quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

abril de 2007

terça-feira, 24 de abril de 2007

ERA UMA VEZ, HÁ UM ANO ATRÁS...

Camila Canali Doval

Hoje tenho uma história para contar a vocês. Uma história que começou há um ano atrás, nesta mesma época, em uma grande metrópole chamada Porto Alegre. Uma cidade realmente grande, mas não tão grande quanto todo mundo fica imaginando por aí, pois ela foi capaz de unir, lá no seu coração, em um pequenino lugar chamado Centro Cultural Erico Veríssimo, nove pessoas muito interessantes, que não tinham absolutamente nada em comum a não ser o fato de serem realmente muito interessantes.

De que será feita uma amizade? Quais serão os elementos necessários para que duas pessoas se conheçam e se encantem uma com a outra, de tal forma que se torne indispensável e indescritível a sua convivência? E um grupo? De que é feito um grupo de amigos? O que é mágico e poderoso o suficiente para unir pessoas tão diversas entre si? O que faz com que AQUELES olhares se cruzem entre tantos olhares, AQUELAS vozes se chamem entre tantas vozes e AQUELAS almas se reconheçam entre tantas almas?

Como eu ia dizendo lá no começa desta história, nesta mesma época, há um ano atrás, um insólito grupo começou a se formar. Digo insólito, pois não há nada de comum nestas pessoas. Quero dizer, as pessoas até que são comuns, são pessoas como tantas outras que vemos e conhecemos pelas ruas da capital gaúcha. O insólito, o surpreendente, o inimaginável, é que elas andem juntas, bem juntas, como se fossem uma banda de rock, um time de basquete ou um grupo de beatas da paróquia do bairro. Ora, ao nos depararmos, em uma metrópole como Porto Alegre, com uma banda de rock ou com um time de basquete ou com o grupo de beatas da paróquia do bairro, sabemos exatamente quem são e compreendemos na hora porque estão juntos. Já o grupo que protagoniza esta história não. Eu afirmo que, se você esbarrasse com eles em um barzinho chamado Santíssimo, por exemplo, comendo quiches e conversando sobre a vida, totalmente alheios ao telão que transmite o jogo do Internacional, poderia morrer tentando, mas não descobriria qual o elo que os faz sentar na mesma mesa e agirem com tamanho desprendimento, interagindo como se se conhecessem há tempos imemoriais.

Almiro, Américo, Camila, Isabel, Karen, Luciane, Marco e Walter. Um anúncio de uma Oficina de Crônicas, ministrada pelo Walter Galvani, no Centro de Cultura CEEE Erico Veríssimo, há um ano atrás. E então, cada um de uma forma, cada um de um lugar, cada um com seu objetivo efetuaram a sua inscrição. Sabe-se lá o que cada um pretendia com aquilo. Sabe-se lá que sonhos, que desejos, que ansiedades, que pretensões, que exorcismos cada um pretendia ao juntar-se ao grupo ainda sem nome, ainda sem rosto, ainda sem forma definida, ainda sem razão de ser.

E o tempo e os encontros semanais passaram um por um. Em cada quarta-feira, algo novo se revelava. Em cada crônica, algum detalhe se apresentava. Um medo aqui, uma mágoa ali, uma saudade acolá. Uma vontade represada, uma alegria descontrolada, uma fome de sei-lá-o-quê. E a necessidade que não havia - pois ainda não se conhecia - começou a brotar como uma semente em cada um daqueles férteis corações.

De repente, eles precisavam estar lá naqueles dias. De repente, eles precisavam escrever todos os dias. De repente, eles precisavam riscar, rabiscar, arriscar, ler, ouvir, ler mais alto, corrigir, refazer, ler de novo, trocar, confidenciar, relatar, opinar, consolar, ilustrar, criar, recriar, gritar em palavras escritas todos aqueles sentimentos abundantes e desorganizados que habitavam suas cabeças. De repente, eles precisavam um do outro para manifestar suas mais fantásticas expressões, para guiarem-se mutuamente no árduo e delicioso caminho da escrita, para apoiarem-se durante as crises, para experimentarem o novo, para assustarem-se com os erros, para vibrarem com os acertos, para darem empurrõezinhos, para cobrarem as faltas, para incentivarem sem parar uns aos outros, para crescerem, crescerem, crescerem como loucos, para todos os lados, de todos os jeitos, para andarem pelas ruas de Porto Alegre e todo mundo ficar olhando e pensando que coisa boa aquele grupo ali, tão parecido, tão diferente, tão tudo de bom, que vontade de ser um deles, de curtir a vida assim que nem eles, de ter o dom de escrever a vida, de registrar o mundo, bom ou mau, belo ou feio, do jeito que for, pois escrever é eternizar, é guardar para os próximos o que somos, é não esquecer o que somos, é reavaliar o que somos a todo instante, é ser o que somos para quem quiser ver - ou ler.

