quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

janeiro de 2007

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

MÍNIMAS CONFISSÕES

Almiro Zago

Sei, dói admitir, mas todos nós, assim como os produtos da indústria, podemos trazer defeitos de "fábrica". Todavia, brutal diferença nos desfavorece: não há troca ou devolução. Nem mesmo assistência técnica. Por isso, estigmas reais ou imaginários marcam o físico e a auto-estima a vida inteira.

Eu, para começar, admito pelo menos dois desses defeitos. Acreditem, nenhum complexo de vítima me move a falar deles. Bem ao contrário, me exponho para dizer alguma coisa tipo auto-ajuda a quem se constrange por causa de pequenos defeitos de origem, pois com os outros não se brinca. E, acima de tudo, garantir que é possível ultrapassar os sessenta anos com eles, ou apesar deles.

O meu primeiro defeito de "fábrica" soou o sinal quando vivia entre os três e os quatro anos, caroneiro de uma dor de cabeça, bem ao anoitecer de um domingo. Era um zumbido vago, disperso entre o grave e o agudo no ouvido esquerdo. Ao correr dos anos, assumiu-se como cigarra ao longe, desafinando ao ataque de gripes e resfriados. Vencido na competição sonora, é no silêncio que ele se revela. Aceito que alguém duvide, mas seja lá onde for que me encontre, nem importa o fuso horário, todas as noites ao descansar a cabeça no travesseiro lá vem a "hora de arte". Desse jeito ao invés de um concerto, sonata ou sinfonia, o som da minha vida é a cigarrinha que tem sobrevivido a todos os invernos, desmentindo antiga fábula. Agora, o meu lado marqueteiro acha que devo registrar esse "canto" em CD/DVD, revertendo em dinheiro esse azar do destino.

Já o outro defeito de procedência, bem ao contrário do primeiro, é visível e silencioso, embora sempre por mim ignorado. Só que, de trinta em trinta anos, vem alguém me lembrar que ele existe e sugerir um modo de camuflá-lo. Da primeira vez, tinha eu a idade de Cristo, quando em meio a uma conversa, um amigo me disse: "Por que tu não pede ao teu dentista pra fechar esse buraco no meio dos dentes debaixo?" Desconfiei que algum perdigoto o tivesse atingido, daí a sugestão direta, ainda que disfarçada de pergunta.

Mas, agora, passados trinta anos, outro amigo remexeu a ferida, cuidando, antes, de alisar o meu ego:

- Escuta, tu és um cara elegante, não ficas bem com essa abertura nos dentes. E passou-me o nome de um bom dentista que bem saberia fechá-la.

Fingi concordar, mas fiquei sem jeito por que ele trouxera à luz do dia algo que há muito habitava as sombras do esquecimento, a despeito do espelho e da escova dental. A gente só vê o que quer, não é mesmo?

Além do mais, por que preocupar-me com a porteirinha nos dentes, que, afinal, não chega a ser uma porteira de estância, se tenho outras urgências, como um implante de cabelos, por exemplo? ( Ih, estou entregando outro defeito.) Ninguém me fala da insidiosa calvície, devastando cada vez mais extensas áreas do meu couro cabeludo. E que, logo, me fará um deficiente capilar. Nem ilusões tenho porque em 30 anos, apenas dois amigos tenham-se animado a denunciar a porteirinha. Até imagino quantos teriam desejado falar e lhes faltou coragem... Ora, atravessei a adolescência sem tomar conhecimento dessa abertura e nunca soube que alguma guria, daquelas que não me davam bola, me tenha repelido por causa dela. Hoje, não tem graça fechá-la. E, depois, não seria ela o símbolo da minha hospitalidade?


segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

SAPIÊNCIA

Isabel Cristina CCarvalho

O criador de nossa realidade é sábio.

Nos proporciona em sete dias algo semelhante ao que ele proporcionou para si mesmo: oportunidade de criação, realização e descanso e parece que isto em nossa realidade acontece entre um Natal e Um Ano Novo!

