Natal ofereçam doce alegria e paz. E esperando que 2012, mesmo passando muito apressado,  lhe  proporcione  felicidade e bem-estar. Ah, claro, sem esquecer uma dose de paciência para seguir acompanhando meus textos. 

3 comentários:

Suziley disse...

Belo texto. Um abençoado natal ao amigo e toda a sua família. Um ano novo com muita saúde e paz!! :)

Anônimo disse...

Acompanhar seus textos não exige paciência,pelo contrário,oferece rotineiramente prazer e aprendizado
Candice e Manuel Santi Rocha

Anônimo disse...

Feliz Natal
E parabéns por seus textos, que nos proporcionam sempre um olhar sensível e talentoso
Carlo