Hoje nós somos os Mecânicos da Palavra. E vocês?


segunda-feira, 9 de abril de 2007

48 HORAS NA CIDADE MARAVILHOSA

Karen Scopel

Conhecer o Rio de Janeiro em apenas um final de semana foi um desafio maravilhoso, tanto quanto a cidade que faz jus ao título que recebe. Foi impossível visitar todos os pontos turísticos e participar das inúmeras atividades culturais oferecidas. Será preciso voltar e permanecer por lá umas duas semanas para explorá-la, senão por completo, pelo menos com mais calma. A maratona foi grande, mas não diminuiu o brilho da viagem.

Como não havia tempo a perder, algumas horas após a chegada, na noite de sexta-feira, conhecemos (eu, meu marido e alguns amigos) a Lagoa Rodrigo de Freitas, onde vários bares com música ao vivo servem comidas e bebidas para os mais diferentes gostos. Dali mesmo, já é possível admirar uma das imagens mais marcantes e conhecidas do Rio, o Cristo Redentor, que fica no alto do Morro do Corcovado, a mais de setecentos metros de altura, e que iluminado fica ainda mais bonito.

A chuva não dava o ar da sua graça a mais de três semanas na Cidade Maravilhosa e o sábado amanheceu nublado e com mormaço. Isto não atrapalhou o passeio, mas frustrou a ida à praia e o banho no mar de Copacabana. Se bem que, Copacabana está poluída e não é aconselhável que se tome banho naquela região. Assim, uma caminhada pelo calçadão foi a atividade turística da manhã e foi aí que a realidade que acompanhamos pelos jornais e televisão tomou forma. Presenciamos um protesto contra a violência, em que mais de setecentas cruzes foram "plantadas" na areia da praia representando o número de mortos por assassinatos no Estado do Rio de Janeiro, desde o primeiro dia do ano até aquele dia, dezessete de março.

Ao passear por alguns bairros, como Ipanema, Leblon e Barra da Tijuca, é possível ver, por quase todos os lados, as favelas desafiando as leis da arquitetura e formando um mar de gente com suas casinhas, onde antes deve ter havido muito verde. Mesmo assim, ainda há muitas áreas arborizadas e regiões de Mata Atlântica preservada. A subida para o Cristo pela Floresta da Tijuca, uma destas áreas de preservação, é linda, a vista da cidade vai ficando cada vez mais bonita e quando se chega aos pés da estátua há o deslumbramento. São as famosas imagens dos cartões postais, não há como não se emocionar ao ver tanta beleza. Vai anoitecendo e um passeio de bondinho no Pão de Açúcar, com a cidade se iluminando aos poucos e a chuva brindando nossa passagem, marca o fim de um dia ensolarado, mesmo que o sol não tenha aparecido.

A noite carioca é bastante movimentada e o bairro boêmio da Lapa foi o destino escolhido. São muitas as pessoas pelas ruas, há congestionamentos de carros e de pedestres. A maioria dos bares, restaurantes e casas de shows ocupa casarões antigos. Fomos conhecer o Rio Scenarium, um casarão de três andares decorado apenas com artigos de antiquários. Para quem, como eu, adora antiguidades, foi um presente para os sentidos, parecia uma viagem no tempo. Para completar, a música ao vivo não poderia ser outra, samba, no melhor estilo, bom de se ouvir e de dançar, ou melhor, sambar.

Ainda tivemos tempo de conhecer o Forte de Copacabana, que além da importância histórica, proporciona uma linda vista para as Praias do Arpoador e de Copacabana. Não poderia faltar também, uma caminhada pelo calçadão de Ipanema e um banho de mar.

Foram 48 horas inesquecíveis, que nos mostraram um Rio de Janeiro diferente do que temos visto ultimamente nos noticiários, parecendo-se mais com a cidade mostrada nas novelas do horário nobre. A violência existe e, infelizmente, está presente no dia-a-dia de todos, moradores e turistas, para alguns mais e para outros, menos. Trata-se de uma situação difícil de ser revertida, e isto pode-se perceber com uma conversa rápida com um motorista de táxi, por exemplo, que fala da polícia e dos traficantes sem fazer distinção, parece que não há diferença entre os que deveriam ser "os mocinhos" e os que são bandidos. Existe, sim, a realidade do tráfico, da corrupção e dos tiros trocados entre os grupos rivais. Porém, mesmo com esta realidade, valeu a pena. Como diz a música, "o Rio de Janeiro continua lindo".

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