Nunca vivemos e externamos tantos momentos de reflexões, carinhos, emoções, sensibilidades, afetos, delicadezas e atitudes de amor em tão pouco tempo neste século. Mas também externarmos como nunca sentimentos nunca antes experimentados, como pedras sensíveis ou insensíveis, deslocadas ou desencontradas de tantos outros sentimentos já decodificados pela humanidade.

E nos perguntamos: que sentimento é este que nos cria uma situação embaraçosa por não sabermos se ele existe e se existe, como podemos classificar?

Parece o juízo final.

Seria esta semana, entre Natal e Ano Novo, o purgatório do catolicismo?

Uma semana compressora e distensora, depende dos merecimentos de cada um. E o criador é generoso, diplomático e humilde: apenas cada um saberá sobre cada mensagem que chegará ao seu coração, de alguma maneira pessoal e intransferível: por ajuda, por caridade, de navios, aviões (se os controladores se organizarem) pela internet, por telefonia móvel, e-mail, orkut, chat, messenger, icq, mirc (ops, existe ainda?) fax, skype, i-pod , e sei lá mais o que puder!
Nunca vivenciamos um Natal de tantas luzes "desapagadas" como neste Natal de 2006, embora tantas realizações validem o ano.

Muitas pessoas não conseguem explicar tanta neste momento, que por si só já merece todas as luzes, homenagens e carinhos de todos ...mas por um sentimento novo experimentado por nós brasileiros.

Mas porque somos um país jovem e nativo nas emoções , nas experiências do mundo e no entendimento da oportunidade que nos é concedida em sete dias que espero que possamos entender situações que nos rodeiam.

Espero que possamos ser como uma pombinha que nem tem muita estrada no horizonte mas que levanta a perninha num ato de decisão e coragem e segue em frente.

Que 2007 nos conduza a lugares nunca dantes navegados!

Ok! Zarpar!

Obs: Crônica contemporânea acoplada à mídia !

"Quando uma pomba não consegue mais voar pela poluição do ar ou pela da trajetória em nome do progresso ...esta pomba tem mais é que marchar!"


segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

VAMBORA PRA 2007

Camila Canali Doval

2006 foi um ano como todos os outros: cheio de altos e baixos. É claro que alguns anos são mais marcantes que outros, com um e outro fato fora do comum para destacá-los, para torná-los positiva ou negativamente especiais em nossa existência. Mas, às vezes, de quando em quando, lá pelas tantas, acontece alguma coisa capaz de tornar um ano inesquecível. Eu sinto, sinceramente, que 2006 será um deles.

2006 já é o ano em que me formei. A festa, tudo bem, será em 2007, mas a luta, o empenho, a produção do Trabalho de Conclusão, a apresentação do Trabalho de Conclusão, a dor e a delícia do Trabalho de Conclusão, os estágios práticos, as notas finais, a sensação de já-era, etc etc etc... Foi tudinho em 2006.

2006 já é o ano em que participei da segunda oficina de crônicas com o Walter Galvani e conheci sabe quem? Os Mecânicos da Palavra. É, eles mesmos, esse grupinho surpreendente que aqui escreve e que formou, em 2006, uma amizade muito além das palavras, a qual certamente invadirá com tudo 2007.

Sobre 2007, nada sei. Claro, algumas previsões já se manifestaram, mas previsões são visões de outros olhos e os outros olhos nem sempre enxergam o que os meus olhos são capazes de ver. 2007 será um grande ano. Um ano difícil, um ano arriscado, um ano de passos lentos e definidores, um ano como nenhum outro jamais foi. 2007 será um ano e tanto. Senti de cara a vibração. Mas e daí? Um ano contundente sempre vale a pena. Vencer um ano difícil é sempre uma glória. Superar um desafio é sempre envaidecedor. E nada, absolutamente nada que o destino escreveu tem que obrigatoriamente ser a versão final da história. Nós que escrevemos, nós que criamos, nós que somos tudo o que queremos ser, nós que andamos livremente pela vida - pois a dominamos na ponta do lápis - sabemos que o destino dá as cartas, mas que as regras são nossas e de nada adianta sabotar a sorte de quem sabe jogar.

