quinta-feira, 25 de outubro de 2007
PENDURADO EM UM GALHOZINHO
Karen Scopel
Ele floresceu. De manhã bem cedo ela estava lá, branca, delicada e perfumada, enchendo os seus olhos com suas pétalas de seda e invadindo o pequeno quarto com seu perfume. Estas pequenezas sempre o deixaram feliz. Desde que havia se mudado para aquele mundo tudo o que fazia era acompanhar o desabrochar do pequeno pé de Jasmim. Seu quarto era claro, ensolarado pela manhã e com um pequeno jardim particular, mas ao cruzar a porta e entrar no corredor tudo se tornava cinza.
O dia em que seu filho o deixou ali e se foi, ele pensou que morreria, que o ar sombrio do lugar, disfarçado que estava em paredes coloridas e seus quadros de paisagens, o sufocaria e o deixaria livre.
¾ Sim, estou bem. Não sei se vou me acostumar. Vou tentar. Até logo.¾ Era o que respondia às inúmeras perguntas que o filho lhe fazia ao telefone uma vez por semana. Seus pensamentos o confundiam, ora queria gostar, ora odiar, lhe parecia que apenas no meio destes conflitos sentia-se vivo.
Aquela manhã foi diferente, a pequena flor o observava dependurada em seu galhozinho frágil, como se o convidasse a estar ali a admirá-la. Com o passar dos dias, enquanto uma florzinha murchava outra ia se abrindo, tudo parecia menos triste, até as paredes adquiriram mais cor.
¾ As flores não duram para sempre.¾ foi o que disse ao ver a última florzinha no Jasmim, a única que ainda não havia despencado lentamente de encontro ao chão. Foi ao guarda-roupas, retirou de lá seu terno, vestiu-o com certa dificuldade, olhou-se no espelho e dirigiu-se então até a planta, retirou a pequena flor com todo o cuidado e apesar das mãos trêmulas ajeitou-a no bolso do paletó, há muito tempo não se sentia tão bem. Sentou-se em uma cadeira de frente para o Jasmim, fitou-o agora, desnudo de suas flores, mas ainda verde, muito verde, e como um pequeno galhinho seco foi caindo, não sentia dor, sentia apenas o perfume.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
"Muitas e muitas vezes, em nossa atividade jornalística e ou literária, enfrentamos o inesperado e agradável encontro com o talento. É preciso saber reconhecê-lo, seja no jovem que recém abre as asas para o primeiro vôo, seja no veterano que pratica o melhor de um nível que talvez nem suspeite haver atingido.
Almiro Zago, um deles. Um veterano, poderíamos dizer, longamente entregue a outras atividades e que me surgiu como aluno (e no entanto, o quanto aprendo com ele!) numa oficina de escrita criativa em que os formandos se autodenominaram mecânicos da palavra. Criaram até um blog do grupo, onde, vez por outra surgem maravilhas como este poema ("Entardecer" incluído nesta coletânea) do meu aluno revelação.
(
...)Almiro Zago, por certo no outono da vida como seu professor (preferiria dizer companheiro de aprendizagem) ainda nos terá muito para dar."
Eis o poema "Entardecer" do Almiro Zago, incluído no livro "Mínimas Confissões":
"Vem
vamos revisitar
antigos outonos
com a sonata do vento
a soprar aromas
e sentir o que fomos.
Vem
a estação ainda demora
vamos de mãos dadas
andar sobre as folhas caídas
pelos caminhos de outrora.
Ao pôr-do-sol
das vinhas esquecidas
uvas tardias colheremos
para suavizar a palavra
adoçar o olhar
nas horas estremecidas.
Depois
agasalhados de esperança
meias de lã verde-mate
esperemos o inverno
na varanda da memória
com chá de menta
e bolo de chocolate."
Walter Galvani
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
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