2006, portanto, já é um ano inesquecível, pelo menos para este espaço virtual, pelo menos para esse grupo completamente real. Os Mecânicos seguem com as mãos na graxa, apertando parafusos com sua prosa, reparando amassões com sua poesia, amaciando os motores com suas ferramentas mágicas: as palavras. E quem ainda não conhece nosso trabalho, por favor, dê uma chegada. Traga seu carro, mesmo que seja um calhambeque. Garantimos o melhor serviço da vizinhança. Queremos motores tinindo neste início de ano. Latarias brilhantes. Estofamentos "um brinco". Desempenho de zero quilômetro. Estou pagando para ver as máquinas que ainda sairão desta oficina...

E vambora para 2007, meus amigos queridos, porque um novo ano é só um novo contar de dias e o que é bom nesta vida não vê a passagem, vê apenas a permanência.


quarta-feira, 3 de janeiro de 2007


UM ROMANCE COMPLICADO

Américo Conte

A mosca e o mosquito
se apaixonaram no primeiro olhar.
Depois de um namoro conturbado
ainda se amavam e resolveram casar.

Com gostos tão diferentes
muitas concessões tiveram de fazer
e numa malcheirosa lata de lixo
com sua mosquinha, o mosquito foi viver.

Cada um bem lá no seu íntimo
achava que o outro, iria modificar.
Tudo era apenas uma questão de tempo
com jeito, amor e carinho, muita paciência e esperar.

Não sei se foi o desgaste
da convivência mútua, que se acirrou.
O fato foi que as diferenças
cada vez mais fortes, lhes atropelou.

O mosquito só reclamava, do diversificado cardápio
com que a mosca tentava lhe agradar.
E ela não se conformava, com o velho hábito
de beber sangue, que ele não se esforçava em largar.

Durante o dia, sempre muito acesa
nos chiqueiros e potreiros, ela queria passear.
Ele muito boêmio, entre serenatas, desaparecia na noite,
e só de manhãzinha , cheirando a sangue, lembrava de voltar.

Então, não houve mais jeito,
e o relacionamento deles chegou ao fim.
E o mosquito e a mosca muito magoados
culparam um ao outro, por tudo terminar assim.


DEVANEIOS DE UM SEDENTÁRIO

Américo Conte

Quando assisto a algum filme ou leio um livro em que me encanto com a história e o protagonista, fico a meditar por muito tempo sobre que bom seria se minha vida fosse assim: emocionante, dinâmica, sensível e cheia de predicados com os quais as pessoas pudessem se encantar, se entusiasmar, sorrir e chorar, a se identificar e solidarizar comigo nos tramites destes empreendimentos. Entretanto, depois abstraio-me na idéia de que talvez não seria bom desperdiçar toda uma existência em apenas um contexto ou uma história simplesmente, por mais bela e singela que fosse. Não me contentaria em gastar minha vivência em somente um enredo. Gostaria que ela fosse como vários livros e muitos filmes, e que minha participação tivesse tantas aventuras, romances e deslumbres com uma fartura diversificada de situações que colocassem em êxtase todo e qualquer indivíduo que tivesse contato ou tomasse conhecimento destas peripécias, mesmo que apenas de partes destes momentos do meu cotidiano.

Todavia estremeço a minha consciência como que despertada por um balde de água fria a me recriminar pela petulância e pela ganância de pretender tantos recheios e realizações em apenas uma vida e em um só ser. E continuo minha autocrítica pelo inconformismo de que uma só história maravilhosa não me bastaria. Porém, meus pensamentos seguem voando no egocentrismo e na frustração de não poder arrebatar todas as formas de proezas e emoções em um só enlevo, onde ridiculamente enfadado prolongo minhas divagações.

Assim sendo, minha vida escoa solta e sem sentido, carregada de temores, sem a mínima eloqüência de apenas uma medíocre história duvidosa que costumamos classificar como de terceira ou quinta categoria.

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